10 – Estrutura e Propósito do Universo
A filosofia pluralista-política nos
entrega o ideal político de respeito a diversidade social e de crenças. O
processo político permite qualquer cidadão o acesso ao poder sem discriminação.
Nossa Constituição, em seu preâmbulo e em seu artigo primeiro, já fala em
pluralismo político. O artigo 3º da Constituição, em inciso IV, reza: “promover
o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação.” Este ideal político tem como objetivo a
proteção de todos, a defesa do pluralismo.
Esta Constituição ainda promove o
pluralismo religioso. Vejamos o VI do artigo 5º: “é inviolável a liberdade de
consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos
religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a
suas liturgias;”. Apesar de invocar a proteção do “Deus” de origem judia na
Constituição, a liberdade religiosa é preservada. O pluralismo religioso nos dá
um sem fim de deuses, santos, orixás.
Apesar dos desafios sociais de justiça e
igualdade, o pluralismo nos dá uma riqueza filosófica, pois demonstra inúmeras
visões de mundo. A abordagem filosófica pluralista defende a existência de
múltiplas verdades e tendem a negar as verdades absolutas. Assim, temos várias
perspectivas do mundo a depender do contexto, do local onde está inserido o
pensador. Esta filosofia prega realidades independentes, mas interrelacionadas.
Aqui, ela tem um viés holístico.
Como em teoria dos conjuntos, o pluralismo
social, intelectual, físico é aberto, pois não há como limitá-lo. Podemos
classificá-lo, mas não o limitar. Há exageros, como o moderno debate de
pluralismo social de gêneros em contraposição ao dualismo dos gêneros chamados
de naturais (macho e fêmea). De forma similar ao pluralismo, o dualismo tem
lugar em todos os espaços da vida e do universo.
As filosofias dualistas asseveram a
divisão da realidade em 2 partes independentes e com características próprias,
muitas vezes vistas como antagônicas. O principal dualismo filosófico é o
realismo x idealismo. Realismo prega o mundo material e dos sentidos, enquanto
a idealismo defende o mundo metafísico e racional. Este debate surgiu na Grécia
antiga com Ari defendendo o realismo e Platão o idealismo e atravessa a
história da humanidade com muitos nomes: físico x psico; corpo x mente; matéria
e espírito. Físico e metafísico para nossa Filosofia.
Platão repartiu a realidade em duas: a do
Mundo dos Sentidos, onde temos apenas um conhecimento imperfeito através dos
sentidos, onde tudo flui, desaparece; a do Mundo das Ideias onde temos um
conhecimento seguro, através da razão. Platão separa de um lado aquilo que
flui, é efêmero, cotidiano, e de outro lado àquilo que é eterno e imutável.
Aquilo que flui é percebido pelos sentidos. O que é eterno é percebido pela
razão. Ficou equivocadamente conhecido como dualista, mas ele advogou uma alma
imortal e um mundo metafísico, nossa verdadeira morada. Assim, em análise
última, era mais monista que dualista.
Estudiosos atribuíram o dualismo
indevidamente a outro grande pensador, René Descartes. Realmente ele
estabeleceu uma nítida linha divisória entre a realidade material e espiritual.
No que se refere à realidade material, era mecanicista. Mas a alma era a
própria razão: Penso, logo existo. A capacidade de pensar do ser é a única
certeza que temos. O pensamento existe e não se pode separar do ser. Em análise
última, ele também era monista, pois o “eu” pensante é mais real que o mundo
físico. O verdadeiro conhecimento vem da Metafísica.
Outro filósofo dualista, Hegel ficou
conhecido pela sua dialética histórica. Para ele, a razão, a verdade, o
conhecimento vêm do contexto histórico. Não havia verdades eternas, pois o
conhecimento evoluía de geração para geração. A verdade era um processo,
chamado de evolução dialética, no qual a tese é atacada pela antítese e resulta
numa síntese. A síntese se transforma na tese que tem prazo de validade até a chegada
da nova antítese. Este dualismo histórico ou evolução promove uma espécie de
monismo hegeliano, chamado geist, palavra alemã traduzida como espírito ou
mente. Este dualismo inspirou a doutrina materialista dialética de Karl Marx.
Marx distorceu o dualismo de Hegel, pois
defendia que o pensamento era ditado pelas condições materiais de vida numa
sociedade. Isto determinava a evolução histórica através da tensão dos opostos.
Enquanto Hegel pregava a direção da história da humanidade para “razão
universal”, Marx afirmava que o cego materialismo da vida guiava nossa
história, a história da luta de classes, denominado o materialismo dialético.
Karl pregava o fim do capitalismo, substituído pela ditadura dos trabalhadores
para depois surgir o comunismo sem classes sociais. A história registrou o
resultado desta teoria. O socialismo transformou velhas ditaduras em novas
ditaduras.
Marx ainda polarizou a política em direita
e esquerda, outro dualismo político. Enquanto a direita tem a liberdade como
seu principal valor, a esquerda tem a igualdade como seu principal valor.
Liberdade e igualdade são dois valores universais que os humanos não
conseguiram conciliar. Liberdade para desenvolver vai implicar em desigualdade
e defender a igualdade de todos vai cortar a liberdade da pessoa até para
evoluir. Quiçá a fraternidade conciliaria tais valores como a Revolução
Francesa queria.
Direita ou esquerda? Nós sempre teremos
governo de um lado e oposição doutro, como nos EUA temos republicanos e
democratas. Mesmo o pluripartidarismo, como ocorre no Brasil com dezenas de
partidos políticos, temos polarizações do tipo governo e oposição. Vivemos num mundo dual. Mas sempre teremos
apenas um resultado na prática.
No islamismo, o filósofo Avicena
contribuiu com o dualismo, separando alma e corpo. A alma continua após a morte
do corpo. Criou a parábola do homem voador para ensinar sua ideia: se eu apenas
voasse, não saberia que tinha um corpo, mas ainda assim saberia que eu existo.
Nossa existência era garantida pela consciência. Inspirou Descartes.
Também nas tradições orientais temos
dualismos. A obra milenar dos chineses, I Ching, chamado de Livro das Mutações,
trata de uma combinação de 8 trigramas e 64 hexagramas num sistema binário.
Escrito em 3.000 a C, ele seria a chave do conhecimento, um sistema binário num
mundo de constante transformação.
O I Ching costuma ser comparado com a
física quântica. Esta percebeu as partículas que compõem a matéria em constante
transformação. O universo não é algo estático, mas uma massa de energia em
constante transformação. Bohr, um dos pais da física quântica, ajudou a separar
a noção de leis que regem o cosmo são independentes da matéria.
O taoísmo, também originário da China,
possui um dualismo e ficou pop no ocidente: Yin e Yang. O seu símbolo,
igualmente pop, é um círculo dividido ao meio pelas cores branca e preta,
contendo um contraponto em cada lado. Esta dualidade universal seriam as duas
forças fundamentais opostas e complementares: o yin é o princípio feminino, a
água, a passividade, escuridão e absorção; o yang é o princípio masculino, o
fogo, a luz e atividade.
Quando comparado à física, a carga
elétrica positiva seria o yang e o yin seria negativo, similar aos elétrons.
São os opostos que se completam, positivo não é bom ou mau, é apenas o oposto
complementar de negativo. Junto a estas duas forças, soma outra, o Tao. Este
pode ser interpretado como o caminho de uma força criadora de todas coisas e
para onde elas se destinam.
O dualismo possui vertentes em todas
searas do conhecimento. O dualismo científico dividiu a realidade em sujeito
(aquele que conhece) e objeto (aquilo que é conhecido). O religioso dividiu a
realidade no Criador e na Criação. O filosófico dividiu a realidade no todo e
nas partes, ou melhor, no micro e no macro. O dualismo artístico, no “eu” e
“não-eu”.
Em administração, esta divisão da
realidade também promove dualidades que resultam em organização e
classificação: chefe e subordinado (hierarquia), administrador e administrado
(administração), rei e súdito, governo e cidadão.
Em Direito, o ícone da balança representa
o dualismo de equilíbrio social. Temos outros inúmeros dualismos como: justo e
injusto, vítima e criminoso, autor e réu, recorrente e recorrido, agravante e
agravado, impetrante e impetrado, agressor e agredido, entre outras inúmeras
terminologias jurídicas. Em Direito Internacional, temos a doutrina dualista em
oposição à doutrina monista. A dualista entende haver dois sistemas jurídicos
(um interno e outro externo) e a monista apenas um sistema jurídico, englobando
os sistemas de direito nacional e internacional. O dualismo defende dois
sistemas autônomos e independentes.
Em contabilidade, temos o ativo e passivo
e a balança (patrimonial) também parece ser um símbolo dualista para
representar o equilíbrio.
Em economia, vislumbram dualidades da
compra e venda, oferta e procura, micro e macroeconomia.
Em matemática, existem sistemas numéricos
pluralistas, como o decimal e romano (por causa dos dez dedos), mas são
substituídos eficazmente pelo sistema binário. O mundo digital popularizou o
sistema binário. Cores, sons, mensagens, conversas, vídeos, textos, gráficos,
tudo pode ser representado pelo sistema binário dos computadores.
Ainda em matemática, mas com reflexo na
arquitetura, engenharia, arte, entre outras, temos a simetria, outro reflexo do
dualismo. Ela expõe a igualdade de lados. Boa parte da matemática e da física
teórica baseia na simetria, princípio básico para as leis da natureza. Há
diversos objetos de simetria aproximados de modelos abstratos idealizados. O
ponto principal da teoria da matemática da simetria unifica vários campos, como
a geometria, teoria dos números, física, química, biologia. A descoberta dos
quarks não fora feita com base em dados empíricos, mas sim com base em padrões
da simetria matemática. Atualmente, a teoria da simetria é o feijão com arroz
da física de partículas elementares.
O programa americano chamado Langlands
busca unidade na geometria, aritmética e álgebra. Ele está ligado à física
quântica. A chave é a dualidade, tanto na física (eletricidade, magnetismo,
descritas numa teoria matemática única – denominada eletromagnetismo), como na
matemática. Representa um panorama da matemática moderna.
Na arquitetura e na engenharia, precisa-se
de uma relação de paridade em entre altura, largura e comprimento das partes
necessárias para compor um todo. Assim, a simetria é necessária para a beleza
de uma construção, ou para a beleza da figura humana. Ela nos mostra que sempre
há dois lados iguais, apesar da simetria nem sempre ser perfeita em razão do
dualismo relativo. No entanto, há o dualismo eterno e perfeito: de um lado, o
Eu e doutro lado seu reflexo, o Todo.
O dualismo mais comum é do homem e mulher.
Do ponto de vista da evolução biológica não tem sentido tal dualismo. A
biologia não tem uma boa definição para a vida, mas ela tem certeza que um de
seus atributos é a reprodução. Esta, de forma genérica, pode ser assexuada ou
sexuada. A reprodução assexuada dispensa outro ser e tem a vantagem evolutiva
da independência. A sexuada necessita de outro ser e surgiu depois da
assexuada. Esta transição não faz sentido para a evolução biológica, pois
dificultou a reprodução. Do ponto de vista integralista e dualista, ela faz
sentido, pois integra os seres com a evolução em conjunto.
O inegável dualismo agora se junta ao
inegável pluralismo.
Outra filosofia numérica muito comum é o
monismo. De forma simples, monismo é a doutrina da unidade. Tudo é UM. Somos
indivíduo (UM), dentro de UMA família, dentro de UMA cidade, dentro de UM
estado, dentro de UM país, dentro de Planeta, dentro de UM sistema estrelar,
dentro de UMA galáxia, dentro de UM universo.
Não há mais dúvida da origem única da vida
e do universo. A origem única já é uma espécie de monismo. Tudo tem origem
única. Assim tudo é regido por um princípio único. Esta é a causa, cujo efeito
é a integração plena do todo. O monismo
filosófico busca unidade em seu sistema. Podem ser de substância (energia), de
origem das leis (Deus), de forma (geometria).
Há até uma piada judaica que exemplifica o
monismo com humor. Historicamente, haveria 5 monistas judeus que tentavam
definir o mundo: para Moisés, tudo é a lei; para Jesus, tudo é amor; para Marx,
tudo é dinheiro; para Freud, tudo é sexo; para Einstein, tudo é relativo.
Os estoicos gregos já exaltavam o monismo.
Eles surgiram em Atenas por volta de 300 a. C. e Zenão foi considerado seu
fundador. Os estoicos diziam que todas as pessoas eram parte de uma mesma razão
universal, ou “logos”. Eles consideravam todas as pessoas um mundo em
miniatura, um “microcosmo”, que era reflexo do “macrocosmo”.
Isto levou à ideia de um direito
universal, o chamado direito natural. O direito natural baseia-se na razão
atemporal do homem e do universo e, por isso mesmo, não se modifica no tempo e
no espaço. O direito natural vale para todas as pessoas. As diferentes
legislações dos diferentes Estados não passavam de imitações imperfeitas de um
direito cujas bases estavam na própria natureza.
Os estoicos diziam que os processos
naturais - por exemplo a morte e a enfermidade - eram regidos por constantes
leis da natureza. Por esta razão, os homens deviam aceitar o seu destino. Nada
acontece por acaso. Tudo acontece por que tem de acontecer e de nada adianta o
homem chorar quando vier o seu destino. Os estoicos apagavam as diferenças
entre o indivíduo e o universo, portanto negavam oposição entre espírito e
matéria. Para eles existia apenas uma natureza. Tal concepção é o monismo, em
oposição a bipartição da realidade, matéria e espírito.
Há muitos monismos na história. Não cabe
aqui um desenho para esmiuçá-los, mas sim uma breve pincelada. A ideia desta
obra é apenas mostrar a inspiração deles na Criação ou origem única. Religiões,
ciências, filosofias e artes também têm doutrinas, artistas e pensadores
monistas. Apenas citaremos alguns com uma leve explanação. Encontram-se
concepções monistas na filosofia hindu, no pensamento chinês, na filosofia
grega e até os dias de hoje.
O monismo é muito forte nas religiões
orientais que têm uma forte proximidade de deus (es). Ao contrário, as
religiões de origem hebraica (judaísmo, cristianismo, islamismo), Deus está
muito além e muito acima deste mundo. No budismo, hinduísmo e na religião
chinesa, há uma fusão com Deus, o espírito cósmico. “Namastê” é uma saudação
comum na Ásia que afirma a existência de deuses dentro das pessoas: o deus que
habita no meu coração, saúda o deus que habita no seu coração. O objetivo da
vida é purificar a alma pelo processo de transmigração dela.
Religião, cultura e filosofia se misturam no
Oriente. O taoísmo, antiga cultura chinesa, acredita numa fonte, ou força
motriz de tudo. Para atravessar esta dualidade oposta (yin e yang), usamos o
Tao (o caminho), voltando para a força criadora de todas coisas. Neste aspecto,
vislumbra-se similaridade com nossas três premissas. O taoísmo prega uma fonte
criadora de tudo (a Criação), mas a existência tem que passar pelo dualismo
yin- yang. Para isto, eles usam o Tao (a Evolução) e voltam à fonte criadora (a
Integração). Nos Vedas, antigas escrituras da Índia, interpretam que Brahma (o
deus criador da trindade de deuses indiana) é tudo, substância das almas e do
universo.
Na filosofia grega, o monismo invadia o
pensamento dos principais filósofos. Eles tentavam compreender a diversidade de
todas as coisas a partir de uma única matéria-prima. Na busca pela substância
fundamental, alguns acreditavam que era água, outros o ar, outros a terra,
outros o fogo. Estes pensamentos juntos ficaram conhecidos como os 4 elementos.
Houve quem acreditasse que as misturas dos 4 elementos explicassem a
diversidade do mundo, dando um toque pluralista ao pensamento monista.
O filosofo grego Heráclito confiava numa
razão universal ou lei universal para todos, chamada por ele de logos ou Deus.
A natureza e suas transformações eram uma unidade. Empédocles chamava de
Inteligência a força responsável pela ordem e pela criação de tudo. Pitágoras,
diferentemente, tem um monismo matemático. Tudo são números.
O grego materialista Demócrito inovou com
o monismo atomista, base material da realidade. Deu nome de átomo para as
menores partículas da matéria. O átomo seria invisível, imutável e eterno, pois
não poderia ter vindo do nada e em nada se transformar. Ele não acreditava numa
inteligência que pudesse intervir no processo natural. Não acreditava no acaso,
mas sim nas leis inalteráveis da natureza.
Em Atenas, por volta de 300 a C, os
estoicos também pregavam a origem das pessoas por uma razão universal. As
pessoas seriam um mundo encurtado, um microcosmo, espelho do macrocosmo. Assim,
não teria diferenças entre o indivíduo e o universo. Esta ideia originou outra,
a de um direito universal.
Plotino, o sucessor do idealismo
platônico, defendeu o monismo idealista. O filósofo egípcio viveu entre os anos
205 e 270 d.C. e desenvolveu a escola denominada neoplatonismo. Ela defendia
ser a realidade última (ou primeira) do universo a inteligência pura,
incognoscível, infinita e perfeita, da qual tudo derivava. Plotino se utilizou
do mesmo termo apregoado por Anaxágoras, noûs, como a essência universal
consubstanciada no Uno para compor o seu monismo idealista. No período
medieval, outros pensadores seguiram Plotino, especialmente Santo Agostinho.
Este pregou a trindade da igreja, através da qual o Uno se consubstanciava no
Todo.
O holandês Baruch Spinoza, filósofo
monista por excelência, advogava a existência de uma única substância da qual
tudo mais são derivados. Para ele, espírito e corpo são atributos da substância
divina, sendo Deus e a natureza a mesma coisa. Spinoza era crítico do biblismo
e contestava a autoria divina da Bíblia. Foi o primeiro a aplicar a
interpretação “histórico-crítica” da Bíblia. Era o contexto da época da escrita
bíblica a ser analisado e não as palavras bíblicas descontextualizadas. Sob o
prisma da eternidade, Spinoza fundamentou sua filosofia. Deus e a sua criação
são iguais. Tudo é um.
Para o filósofo Hegel, a verdade é um
processo que passa pelo dualismo: tese e antítese. Deste dualismo surgia a
síntese e virava tese até chegar uma nova antítese. Esta concatenação de
pensamentos, Hegel chamava de evolução dialética. Mas esta evolução não era
força cega. Ela ia na direção do espírito universal ou razão universal, a força
que impelia a história para frente. Como isto, ele aproximava do monismo.
Depois do Renascimento, o italiano
Giordano Bruno pregou um monismo religioso. Deus seria a suprema unidade de
todas as coisas e se confundia com a natureza. Foi queimado por seu pensamento
monista.
No século XX, inspirados no pensamento
evolucionista de Darwin (a luta pela vida), pensadores sem a noção do Tao, sem
a visão da integração, tentaram explicar a vida, a consciência e o universo,
segundo um monismo materialista. Ernst Haeckel, biólogo alemão, com um monismo
biológico explicou a vida, o universo e a própria consciência a partir da
evolução de Darwin. Há uma certa beleza em parte de seu pensamento mecanicista.
Ele buscou um princípio unificador para reger a evolução, chamado lei
biogenética, segundo o qual cada animal percorre, a partir da fase embrionária,
todas as etapas evolutivas que o levaram a ocupar o seu lugar na ordem natural.
Na embriogênese, o corpo reprisa a evolução da vida neste planeta, passando
pelos traços dos peixes, répteis, aves, mamíferos até a forma atual do homem.
A ontogenia é o desenvolvimento
embrionário individual e a filogenia é a desenvolvimento evolutivo da origem
das espécies. Tal ideia foi adotada pelo pensamento espiritualista moderno.
Alguns pensadores espiritualistas uniram a lei biogenética de Haeckel com a
reencarnação, tentaram unificar a evolução biológica com o espiritualismo e
adoram o princípio espiritual como a unidade da vida. No livro O Sistema, Pietro Ubaldi defendeu o “telefinalismo”
da evolução e das mutações genéticas, antes consideradas acaso pela ciência,
agora um evolucionismo espiritualista. http://www.ebookespirita.org/PietroUbaldi/OSistema.pdf
O filósofo francês Henri Bergson, outro
evolucionista espiritualista, em sua obra A Evolução Criadora criticou o cego
mecanismo de luta de Darwin. A vida não é uma máquina biológica e tem um
propósito em tudo.
No século passado e no atual, o monismo
quântico busca uma integração da física relativista à física quântica com a
moderna teoria das cordas. Esta busca uma grande teoria unificada. A ciência de
nossos dias procura por um monismo substancial que satisfaça o natural anseio filosófico
por unicidade.
Alguns pensadores costumam ver o
pluralismo e/ou o dualismo em oposição ao monismo. Não vemos oposição entre
tais doutrinas, mas sim uma harmonia entre elas. Esta aversão é infeliz, pois
as diversas searas do conhecimento permeiam esta estrutura e estes sistemas de
pensamento. Aqui, tais filosofias foram separados para observação didática.
Nossa ideia é retratar a realidade sem oposições e com pluralismos, dualismos e
monismos, sejam eles efêmeros e absolutos. A origem única pode nos levar a
enfatizar o monismo em desfavor do dualismo e pluralismo. Entretanto, estes
nunca deixaram de ser realidade. Ou seja, são princípios absolutos.
O dualismo não tem conflito com a
diversidade, com ideias pluralistas, pois as relações são dualistas e sempre
poderemos polarizar tudo em razão do princípio criativo. O ato da criação foi
dualista (quando dividi a realidade), mas também foi pluralista quanto ao
conteúdo, ou seja, muitas criações, muitos minerais, animais e plantas. Esta
diversidade não impede as polarizações nas relações.
Da mesma forma, o dualismo tem outras
incompreensões. Em religião, o dualismo complicou o pensamento teológico, o
qual criou uma força antagônica ao Criador. Demônio, capeta, diabo, lúcifer são
algumas denominações vulgares do opositor divino. Muitas religiões têm
dificuldades com o pensamento dualístico e enxergam dualismo onde não existe.
Tais doutrinas não resistem a menor crítica em desfavor os atributos divinos
(perfeição, onisciência, onipresença e onipotência). Se Deus criou tudo
perfeito e ele é onisciente, onipotente e onipresente, como pode errar na
criação do mal? Se ele é onipotente por que não acaba com ele? Como pode deus
estar no mal?
As complicações teológicas com a questão
do mal e da dor ocorrem com a maioria das religiões ocidentais. Elas pregam a
unicidade de existência e a pós-existência da vida, mas sem a pré-existência.
Uma criança que nasce com deficiência física, cega ou surda, é insolúvel com o
mal gratuito pelo Criador. A unicidade de existência pregada pelas grandes
religiões ocidentais não permite tal solução. Como pode alguém, principalmente
uma criança, sofrer um mal sem culpa? Não há um Deus bondoso que faria isto a
suas criaturas? Do ponto de vista da perfeição ou cósmico, só pode ter
explicação com a pré-existência da alma para solucionar tal questão, resolvida
facilmente pela doutrina oriental da reencarnação.
Outra polarização mal compreendida é a
cooperação x competição. Mas a direção da vida é sem dúvida da competição para
a cooperação. A luta entre predadores e presas repete-se desde a existência da
vida. Os predadores aprimoram suas estratégias de caçar, enquanto as presas
precisam aprimorar suas defesas. Ambos estão presos a uma relação intensa que
os forçam a mudar, pois não podem ficar em desvantagem. Os fracos morrem para
os fortes sobreviverem. Essa corrida evolutiva mudou as vidas e os corpos de praticamente
todos os seres que existem hoje.
Estas duas forças estão presentes também
no mundo vegetal e em nossas relações, conscientemente ou inconscientemente. O
futebol pode representar bem essas duas forças. De um lado temos uma equipe
fundada na cooperação para competir, lutar, jogar contra outra. Daí o fascínio
das pessoas pelo futebol, pois ele representa a vida, ainda que de uma forma
efêmera.
Outra polarização aparentemente
inconciliável é do criacionismo x evolucionismo, da religião x ciência. Este
dualismo também é indevido, pois elas são doutrinas complementares e não se
excluem. O problema é que uma defende forças evolutivas cegas e a outra defende
um fixismo e fé cega. As religiões pregam um mundo pronto e acabado. Deus criou
o homem sem a evolução. Então, negam uma lei natural, criada pela própria
divindade, porque um livro “sagrado” está dizendo. As religiões cristãs acabam
negando a realidade.
O evolucionismo cego e sem propósito tem
muitos problemas. Uma série de 10 artigos sobre os problemas científicos da
evolução biológica e química foi publicada no capítulo “The Top Ten Scientific
Problems with Biological and Chemical Evolution” do livro “More than Myth” de
autoria de Casey Luskin, editado por Paul Brown e Robert Stackpole (Chartwell
Press, 2014). Os problemas são:
1) Nenhum existe mecanismo viável para
gerar uma sopa primordial;
2) Processos químicos não guiados não
podem explicar a origem do código genético;
3) Mutações aleatórias não podem gerar a
informação genética requerida para estruturas irredutivelmente complexas;
4) A seleção natural luta para fixar
vantagens nas populações;
5) Aparência abrupta de espécies no
registro fóssil não suporta a evolução Darwiniana;
6) A biologia molecular falhou em produzir
uma grande “Árvore da Vida”;
7) A evolução convergente desafia o
darwinismo e destrói a lógica por trás das ancestrais comuns;
8) Diferenças entre embriões de
vertebrados contradizem as previsões de ancestrais comuns;
9) Neo-Darwinismo luta para explicar a
distribuição biogeográfica de muitas espécies;
10) O neodarwinismo tem uma longa história
de previsões imprecisas darwinianas sobre os órgãos vestigiais e o “DNA lixo”.
Problema após problema, o autor vai
desconstruindo a ideia de uma evolução cega. Não faz sentido um universo sem
sentido. A evolução direciona rumo a integração.
Em harmonia com o exposto, podemos dizer
que as polarizações efêmeras inspiram o realismo, o mais forte, a seleção
natural. Inspirou também doutrinas nefastas de filósofos, como Maquiavel,
Sartre, Nietsche, e inspirou má interpretação da evolução de Darwin. O realismo
é materialista, empírico, fatalista, cético, pessimista, sensacionalista,
atribuindo todo conhecimento a sensação. As ciências podem atribuir o dualismo
a fatos como a Natureza, o Acaso, a Sorte, a Coincidência. Estes deuses da
ciência reduzem tudo a causas físicas. O reducionismo acredita ser nossa
personalidade devida a causas cerebrais.
Estas são as principais doutrinas filosóficas
e numéricas com base na realidade, com base em visões de mundo. Outras
numerologias são com base em religiões e esoterismo. Os judeus tinham números
sagrados com os números 12 e 5, por causa das 12 tribos de Israel e do
pentateuco bíblico. Os cristãos têm números sagrados como 3 e 666, por causa da
santíssima trindade e do número da besta. Estes e muitos outros são números de
contextos locais e pessoais, sem base racional e real, sem universalidade como
os números 0, 1 e 2 e a ideia de infinito para o pluralismo.
Vamos estruturar estas numerologias em uma
visão holística-racionalista e sem esoterismo, sem oposições, sem ambiguidades,
sem contradições dentro da realidade. Dado o seu caráter absoluto, a matemática
é um bom começo para evitar equívocos dentro de um sistema filosófico. A
filosofia pluralista vamos basear na teoria dos conjuntos. Para nós, os objetos
matemáticos, sejam números ou pontos, podem participar de conjuntos finitos ou
infinitos. A pedagogia da matemática sempre começa por seus elementos (objetos
ou conteúdo) em conjuntos.
A teoria de conjuntos nos traz os
principais conjuntos numéricos: naturais, inteiros, racionais, reais,
complexos. Estes conjuntos têm a característica de serem infinitos. Há muitos
outros conjuntos infinitos como o dos números pares, impares, primos. Podemos
delimitar estas infinidades, como o conjunto de pares até 10. Em matemática,
existe a figura do conjunto vazio, mas ele é, em verdade, um objeto (não um
conjunto) para interagir com outros conjuntos (aqui também serão objetos). Funciona
como o zero para interagir com outros números. São os objetos de um conjunto
que interagem e quando há interação de conjuntos, estes são objetos do sistema.
As operações entre conjuntos são interações dentro de um conjunto maior, o
conjunto universo.
Os elementos dos conjuntos interagem
através das operações binárias. Estas operações enquadram em nosso dualismo
filosófico. As expressões e equações aritméticas ou algébricas são em forma de
linhas. As operações binárias são realizadas sequencialmente da esquerda para a
direita ou por ordem de prioridade: os agrupadores (como parênteses) exercem
prioridade, depois os expoentes e radiciações, multiplicações e divisões,
subtrações e divisões. Não existe operações simultâneas. Operações ternárias em
matemática contém 3 operandos, mas são duas operações binárias sequenciais e
não simultâneas. A operação unária em matemática, para nós, não chega a ser uma
operação, mas sim uma questão existencial em razão do princípio negacional.
Considerando estas ressalvas, resta o
dualismo matemático. Então, o pluralismo filosófico na matemática está nos
conjuntos que têm elementos-objetos indo ao infinito e além. A interação entre
tais objetos é dualista, enquadrando aqui o dualismo filosófico. Destas
interações lógicas (operações) saem um resultado. Este resultado é único e
vislumbramos a filosofia monista aqui. Também teremos ressalvas aqui. Podemos
ter várias soluções, mas apenas um resultado, como nas raízes algébricas, cujas
soluções dependem do grau da equação.
Forte no exposto, conjeturamos uma
estrutura pluralista, dualista e monista na matemática. Em teoria de sistemas,
vislumbramos a matemática como um sistema ou encadeamento de sistemas. Em
essência, sistema é um todo (conjunto em math), composto de partes (objetos em
math). O funcionamento do sistema envolve uma entrada, um processamento e uma
saída. Ora! A entrada do sistema aritmético são os 2 operandos, o processamento
é a operação lógica, a saída é o resultado. Números é um sistema, o conjunto de
algarismos suas interações. O sistema decimal tem 10 algarismos, a entrada
promove as interações deles, depois há o processamento da base (potencias de
10, no caso de decimal) e tem como saída um número. Números são os menores
sistemas em aritmética e álgebra. Depois, temos teoremas, conjecturas,
demonstrações como sistemas maiores. Igualmente, podemos vislumbrar a geometria
como um sistema, um conjunto de pontos e suas interações. Um círculo é um
sistema que envolve um ponto de origem e um raio que determina infinitos pontos
equidistantes. A interações entre estes pontos resultam em graus e radianos.
Similarmente, veremos a estrutura
pluralista-dualista-monista na linguagem. O vocabulário é um conjunto de
palavras (objetos linguísticos), em tese, infinitas. As interações entre as
palavras são binárias e sequenciais, obedecendo a ordem da esquerda para a
direita. Não existe interações simultâneas de 3 palavras. As interações
binárias vão acontecendo em sequência até o ponto final e resulta em a
semântica, um significado (um monismo).
A silogismo lógico pode ser visto como um
sistema. Retiramos duas premissas de um conjunto de infinitas proposições. Elas
vão interagir logicamente e resultar numa conclusão. Notem que expomos sistemas
metafísicos: matemática, linguagem e lógica. Podemos observar esta estrutura em
toda física, biologia e sociologia. A física vai de sistemas atômicos até
sistemas galáticos. A biologia vai de sistemas celulares até sistemas
ecológicos. A sociologia vai de sistema familiar até o sistema estatal.
Apesar da lógica ser vista como um
sistema, gostamos de vê-la como a dinâmica do sistema. Ela liga a entrada do
sistema à saída do sistema. Chamamos de lógica “se-então-senão”. Na matemática,
“se” escolhemos 2 operandos quaisquer, “então” a operação aritmética vai ligar
esta entrada de operandos à saída do resultado. A dinâmica da lógica é melhor
vista na lógica de programação. Inicialmente, os algoritmos expõem uma condição
existencial “se”. Caso exista (verdadeiro ou 1), tem como efeito “então”, a
execução de uma ação (verdadeiro ou 1). Caso não exista (falso ou 0), tem como
efeito “senão”. Por exemplos: se eu conseguir férias, então viajarei; senão
trabalharei. Se x=a e a=b, então x=b. Neste caso matemático, o senão vem
implícito. A conta está errada.
Celulares e notebooks do mundo inteiro funcionam
com esta estrutura. Zilhões de dados (pluralismo) estão disponíveis na rede
mundial, passam pela dinâmica da lógica de programação (dualismo) e resultam em
informação, ação única e determinada pela lógica (monismo). A programação vai
nos fornecer uma informação de saldo em conta ou uma foto ou um áudio. O
dualismo lógico nos leva a uma direção única, possibilitando uma integração do
todo.
Cientistas e matemáticos buscam padrões
com a matemática. Ocorre que a própria matemática tem um padrão: uma infinidade
de números e pontos que passam por dualismos para chegar a UM resultado. Em
aritmética, os números em interação que passam pelo dualismo das operações para
se chegar a um resultado. O propósito dela é UM resultado. Percebemos uma
estrutura universal: pluralismo-dualismo-monismo. Similarmente, nós
conceituamos linguagem como palavras em interação que passa por dualismos para
chegar a UM significado. Este pode ser uma informação, comunicação,
conhecimento. Igualmente, a lógica dentro de infinitas proposições promove uma
interação de conceitos que passam por dualismos para se chegar a UMA verdade.
De forma igual, o universo é programado. O
dualismo é o caminho que integra o todo. Todas nossas decisões passam pelo
fluxo do dualismo “se-então” e tem o “senão” como contrafluxo, mas ainda assim
integrando o todo. A direção da existência é no fluxo do universo, cabendo o
contrafluxo o processo de repetição.
Nosso sistema filosófico oferece um
propósito em analogia com a matemática, a linguagem e a lógica. A matemática
tem o propósito de um resultado. Este vem através das regras de integração dos
números. Semântica é o propósito da linguagem. As regras da linguagem promovem
a integração das palavras. O propósito da lógica é oferecer uma verdade. As
interações dos conceitos pelas regras levam a uma integração. Interações levam
a integração. Em analogia, a vida
promove interações que levam a integração.
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