sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Capítulo 9 do livro EXISTENCIALISMO METAFÍSICO, A ÚLTIMA FILOSOFIA

 

9 – A Filosofia Primeira: Math, Linguagem e Lógica

 

 Em termos físicos, a segunda lei da termodinâmica afirma que a entropia sempre tende aumentar. A entropia mede o grau de desordem no mundo físico da termodinâmica. A direção da entropia é da ordem para a desordem, segundo esta área do conhecimento físico. Entretanto, a natureza tem uma ordem metafisica. A entropia não poderia gerar a vida. É inconcebível ver a passagem do mundo inorgânico para o orgânico em termos de desordem. É difícil ver este princípio em termos biológicos, sociais, tecnológicos e até mesmo para outras searas da física. 

Inicialmente, não parece haver ordem na natureza para o homem. A natureza apresenta para a vida um mundo desconhecido, aparentemente um mundo caótico. Porém, o homem observa este mundo ignorado, aprende a ver padrões, como o dia e a noite, o inverno e verão, e vê que existe uma estabilidade. Os primeiros humanos usavam seus sentidos para observar galhos quebrados, pegadas, cheiros, animais e plantas. Então, percebeu padrões, repetições que levou sua inteligência a perceber o princípio universal da causa e efeito. Este princípio possibilita a previsão e estabelecer um comportamento, mesmo no mundo animal. Se ver determinado alimento, comer; se ver determinado predador, fugir. Os animais também usam a observação para caçar ou fugir, para alimentação e para copular. A natureza com seus padrões é uma escola e a vida deve observar e aprender, até mesmo para sua sobrevivência biológica. O homem e também os animais são um reflexo da natureza e isto gera um sem fim de padrões.

            Similarmente, o método científico funciona com base na observação de padrões, derivando leis naturais do princípio universal da causa e efeito. O psicólogo observa padrões em seu paciente para diagnosticar e adotar uma terapia. O sociólogo busca padrões culturais para descrever uma sociedade. O comércio adotou padrões de pesos, medidas, moedas e cabe ao economista observar estes padrões para prever o mercado. Um biólogo vê padrões da vida, um médico observa padrões de doenças. A física, a mais fundamental das ciências, estuda padrões do átomo e das galáxias no tempo-espaço. As ciências buscam ordem no aparente caos.

Enfim, todas as ciências estudam os padrões de algo no tempo-espaço. Como elas fazem o estudo destes padrões? Com padrões físicos, com significantes físicos, mas com significados metafísicos. A linguagem natural e a linguagem matemática são códigos compartilhados (físicos-significante), padrões dotados de significado que a comunidade entende. O significado das palavras, frases, números e equações são metafísicos. Isto significa que os aspectos físicos das linguagens são apenas formais, arbitrários e não têm quaisquer relações com o significado. Retirados o suporte físico-biológico da linguagem, fica o significado metafísico. Por exemplo, a palavra “cachorro” (escrita ou falada) são letras e sons escolhidos e juntados por convenção, sem qualquer relação direta com o animal em si, compartilhada entre as pessoas que falam português. Tanto é que pessoas de outros idiomas não entendem a palavra cachorro em português. Assim, a palavra cachorro está na memória ou mente, uma base metafísica, dos falantes em português. 

Estas linguagens humanas, seja um idioma qualquer ou a matemática, nos permite comunicar, informar, conhecer, representar e modelar a realidade. Ela constrói um mundo interior, um mundo metafísico. O uso da linguagem nos conduziu a uma evolução exponencial através da preservação e transmissão do conhecimento. Com o avanço tecnológico, a escrita tornou mais popular e com a velocidade cada vez maior em todo planeta. O mundo hodierno permitiu a todos escrever um turbilhão de informações. Porém, cabe a cada um separar as informações úteis para construir seu conhecimento, sua sabedoria e a sua verdade.

O homem vive em sociedade e com ela se inter-relaciona. Usa a comunicação para interagir e integrar com seus membros. Socialmente, somos o que falamos. Indivíduos se comunicam para manter integrados ao seu grupo social e se não comunicam, não estão integrados, mas apenas reunidas e não formam uma comunidade. Como diria o velho guerreiro Chacrinha: “quem não se comunica se trumbica”.

A comunicação envolve alguém que envia uma informação para outrem. Em linguística, um emissor que envia uma mensagem para um receptor. Tal comunicação pode ser feita de várias formas: pela linguagem, mímica, olhar, gestos, telex, sinal de fumaça, como faziam antigamente os índios, e por e-mail, como fazem modernamente a sociedade. A linguagem tornou-se o mais comum e eficaz instrumento de comunicação. A partir do conhecimento das regras (ortografia, morfologia, sintaxe e semântica), a linguagem falada ou escrita permite a participação do indivíduo no processo de comunicação de um determinado grupo. Isto nos leva a identidade científica, religiosa, social, linguística, jurídica, cultural, a depender de qual grupo façamos parte.

Apesar da referência ao órgão bucal, estudiosos da linguística não têm uma definição para língua e linguagem. Esta tem um aspecto pragmático, enquanto aquela, abstrato. A língua depende de concepções de sujeito, texto e sentido, mas costuma-se atribui-la como um sistema de signos, regido pelas variáveis fonéticas, morfológicas, sintáticas e semânticas. A linguagem pode ser conceituada como: uma das formas de apreensão da realidade; uma faculdade mental para representar estados mentais; uma forma de comunicação, entre outros.

Quando pensamos num fato ocorrido em nosso trabalho, estamos criando em nossa mente outra realidade. Uma realidade virtual, paralela e longe do fato que aconteceu fora de nossa mente, mas sim em nosso trabalho. Todos percebem o fato da mesma maneira. Entretanto, cada pensador tem um sistema particular de valores. O mundo que pensamos é um simulacro do real que passa pelos filtros e valores de cada um. Esse mundo (universo paralelo), que existe na mente do homem criado pela linguagem, é o que chamamos de visão do mundo. Já dizia o filósofo austríaco, Ludwig Wittgenstein: os limites de minha linguagem são os limites do meu mundo. O limite da ciência é o mundo da matéria.

As palavras criam conceitos que ordenam a realidade, categorizam e classificam o mundo. A linguagem é, assim, uma forma de apreender aquilo que existe. Cria-se uma nova palavra para denominar outra realidade. Por isso, uma língua interpreta e ordena o mundo. O pensamento é a capacidade de construir representações das coisas com as palavras. Ele classifica a realidade e a interpreta. Nessa função organizadora, ele não existe fora dos quadros da linguagem. Esta condiciona a realização do pensamento, pois este não pode ser captado a não ser pela linguagem. Fora dessa maneira, o pensamento é o nada ou algo vago.

A linguagem liga o homem à sociedade e à natureza. Com ela o homem retrata a si mesmo e a realidade, dando-lhe poder. Língua é, numa palavra, signos. Com eles, o homem pensa, trabalha, ensina, identifica a sua cultura, seus próximos e a si mesmo. Com ele visualiza o passado, presente e futuro. Enfim, dá sentido ao mundo e a si mesmo. A construção do conhecimento faz-se pela representação da realidade. A linguagem dá forma a esta representação. Seja ela usada pelas religiões, filosofia, ciência ou artes.

Todas as linguagens envolvem as palavras e suas interações para formar um significado. Estas interações têm regras e estão a cargo das gramáticas e do uso pelos populares. Similarmente, a base do pensamento são conceitos (ideias) e suas interações. Estas passam por regras para formar uma verdade, uma conclusão. Conceitos e interações também são bases das filosofias, das religiões, das ciências, das artes, da medicina, da engenharia, do direito, enfim, de todo conhecimento. As interações entre os conceitos passam por regras e vão produzindo resultados, conclusões e significados.

Os significados representam objetos, sentidos ou ideias abstratas. Na ordem direta da frase (sujeito-verbo-objeto), o sujeito e o objeto de qualquer frase contêm significados em interação. Os verbos promovem a interação destes significados e podem ser de ação e de estado. Os verbos de ação descrevem as interações do sujeito e do objeto da oração. Os verbos de estado descrevem algo no sujeito que permanece no tempo. Esta permanência é finita no mundo físico, enquanto a permanência pode ser infinita no mundo metafísico, a exemplo da matemática. As flexões verbais e os advérbios de tempo-espaço diluem o tempo-espaço da física, pois podemos ir 1000 ou mais anos no futuro ou no passado. Quando falo, daqui a mil anos a humanidade estará evoluída espiritualmente, este salto no tempo não existe na física, mas sim na linguagem, uma ordem metafísica.

Dispensado o suporte biofísico do significante, as linguagens não possuem substância quanto ao significado. Ou seja, elas são puramente mentais. A escrita e a fala são representações da realidade e não a realidade em si. Uma foto de uma árvore não é uma árvore, mas apenas uma foto. A palavra escrita ou falada “árvore” não é a árvore em si, mas apenas traços ou sons padronizados que representam uma árvore. Esta ideia exclui a materialidade das linguagens e nos leva a ideia da metafísica para as linguagens. Igualmente, esta natureza metafísica ocorre na lógica e na matemática. Isto resulta em natureza comum. Apesar da natureza metafísica da linguagem, ela interage com o mundo físico. Quando apontamos para uma casa e dizemos “aquela casa é de Platão”, estamos interagindo sujeito e objeto com o mundo físico. Vale dizer, estamos interagindo o físico e o metafísico. Digamos, é a linguagem aplicada.

Esta linguagem aplicada obedece a regras gramaticais. A palavra gramática de origem grega tem muitas definições. Geralmente, são tratadas como o conjunto de regras que disciplinam uma língua. Nós preferimos conceituá-la como o estudo das palavras e suas interações que passam por regras para adquirir um sentido. Tecnicamente, o estudo das palavras se refere à morfologia, enquanto o estudo das interações destas palavras se refere à sintaxe. Estes estudos estão presentes em todas as línguas. A fonética e a ortografia são apenas o estudo dos sons e da escrita correta das palavras. Ou seja, estão no estudo do vocabulário, da morfologia. Em linguística, a semântica estuda o significado produzido pelo vocabulário e pela sintaxe.

Com base nestes conceitos gramaticais, vamos conceituar linguagem como a utilização das palavras e suas interações para atingir um significado, vislumbrado pela semântica. Neste sentido, matematicamente uma frase seria: vocabulário + sintaxe = semântica. Similarmente, também poderíamos equacionar a lógica: premissa maior + premissa menor = conclusão. A lógica como sistema é as interações de proposições. Esta é apenas uma das muitas similaridades entre linguagem, lógica e matemática.

As frases ou sentenças podem ser declarativas, interrogativas, exclamativas e imperativas. As declarações, interrogações, imposições e exclamações podem ser afirmativas ou negativas. A negação é vital para a linguagem. Este Nada existencial tem relevância na linguagem.  O principal advérbio de todas as linguagens é o NÃO, do latim non. Advérbio de negação é usado para negar verbos, adjetivos, sentenças e orações. O advérbio de negação, o NÃO foi a primeira palavra de todos os povos. Há outros advérbios de negação como jamais, nunca, negativamente, mas o NÃO é o mais sintético e comum.

A negação tem papel relevante na formação da linguagem. No filme “Planeta dos Macacos: A Origem”, um macaco tem uma evolução súbita. Objeto de investigação científica, a primeira palavra que o macaco pronuncia é o “Não”. Da mesma forma, a humanidade evoluiu rapidamente com a negação. Imagine um primata tentando dizer com grunhidos e gestos um “não” para um companheiro que caminha em direção ao inimigo. A criação da linguagem foi iniciada, estranhamente, com a negação da realidade, com o metafísico “não”. Ideia de negação só existe na mente. “Não” é a essência da própria linguagem. Podemos ficar sem 90% de nossas palavras, mas não sem o “não”. É o início da proto-linguagem.

Do prisma linguístico, a realidade só tem existência para os seres humanos quando é nomeada ou negada. O mundo existe independentemente das pessoas, mas só atentamos para as coisas por intermédio da linguagem. Nós percebemos e diferenciamos os objetos e ações no mundo por meio da linguagem e da negação. Em outras palavras, pela linguagem o universo recebe sentido para nós. Nossa consciência amplia à medida que nomeamos mais fenômenos e objetos. Ao vislumbrar um planeta, real ou fictício, ele ganha realidade. Antes era o Nada.

O ser, o “eu”, esta entidade metafísica é uma parte da realidade inquestionável. Este ser percebe o mundo através dos sentidos principalmente pela visão e audição, porém as informações são processadas metafisicamente. Este mundo pode ser apenas representado pelo “eu” através da linguagem falada ou escrita. Não há como o ser experimentar ser outro ser. Kant chamava isto de “coisa em si”. O leitor não tem como ser uma árvore ou estar na pele de outra pessoa a não ser que seja um ator e “reencarne” no papel. Daí os conceitos “eu” e “não-eu”, “ser ou não-ser”.

Como a negação é essencial, vamos chamar a questão shakespeariana “ser ou não-ser” de dualismo existencial. Sendo assim, vamos alterar nossos conceitos. Uma frase é vocabulário + sintaxe + dualismo existencial = semântica. A linguagem, então, são conceitos em interações que passam pelas regras e pelo dualismo existencial para se ter um significado. Este dualismo reflete em outras searas da realidade e do conhecimento, especialmente na lógica e na matemática.

Igualmente a linguagem, a negação é forte na lógica. Lógica vem do grego logos, razão.  O filósofo grego Heráclito usou o termo “logos” como ordem, conhecimento. De forma simples, lógica é um processo mental para se chegar a um conhecimento verdadeiro. Ela busca o raciocínio para chegar a uma verdade. Para sintonizar a lógica com nosso sistema filosófico, nós a definimos como sendo conceitos em interações para formar uma verdade. Nesta visão, lógica é um sistema.

A lógica trata de conceitos (proposições ou premissas) e suas interações para desenvolver uma inferência, uma verdade. Os conceitos levam a individualização de ideias e conteúdos. A individualização dentro do todo separa também a pessoa, o número, o conceito e leva a ideia de negação. “cão” não pode ser “gato”. Definido o objeto cadeira, este não pode ser o objeto definido como mesa. A razão tem a propriedade de negação. As leis da lógica têm base na negação. Vejam as leis da lógica: A lei da não-contradição prega que nenhuma proposição (afirmação ou negação) pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo; a lei do terceiro excluído prega que para qualquer proposição, ou ela é verdadeira, ou a negação dela é verdadeira. A afirmação exclui a negação e vice-versa. Igualmente a linguagem, a lógica trabalha com o NÃO. A ideia de negação também é vital para a lógica.

Na programação, a lógica é um dado vital que trabalha com proposições negativas, o verdadeiro e o falso. Pau é pau (proposição verdadeira). Pau não é pedra (proposição verdadeira). Pau não é pau (proposição falsa). O universo computacional trabalha também com outro dualismo que tem a negação. O sistema digital trabalha com o sistema binário “0” e “1”. Na computação, o “0” significa falso e o “1” significa verdadeiro. Na eletrônica do computador, o “zero” significa ausência de corrente e o “um” significa corrente elétrica, energia e não-energia. Mas também poderia ser uma pedra e ausência de uma pedra, um ovo e não-ovo. Vale dizer, de um lado temos algo, doutro lado a negação de algo.

Informática e matemática estão conectadas pela lógica. A matemática também possui a negação em seu sistema lógico. Três não é igual a quatro. Em notação matemática, 3 ≠ 4. Em teoria dos conjuntos, três não está contido em A. Em notação, 3 Ȼ B, sendo B = conjunto de números pares. Notem que a negação em matemática serve para a diferenciação do número, conforme o sinal ≠. Também serve para classificação, conforme o sinal Ȼ, no caso de pares. Então, temos em primeiro lugar a separação de um número dentro de um conjunto numérico, de um todo. Num segundo momento, temos a participação de um número individualizado dentro de interações dualísticas.

Ao longo da obra “Os Mesmos Fundamentos da Matemática, da Lógica, da Linguagem e da Vida” da lavra deste autor, nós defendemos que a matemática, a lógica, a linguagem e nós, consciências, temos uma natureza comum, origem comum, estrutura comum, fluxo comum, propósito comum. Estas ideias nos levam a atributos comuns como natureza, negação, evolução e abertura.

O popular físico brasileiro Marcelo Gleiser, em seu livro “A Criação Imperfeita”, chama a matéria-espaço-tempo de santíssima trindade da ciência física. Vale dizer, a exclusão de uma destas variáveis ou mesmo a diluição de uma delas deixaria de ser física para ser algo metafísico. Neste sentido, nós defendemos que a matemática, a lógica, a linguagem e mesmo a vida é algo além da física, são entidades metafísicas e têm a mesma natureza metafísica. Outro conceito que defendemos em outra obra nossa (Matemática  Linguagem) é que a matemática e a linguagem são sistemas compostos de objetos (números, pontos e palavras) em interações.

Como as palavras lógica e gramática, a palavra matemática e seu estudo também tem origem na Grécia. Não se sabe explicar a origem de tanto conhecimento ter surgido numa única região. Fala-se em milagre grego, mas a ciência não permite a palavra “milagre” em seu vocabulário. Para nós, esta questão é também metafísica, mas não é oportuno aqui explanar para não perder o foco. A etimologia dela parece estar ligada ao conhecimento e aprendizagem. Trata-se de raciocínio abstrato, lógico e estuda basicamente números e pontos ou números e formas como querem.

Todos contam e tudo pode ser contado. Até mesmo alguns animais tem noção de quantidade e podem até contar pequenos números. Imagine um animal, disputando um território, que vê uma grande quantidade de rivais. Ele até poderia enfrentar mano-a-mano, quiçá um casal, mas uma quantidade maior ele foge. O homem pré-histórico contava as coisas e aprendeu a contar quantidades abstratas como o tempo. Um osso datado de vinte mil anos atrás demonstra o registro de uma contagem. Ele tinha padrões de agrupamentos em 60 riscos e isto só é possível se contar.  Agricultura depende das estações do ano e alguém tinha que contar os dias para saber quando plantar e colher.

 A matemática desenvolveu em vários lugares do planeta, especialmente na Mesopotâmia, Egito, Grécia, Índia e até na América com os Incas. A aritmética elementar (adição, subtração, multiplicação e divisão) desenvolveu naturalmente. Os sumérios foram os primeiros a desenvolver a aritmética e, de quebra, começaram a escrita com a matemática. Uma matemática prática ocorreu naturalmente em praticamente todas as civilizações, mas os filósofos gregos desenvolveram um interesse especial e elaboraram teorias sobre os aspectos fundamentais. Eles queriam saber qual ramo era mais básico, a aritmética ou a geometria.

Com Isaac Newton, o desenvolvimento da matemática deu um salto conceitual com o cálculo e o infinito. O principal livro de Newton e também da ciência, “Principia”, elaborou os princípios dos movimentos que funcionavam em todo universo. Newton adotou o cálculo e a matemática ganhou destaque. Principia era um livro de filosofia, até então a ciência e o método científico não existiam. O positivismo e o empirismo abarcaram a matemática e surgiu a ciência com o chamado método científico. A matemática forneceu precisão ao conhecimento científico. Isto resultou em uma evolução exponencial da tecnologia.

Entretanto, até hoje a matemática apresenta complicações de sua natureza e até de sua definição. Diferentemente da linguagem, da lógica e da matemática, a ciência física e todas as outras ciências trabalham com os sentidos humanos. A ciência tem necessidade de ver, pesar, medir, quantificar, experimentar, equacionar para ser chamada de ciência. Seu objeto de estudo tem necessidade de existir no tempo e no espaço. Ou seja, o objeto de estudo deve existir fisicamente para ser observado e quantificado. Todas ciências têm que quantificar. Logo, a Matemática (assim com “m” maiúsculo) é um instrumento das ciências e não uma ciência autônoma. A matemática não tem existência física e nem existência no tempo-espaço como todas as ciências. Então, ela é metafísica e por isto negam a existência de objetos math.

Da perspectiva da teoria de sistemas, a matemática pode ser vista como um sistema. Em essência, a estrutura de um sistema contém partes e suas interações lógicas. Em essência, o funcionamento do sistema passa pela entrada de dados, processamento e saída. Vislumbrando a aritmética como um sistema geral, os conjuntos numéricos contêm os elementos (objetos) que são as partes do sistema e as operações são as interações lógicas. A entrada do sistema são os operandos (objetos) e a operação (interação lógica) faria o processamento, enquanto a saída é o resultado (objeto). Como um sistema específico, qualquer equação é um microssistema. Como exemplo, 8 - 3 = 5.  Os operandos minuendo (8) e o subtraendo (3) são a entrada do sistema. A operação de subtração processa a interação entre os operandos, ligando a entrada à saída, ao resultado (5). Um axioma elementar do sistema aritmético ou sistema equacional especifico é que o sistema numérico tem base 10. Um número também é um sistema, interações de algarismos.

Também podemos ver sistemas em geometria. Um triângulo qualquer seria um sistema, um conjunto de pontos compostos de arestas (3), vértices (3) e ângulos (3). A entrada de arestas, vértices e ângulos no sistema determina o triângulo, que pode ser retângulo, acutângulo, obtusângulo, equilátero, isósceles ou escaleno. Como qualquer sistema, a mudança de qualquer ponto, muda todo sistema. Assim, a mudança de qualquer variável, seja aresta, vértice ou ângulo, muda todo sistema e pode transformar um tipo de triângulo em outro.

Para ser sistema, a matemática deve ter partes ou objetos. Vale dizer, deve ter conteúdo para interagir. Como já refletimos, a matemática moderna tende a negar ou menosprezar seus objetos, pois eles são metafísicos. As ciências têm seus objetos físicos passíveis de serem vistos com os olhos de ver, enquanto a matemática tem os olhos da razão para ver seus objetos. 

Assim, tudo são sistemas. Tudo são partes em interações. Nada está isolado e tudo está conectado, seja objetos, seres vivos, conceitos metafísicos. A base do pensamento são conceitos (objetos e ideias) e suas interações. Os conceitos estão conectados em rede e interagem entre si como uma rede neural. Uma rede biológica neural trabalha com neurônios e suas conexões. O homem recriou redes neurais na ciência da computação. As redes artificiais têm modelo matemático, inspirado nas redes naturais, e permite o aprendizado pelas máquinas. As redes de computadores são outro exemplo pertinente de entidades em interações.

A base da gramática é o vocabulário e a sintaxe. Na visão sistêmica, o vocabulário é um conjunto de elementos em interações. A sintaxe são as regras que regulam as interações dos objetos-elementos. O vocabulário é a memória do sistema e trabalha a conceituação de pessoas, objetos, ideias. A sintaxe trata das inter-relações destes conceitos. Igualmente, a matemática funciona com números e suas conexões. A lógica trabalha proposições e suas interações. O processo leva a uma inferência verdadeira. Premissas verdadeiras conduzem uma conclusão verdadeira. A lógica como sistema trabalha similar a matemática que têm números em interações.

Depois de conceituados, as interações entre palavras, conceitos e números são reflexos da ordem universal. Podemos ver a estrutura, o fluxo e o propósito desta ordem natural. Dentro de um pluralismo, as entidades interagem passando por regras e pelo dualismo existencial para chegar ao resultado, significado ou verdade. A equação 1 + 2 = 3 é composta de números-objetos dentro do infinito conjunto de inteiros. Dois números quaisquer interagem aritmeticamente dentro de um dualismo lógico (operação de adição) para se chegar ao resultado 3. Igualmente, a equação 1 + 2 = 4 - 1 funciona da mesma forma, onde temos duas operações lógicas. Em sua função ordenadora, a matemática funciona diferente com as interações e podem ter infinitos resultados. A inequação 3 + 2 > 4 é verdadeira, mas não só ela, pois há uma infinidade de números naturais maiores que 4 (x > 4 / x  ).

Em matemática, toda e qualquer equação é composta de números oriundos de uma diversidade (principalmente de um conjunto numérico, finito ou infinito), que passam por regras lógicas e pelo dualismo para se chegar a um resultado, a uma integração, podendo ter várias soluções.  O pluralismo, dualismo e monismo interagem da mesma maneira dentro da matemática e da linguagem. Em linguística, temos o vocabulário com classes abertas de palavras e com poucas regras podemos geras infinitas frases. Não há uma finidade para substantivos, adjetivos, advérbios e verbos. Assim, podemos elaborar uma infinidade de frases com significados diferentes e todas elas têm a mesma estrutura, fluxo e propósito comum: um conjunto (vocabulário) de palavras que interagem, passam por regras e pelo dualismo existencial para obter um significado, integrando as palavras em um todo. A falta de uma palavra da frase ou a desconsideração de uma regra leva a perda do significado, desintegra o todo e nos faz rever a frase e suas regras.

Igualmente, a lógica como sistema possui pela infinidade de proposições, pelas suas interações dualísticas e por regras para chegar a uma verdade.  Esta ordem universal também pode ser observada em ciência. Em dissertações e pesquisas, nós observamos um objeto a ser estudado dentre vários outros. Conceituamos e delimitamos tal objeto a ser estudado. Aprofundamos a pesquisa com a origem do conceito do objeto, sua etimologia, sua história. Depois de esgotado as delimitações do objeto, passamos a interação dele com conceitos similares e com o mundo. Analogias, comparações, diferenciações, análises, sínteses, hipóteses, inferências, refutações são algumas técnicas da ciência e da filosofia que visam descrever a interação do conceito com outros conceitos e o mundo. Por fim, chega a uma conclusão.

As dissertações e pesquisas ao afirmar algo, automaticamente nega outra. A negação é um atributo relevante na matemática, na lógica, na linguagem. A negação tem a função de identificar, diferenciar palavras, conceitos, números e seres. Vejamos o exemplo clássico da lógica. Todo homem é mortal (classificação, grupo). Sócrates é homem (individualização dentro do grupo). Logo, Sócrates é mortal (conclusão lógica). Em linguística, quando se define o nome Sócrates para um homem, ele passa a exercer relações lógicas para com o mundo. Sócrates é Sócrates e não Platão.

Uma visão para a questão Shakespeariana (ser ou não-ser) é a relevância da individualização dentro do todo. Individualizou José, este não é João, não é Maria, não é mais ninguém dentro do todo. A identificação nos leva a classificação. Como sintetizar as semelhanças e as diferenças dentro do grupo. Semelhanças levam a essência, enquanto as diferenças nos levam a individualização. Sócrates tem 2 braços, duas pernas, uma cabeça pensante que o leva ao grupo dos homens. As diferenças levam a individualização, como a cor da pele, sua digital, sua íris e seu pensamento único. Semelhantemente somos iguais. Contudo e diferentemente, somos individualizados, mas não desiguais.

A importância da individualização e consequentemente a negação permeia todo conhecimento. A identificação das pessoas, das palavras, dos números gera uma interação lógica com seus respectivos grupos conforme foi advogado. Da mesma forma, a identificação de objetos e ideias tem sua relevância e interage com grupos de objetos e ideias pertinentes. Individualizou algo, cria-se a negação e as diferenças.

A negação é metafísica, uma abstração e existe apenas na mente humana. Números, palavras e conceitos são convenções “abstratas”. Eles também não existem na natureza, existem na mente humana. Nós podemos usar os números para contar os dedos, as estrelas, grãos de areia. Os números não estão nos dedos, nem nas estrelas e nem na praia. Eles estão na mente humana. A palavra cadeira não é o objeto em si, a “cadeira” que realmente sentamos, mas sim sua representação. Esta palavra é metafísica, apenas uma “abstração” e pode significar outras coisas como uma carreira acadêmica, um encosto. Os conceitos são a tentativa de identificar uma ideia, delimitá-la. Isto é outra abstração humana. Neste sentido, lógica, língua e matemática se cruzam.

As interações entre números, palavras, conceitos seguem determinadas regras para uma abertura infinita. Estabelecida a regra, ela permite abertura para um sem fim de equações, frases, sistemas. Estabelecido o vocabulário e a ordem direta das palavras - primeiro sujeito, depois verbo, em seguida objeto – tem-se uma infinidade de frases. A equação do triângulo reto de Pitágoras, a² + b² = c², nos permite ter uma infinidade de triângulos.  As poucas premissas de nosso sistema filosófico permitem submeter um sem fim de conhecimento e realidade.

Nosso sistema vislumbra esta ordem universal na história da humanidade. Há 10 mil anos, a humanidade era constituída de tribos isoladas (pluralismo). Estas viviam tempos de paz e de guerra (dualismo). Eventualmente uma tribo guerreava com a tribo vizinha e a submetia, unificando-as. As tribos formaram cidades, as cidades formaram impérios. Estes viviam períodos de glória e paz até decaírem com o mesmo instrumento que os elevou: a guerra. Com as conquistas das Américas, os impérios unificaram o mundo. Veio as democracias e acabaram-se os impérios, mas o mundo já estava globalizado (monismo). Percebam a ordem natural. A humanidade era pluralista, formada por tribos isoladas que passaram pelo dualismo (guerra-paz) e hoje está unificada. Esta unificação não é plena ainda. Na verdade, a integração é um processo. 

Em análise similar, entidades em interação podem ser vislumbradas em tudo. O que é a engenharia de um motor senão as peças em interação? Em um automóvel, você definiu rodas, volante, combustível, motor, o próximo é definir a interação entre eles. Em medicina, nós definimos o que é coração, células, sangue, pulmão, o resto do conhecimento é a interação entre eles. Em filosofia e mitologia, nos conceituamos o físico e o metafísico, o resto é a interação entre eles.

Então, a linguagem, a lógica e a matemática têm uma estrutura comum, um conjunto de entidades (objetos) em interações. Além de estrutura comum, elas têm natureza comum, pois são entidades metafísicas. A metafísica unifica tais entidades. Por isto, nós chamamos de Filosofia Primeira, o estudo da math, da linguagem e da lógica. Até os animais as têm em pequena escala. Nós defendemos que tais disciplinas são instrumentos utilizados pelo princípio inteligente, munido da vontade, igualmente metafísico. Estas disciplinas não existem no mundo “natural”, no mundo material. Para nós, a estrutura do conhecimento e dos seres humanos é a mesma. O “eu”, as palavras, conceitos e números em interações seguindo regras que permitem uma abertura. As interações têm regras e um sem fim de frases, equações e sistemas. Assim, a abertura (o infinito) é uma característica comum. Da mesma forma, a negação e abstração são características em comum.

A estrutura e o propósito destas entidades também são comuns. Vamos demonstrar nos capítulos seguintes.

 

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