sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Capítulo 10 do livro EXISTENCIALISMO METAFÍSICO, A ÚLTIMA FILOSOFIA

 

10 – Estrutura e Propósito do Universo

 

 Existe cerca de 8 bilhões de pessoas em nosso orbe. Cada uma com uma personalidade diferente. Não existe 2 “eus” iguais. Nem mesmo biologicamente. Cada um de nós tem uma digital diferenciada, uma íris diferenciada, um DNA diferenciado com um nome e um número diferenciados. Dentro desta diversidade humana, existem muitas diferenças culturais, religiosos, ideológicas, étnicas, entre outras. Este pluralismo é visível fora da humanidade. A física e a química vão retratar a diversidade de elementos químicos. A biologia retrata o pluralismo da vida. A psicologia vai falar em personalidades humanas diversas. A sociologia vai estudar e classificar o pluralismo social.

A filosofia pluralista-política nos entrega o ideal político de respeito a diversidade social e de crenças. O processo político permite qualquer cidadão o acesso ao poder sem discriminação. Nossa Constituição, em seu preâmbulo e em seu artigo primeiro, já fala em pluralismo político. O artigo 3º da Constituição, em inciso IV, reza: “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.” Este ideal político tem como objetivo a proteção de todos, a defesa do pluralismo. 

Esta Constituição ainda promove o pluralismo religioso. Vejamos o VI do artigo 5º: “é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;”. Apesar de invocar a proteção do “Deus” de origem judia na Constituição, a liberdade religiosa é preservada. O pluralismo religioso nos dá um sem fim de deuses, santos, orixás.

Apesar dos desafios sociais de justiça e igualdade, o pluralismo nos dá uma riqueza filosófica, pois demonstra inúmeras visões de mundo. A abordagem filosófica pluralista defende a existência de múltiplas verdades e tendem a negar as verdades absolutas. Assim, temos várias perspectivas do mundo a depender do contexto, do local onde está inserido o pensador. Esta filosofia prega realidades independentes, mas interrelacionadas. Aqui, ela tem um viés holístico.

Como em teoria dos conjuntos, o pluralismo social, intelectual, físico é aberto, pois não há como limitá-lo. Podemos classificá-lo, mas não o limitar. Há exageros, como o moderno debate de pluralismo social de gêneros em contraposição ao dualismo dos gêneros chamados de naturais (macho e fêmea). De forma similar ao pluralismo, o dualismo tem lugar em todos os espaços da vida e do universo.

As filosofias dualistas asseveram a divisão da realidade em 2 partes independentes e com características próprias, muitas vezes vistas como antagônicas. O principal dualismo filosófico é o realismo x idealismo. Realismo prega o mundo material e dos sentidos, enquanto a idealismo defende o mundo metafísico e racional. Este debate surgiu na Grécia antiga com Ari defendendo o realismo e Platão o idealismo e atravessa a história da humanidade com muitos nomes: físico x psico; corpo x mente; matéria e espírito. Físico e metafísico para nossa Filosofia.

Platão repartiu a realidade em duas: a do Mundo dos Sentidos, onde temos apenas um conhecimento imperfeito através dos sentidos, onde tudo flui, desaparece; a do Mundo das Ideias onde temos um conhecimento seguro, através da razão. Platão separa de um lado aquilo que flui, é efêmero, cotidiano, e de outro lado àquilo que é eterno e imutável. Aquilo que flui é percebido pelos sentidos. O que é eterno é percebido pela razão. Ficou equivocadamente conhecido como dualista, mas ele advogou uma alma imortal e um mundo metafísico, nossa verdadeira morada. Assim, em análise última, era mais monista que dualista.

Estudiosos atribuíram o dualismo indevidamente a outro grande pensador, René Descartes. Realmente ele estabeleceu uma nítida linha divisória entre a realidade material e espiritual. No que se refere à realidade material, era mecanicista. Mas a alma era a própria razão: Penso, logo existo. A capacidade de pensar do ser é a única certeza que temos. O pensamento existe e não se pode separar do ser. Em análise última, ele também era monista, pois o “eu” pensante é mais real que o mundo físico. O verdadeiro conhecimento vem da Metafísica.

Outro filósofo dualista, Hegel ficou conhecido pela sua dialética histórica. Para ele, a razão, a verdade, o conhecimento vêm do contexto histórico. Não havia verdades eternas, pois o conhecimento evoluía de geração para geração. A verdade era um processo, chamado de evolução dialética, no qual a tese é atacada pela antítese e resulta numa síntese. A síntese se transforma na tese que tem prazo de validade até a chegada da nova antítese. Este dualismo histórico ou evolução promove uma espécie de monismo hegeliano, chamado geist, palavra alemã traduzida como espírito ou mente. Este dualismo inspirou a doutrina materialista dialética de Karl Marx.

Marx distorceu o dualismo de Hegel, pois defendia que o pensamento era ditado pelas condições materiais de vida numa sociedade. Isto determinava a evolução histórica através da tensão dos opostos. Enquanto Hegel pregava a direção da história da humanidade para “razão universal”, Marx afirmava que o cego materialismo da vida guiava nossa história, a história da luta de classes, denominado o materialismo dialético. Karl pregava o fim do capitalismo, substituído pela ditadura dos trabalhadores para depois surgir o comunismo sem classes sociais. A história registrou o resultado desta teoria. O socialismo transformou velhas ditaduras em novas ditaduras.

Marx ainda polarizou a política em direita e esquerda, outro dualismo político. Enquanto a direita tem a liberdade como seu principal valor, a esquerda tem a igualdade como seu principal valor. Liberdade e igualdade são dois valores universais que os humanos não conseguiram conciliar. Liberdade para desenvolver vai implicar em desigualdade e defender a igualdade de todos vai cortar a liberdade da pessoa até para evoluir. Quiçá a fraternidade conciliaria tais valores como a Revolução Francesa queria.

 Direita ou esquerda? Nós sempre teremos governo de um lado e oposição doutro, como nos EUA temos republicanos e democratas. Mesmo o pluripartidarismo, como ocorre no Brasil com dezenas de partidos políticos, temos polarizações do tipo governo e oposição.  Vivemos num mundo dual. Mas sempre teremos apenas um resultado na prática.

No islamismo, o filósofo Avicena contribuiu com o dualismo, separando alma e corpo. A alma continua após a morte do corpo. Criou a parábola do homem voador para ensinar sua ideia: se eu apenas voasse, não saberia que tinha um corpo, mas ainda assim saberia que eu existo. Nossa existência era garantida pela consciência. Inspirou Descartes.

Também nas tradições orientais temos dualismos. A obra milenar dos chineses, I Ching, chamado de Livro das Mutações, trata de uma combinação de 8 trigramas e 64 hexagramas num sistema binário. Escrito em 3.000 a C, ele seria a chave do conhecimento, um sistema binário num mundo de constante transformação. 

O I Ching costuma ser comparado com a física quântica. Esta percebeu as partículas que compõem a matéria em constante transformação. O universo não é algo estático, mas uma massa de energia em constante transformação. Bohr, um dos pais da física quântica, ajudou a separar a noção de leis que regem o cosmo são independentes da matéria.

O taoísmo, também originário da China, possui um dualismo e ficou pop no ocidente: Yin e Yang. O seu símbolo, igualmente pop, é um círculo dividido ao meio pelas cores branca e preta, contendo um contraponto em cada lado. Esta dualidade universal seriam as duas forças fundamentais opostas e complementares: o yin é o princípio feminino, a água, a passividade, escuridão e absorção; o yang é o princípio masculino, o fogo, a luz e atividade.

Quando comparado à física, a carga elétrica positiva seria o yang e o yin seria negativo, similar aos elétrons. São os opostos que se completam, positivo não é bom ou mau, é apenas o oposto complementar de negativo. Junto a estas duas forças, soma outra, o Tao. Este pode ser interpretado como o caminho de uma força criadora de todas coisas e para onde elas se destinam.

O dualismo possui vertentes em todas searas do conhecimento. O dualismo científico dividiu a realidade em sujeito (aquele que conhece) e objeto (aquilo que é conhecido). O religioso dividiu a realidade no Criador e na Criação. O filosófico dividiu a realidade no todo e nas partes, ou melhor, no micro e no macro. O dualismo artístico, no “eu” e “não-eu”.

Em administração, esta divisão da realidade também promove dualidades que resultam em organização e classificação: chefe e subordinado (hierarquia), administrador e administrado (administração), rei e súdito, governo e cidadão.

Em Direito, o ícone da balança representa o dualismo de equilíbrio social. Temos outros inúmeros dualismos como: justo e injusto, vítima e criminoso, autor e réu, recorrente e recorrido, agravante e agravado, impetrante e impetrado, agressor e agredido, entre outras inúmeras terminologias jurídicas. Em Direito Internacional, temos a doutrina dualista em oposição à doutrina monista. A dualista entende haver dois sistemas jurídicos (um interno e outro externo) e a monista apenas um sistema jurídico, englobando os sistemas de direito nacional e internacional. O dualismo defende dois sistemas autônomos e independentes.

Em contabilidade, temos o ativo e passivo e a balança (patrimonial) também parece ser um símbolo dualista para representar o equilíbrio.

Em economia, vislumbram dualidades da compra e venda, oferta e procura, micro e macroeconomia.

Em matemática, existem sistemas numéricos pluralistas, como o decimal e romano (por causa dos dez dedos), mas são substituídos eficazmente pelo sistema binário. O mundo digital popularizou o sistema binário. Cores, sons, mensagens, conversas, vídeos, textos, gráficos, tudo pode ser representado pelo sistema binário dos computadores.

Ainda em matemática, mas com reflexo na arquitetura, engenharia, arte, entre outras, temos a simetria, outro reflexo do dualismo. Ela expõe a igualdade de lados. Boa parte da matemática e da física teórica baseia na simetria, princípio básico para as leis da natureza. Há diversos objetos de simetria aproximados de modelos abstratos idealizados. O ponto principal da teoria da matemática da simetria unifica vários campos, como a geometria, teoria dos números, física, química, biologia. A descoberta dos quarks não fora feita com base em dados empíricos, mas sim com base em padrões da simetria matemática. Atualmente, a teoria da simetria é o feijão com arroz da física de partículas elementares. 

O programa americano chamado Langlands busca unidade na geometria, aritmética e álgebra. Ele está ligado à física quântica. A chave é a dualidade, tanto na física (eletricidade, magnetismo, descritas numa teoria matemática única – denominada eletromagnetismo), como na matemática. Representa um panorama da matemática moderna.

Na arquitetura e na engenharia, precisa-se de uma relação de paridade em entre altura, largura e comprimento das partes necessárias para compor um todo. Assim, a simetria é necessária para a beleza de uma construção, ou para a beleza da figura humana. Ela nos mostra que sempre há dois lados iguais, apesar da simetria nem sempre ser perfeita em razão do dualismo relativo. No entanto, há o dualismo eterno e perfeito: de um lado, o Eu e doutro lado seu reflexo, o Todo.

O dualismo mais comum é do homem e mulher. Do ponto de vista da evolução biológica não tem sentido tal dualismo. A biologia não tem uma boa definição para a vida, mas ela tem certeza que um de seus atributos é a reprodução. Esta, de forma genérica, pode ser assexuada ou sexuada. A reprodução assexuada dispensa outro ser e tem a vantagem evolutiva da independência. A sexuada necessita de outro ser e surgiu depois da assexuada. Esta transição não faz sentido para a evolução biológica, pois dificultou a reprodução. Do ponto de vista integralista e dualista, ela faz sentido, pois integra os seres com a evolução em conjunto.

O inegável dualismo agora se junta ao inegável pluralismo.

Outra filosofia numérica muito comum é o monismo. De forma simples, monismo é a doutrina da unidade. Tudo é UM. Somos indivíduo (UM), dentro de UMA família, dentro de UMA cidade, dentro de UM estado, dentro de UM país, dentro de Planeta, dentro de UM sistema estrelar, dentro de UMA galáxia, dentro de UM universo.

Não há mais dúvida da origem única da vida e do universo. A origem única já é uma espécie de monismo. Tudo tem origem única. Assim tudo é regido por um princípio único. Esta é a causa, cujo efeito é a integração plena do todo.  O monismo filosófico busca unidade em seu sistema. Podem ser de substância (energia), de origem das leis (Deus), de forma (geometria).

Há até uma piada judaica que exemplifica o monismo com humor. Historicamente, haveria 5 monistas judeus que tentavam definir o mundo: para Moisés, tudo é a lei; para Jesus, tudo é amor; para Marx, tudo é dinheiro; para Freud, tudo é sexo; para Einstein, tudo é relativo.

Os estoicos gregos já exaltavam o monismo. Eles surgiram em Atenas por volta de 300 a. C. e Zenão foi considerado seu fundador. Os estoicos diziam que todas as pessoas eram parte de uma mesma razão universal, ou “logos”. Eles consideravam todas as pessoas um mundo em miniatura, um “microcosmo”, que era reflexo do “macrocosmo”.

Isto levou à ideia de um direito universal, o chamado direito natural. O direito natural baseia-se na razão atemporal do homem e do universo e, por isso mesmo, não se modifica no tempo e no espaço. O direito natural vale para todas as pessoas. As diferentes legislações dos diferentes Estados não passavam de imitações imperfeitas de um direito cujas bases estavam na própria natureza.

Os estoicos diziam que os processos naturais - por exemplo a morte e a enfermidade - eram regidos por constantes leis da natureza. Por esta razão, os homens deviam aceitar o seu destino. Nada acontece por acaso. Tudo acontece por que tem de acontecer e de nada adianta o homem chorar quando vier o seu destino. Os estoicos apagavam as diferenças entre o indivíduo e o universo, portanto negavam oposição entre espírito e matéria. Para eles existia apenas uma natureza. Tal concepção é o monismo, em oposição a bipartição da realidade, matéria e espírito.

Há muitos monismos na história. Não cabe aqui um desenho para esmiuçá-los, mas sim uma breve pincelada. A ideia desta obra é apenas mostrar a inspiração deles na Criação ou origem única. Religiões, ciências, filosofias e artes também têm doutrinas, artistas e pensadores monistas. Apenas citaremos alguns com uma leve explanação. Encontram-se concepções monistas na filosofia hindu, no pensamento chinês, na filosofia grega e até os dias de hoje.

O monismo é muito forte nas religiões orientais que têm uma forte proximidade de deus (es). Ao contrário, as religiões de origem hebraica (judaísmo, cristianismo, islamismo), Deus está muito além e muito acima deste mundo. No budismo, hinduísmo e na religião chinesa, há uma fusão com Deus, o espírito cósmico. “Namastê” é uma saudação comum na Ásia que afirma a existência de deuses dentro das pessoas: o deus que habita no meu coração, saúda o deus que habita no seu coração. O objetivo da vida é purificar a alma pelo processo de transmigração dela.

 Religião, cultura e filosofia se misturam no Oriente. O taoísmo, antiga cultura chinesa, acredita numa fonte, ou força motriz de tudo. Para atravessar esta dualidade oposta (yin e yang), usamos o Tao (o caminho), voltando para a força criadora de todas coisas. Neste aspecto, vislumbra-se similaridade com nossas três premissas. O taoísmo prega uma fonte criadora de tudo (a Criação), mas a existência tem que passar pelo dualismo yin- yang. Para isto, eles usam o Tao (a Evolução) e voltam à fonte criadora (a Integração). Nos Vedas, antigas escrituras da Índia, interpretam que Brahma (o deus criador da trindade de deuses indiana) é tudo, substância das almas e do universo.

Na filosofia grega, o monismo invadia o pensamento dos principais filósofos. Eles tentavam compreender a diversidade de todas as coisas a partir de uma única matéria-prima. Na busca pela substância fundamental, alguns acreditavam que era água, outros o ar, outros a terra, outros o fogo. Estes pensamentos juntos ficaram conhecidos como os 4 elementos. Houve quem acreditasse que as misturas dos 4 elementos explicassem a diversidade do mundo, dando um toque pluralista ao pensamento monista.

O filosofo grego Heráclito confiava numa razão universal ou lei universal para todos, chamada por ele de logos ou Deus. A natureza e suas transformações eram uma unidade. Empédocles chamava de Inteligência a força responsável pela ordem e pela criação de tudo. Pitágoras, diferentemente, tem um monismo matemático. Tudo são números.

O grego materialista Demócrito inovou com o monismo atomista, base material da realidade. Deu nome de átomo para as menores partículas da matéria. O átomo seria invisível, imutável e eterno, pois não poderia ter vindo do nada e em nada se transformar. Ele não acreditava numa inteligência que pudesse intervir no processo natural. Não acreditava no acaso, mas sim nas leis inalteráveis da natureza.

Em Atenas, por volta de 300 a C, os estoicos também pregavam a origem das pessoas por uma razão universal. As pessoas seriam um mundo encurtado, um microcosmo, espelho do macrocosmo. Assim, não teria diferenças entre o indivíduo e o universo. Esta ideia originou outra, a de um direito universal.

Plotino, o sucessor do idealismo platônico, defendeu o monismo idealista. O filósofo egípcio viveu entre os anos 205 e 270 d.C. e desenvolveu a escola denominada neoplatonismo. Ela defendia ser a realidade última (ou primeira) do universo a inteligência pura, incognoscível, infinita e perfeita, da qual tudo derivava. Plotino se utilizou do mesmo termo apregoado por Anaxágoras, noûs, como a essência universal consubstanciada no Uno para compor o seu monismo idealista. No período medieval, outros pensadores seguiram Plotino, especialmente Santo Agostinho. Este pregou a trindade da igreja, através da qual o Uno se consubstanciava no Todo.

O holandês Baruch Spinoza, filósofo monista por excelência, advogava a existência de uma única substância da qual tudo mais são derivados. Para ele, espírito e corpo são atributos da substância divina, sendo Deus e a natureza a mesma coisa. Spinoza era crítico do biblismo e contestava a autoria divina da Bíblia. Foi o primeiro a aplicar a interpretação “histórico-crítica” da Bíblia. Era o contexto da época da escrita bíblica a ser analisado e não as palavras bíblicas descontextualizadas. Sob o prisma da eternidade, Spinoza fundamentou sua filosofia. Deus e a sua criação são iguais. Tudo é um.

Para o filósofo Hegel, a verdade é um processo que passa pelo dualismo: tese e antítese. Deste dualismo surgia a síntese e virava tese até chegar uma nova antítese. Esta concatenação de pensamentos, Hegel chamava de evolução dialética. Mas esta evolução não era força cega. Ela ia na direção do espírito universal ou razão universal, a força que impelia a história para frente. Como isto, ele aproximava do monismo.

Depois do Renascimento, o italiano Giordano Bruno pregou um monismo religioso. Deus seria a suprema unidade de todas as coisas e se confundia com a natureza. Foi queimado por seu pensamento monista.

No século XX, inspirados no pensamento evolucionista de Darwin (a luta pela vida), pensadores sem a noção do Tao, sem a visão da integração, tentaram explicar a vida, a consciência e o universo, segundo um monismo materialista. Ernst Haeckel, biólogo alemão, com um monismo biológico explicou a vida, o universo e a própria consciência a partir da evolução de Darwin. Há uma certa beleza em parte de seu pensamento mecanicista. Ele buscou um princípio unificador para reger a evolução, chamado lei biogenética, segundo o qual cada animal percorre, a partir da fase embrionária, todas as etapas evolutivas que o levaram a ocupar o seu lugar na ordem natural. Na embriogênese, o corpo reprisa a evolução da vida neste planeta, passando pelos traços dos peixes, répteis, aves, mamíferos até a forma atual do homem.

A ontogenia é o desenvolvimento embrionário individual e a filogenia é a desenvolvimento evolutivo da origem das espécies. Tal ideia foi adotada pelo pensamento espiritualista moderno. Alguns pensadores espiritualistas uniram a lei biogenética de Haeckel com a reencarnação, tentaram unificar a evolução biológica com o espiritualismo e adoram o princípio espiritual como a unidade da vida.  No livro O Sistema, Pietro Ubaldi defendeu o “telefinalismo” da evolução e das mutações genéticas, antes consideradas acaso pela ciência, agora um evolucionismo espiritualista. http://www.ebookespirita.org/PietroUbaldi/OSistema.pdf  

O filósofo francês Henri Bergson, outro evolucionista espiritualista, em sua obra A Evolução Criadora criticou o cego mecanismo de luta de Darwin. A vida não é uma máquina biológica e tem um propósito em tudo.

No século passado e no atual, o monismo quântico busca uma integração da física relativista à física quântica com a moderna teoria das cordas. Esta busca uma grande teoria unificada. A ciência de nossos dias procura por um monismo substancial que satisfaça o natural anseio filosófico por unicidade. 

Alguns pensadores costumam ver o pluralismo e/ou o dualismo em oposição ao monismo. Não vemos oposição entre tais doutrinas, mas sim uma harmonia entre elas. Esta aversão é infeliz, pois as diversas searas do conhecimento permeiam esta estrutura e estes sistemas de pensamento. Aqui, tais filosofias foram separados para observação didática. Nossa ideia é retratar a realidade sem oposições e com pluralismos, dualismos e monismos, sejam eles efêmeros e absolutos. A origem única pode nos levar a enfatizar o monismo em desfavor do dualismo e pluralismo. Entretanto, estes nunca deixaram de ser realidade. Ou seja, são princípios absolutos. 

O dualismo não tem conflito com a diversidade, com ideias pluralistas, pois as relações são dualistas e sempre poderemos polarizar tudo em razão do princípio criativo. O ato da criação foi dualista (quando dividi a realidade), mas também foi pluralista quanto ao conteúdo, ou seja, muitas criações, muitos minerais, animais e plantas. Esta diversidade não impede as polarizações nas relações.

Da mesma forma, o dualismo tem outras incompreensões. Em religião, o dualismo complicou o pensamento teológico, o qual criou uma força antagônica ao Criador. Demônio, capeta, diabo, lúcifer são algumas denominações vulgares do opositor divino. Muitas religiões têm dificuldades com o pensamento dualístico e enxergam dualismo onde não existe. Tais doutrinas não resistem a menor crítica em desfavor os atributos divinos (perfeição, onisciência, onipresença e onipotência). Se Deus criou tudo perfeito e ele é onisciente, onipotente e onipresente, como pode errar na criação do mal? Se ele é onipotente por que não acaba com ele? Como pode deus estar no mal?

As complicações teológicas com a questão do mal e da dor ocorrem com a maioria das religiões ocidentais. Elas pregam a unicidade de existência e a pós-existência da vida, mas sem a pré-existência. Uma criança que nasce com deficiência física, cega ou surda, é insolúvel com o mal gratuito pelo Criador. A unicidade de existência pregada pelas grandes religiões ocidentais não permite tal solução. Como pode alguém, principalmente uma criança, sofrer um mal sem culpa? Não há um Deus bondoso que faria isto a suas criaturas? Do ponto de vista da perfeição ou cósmico, só pode ter explicação com a pré-existência da alma para solucionar tal questão, resolvida facilmente pela doutrina oriental da reencarnação.

Outra polarização mal compreendida é a cooperação x competição. Mas a direção da vida é sem dúvida da competição para a cooperação. A luta entre predadores e presas repete-se desde a existência da vida. Os predadores aprimoram suas estratégias de caçar, enquanto as presas precisam aprimorar suas defesas. Ambos estão presos a uma relação intensa que os forçam a mudar, pois não podem ficar em desvantagem. Os fracos morrem para os fortes sobreviverem. Essa corrida evolutiva mudou as vidas e os corpos de praticamente todos os seres que existem hoje.

Estas duas forças estão presentes também no mundo vegetal e em nossas relações, conscientemente ou inconscientemente. O futebol pode representar bem essas duas forças. De um lado temos uma equipe fundada na cooperação para competir, lutar, jogar contra outra. Daí o fascínio das pessoas pelo futebol, pois ele representa a vida, ainda que de uma forma efêmera.

Outra polarização aparentemente inconciliável é do criacionismo x evolucionismo, da religião x ciência. Este dualismo também é indevido, pois elas são doutrinas complementares e não se excluem. O problema é que uma defende forças evolutivas cegas e a outra defende um fixismo e fé cega. As religiões pregam um mundo pronto e acabado. Deus criou o homem sem a evolução. Então, negam uma lei natural, criada pela própria divindade, porque um livro “sagrado” está dizendo. As religiões cristãs acabam negando a realidade.

O evolucionismo cego e sem propósito tem muitos problemas. Uma série de 10 artigos sobre os problemas científicos da evolução biológica e química foi publicada no capítulo “The Top Ten Scientific Problems with Biological and Chemical Evolution” do livro “More than Myth” de autoria de Casey Luskin, editado por Paul Brown e Robert Stackpole (Chartwell Press, 2014). Os problemas são:

1) Nenhum existe mecanismo viável para gerar uma sopa primordial;

2) Processos químicos não guiados não podem explicar a origem do código genético;

3) Mutações aleatórias não podem gerar a informação genética requerida para estruturas irredutivelmente complexas;

4) A seleção natural luta para fixar vantagens nas populações;

5) Aparência abrupta de espécies no registro fóssil não suporta a evolução Darwiniana;

6) A biologia molecular falhou em produzir uma grande “Árvore da Vida”;

7) A evolução convergente desafia o darwinismo e destrói a lógica por trás das ancestrais comuns;

8) Diferenças entre embriões de vertebrados contradizem as previsões de ancestrais comuns;

9) Neo-Darwinismo luta para explicar a distribuição biogeográfica de muitas espécies;

10) O neodarwinismo tem uma longa história de previsões imprecisas darwinianas sobre os órgãos vestigiais e o “DNA lixo”.

Problema após problema, o autor vai desconstruindo a ideia de uma evolução cega. Não faz sentido um universo sem sentido. A evolução direciona rumo a integração.

Em harmonia com o exposto, podemos dizer que as polarizações efêmeras inspiram o realismo, o mais forte, a seleção natural. Inspirou também doutrinas nefastas de filósofos, como Maquiavel, Sartre, Nietsche, e inspirou má interpretação da evolução de Darwin. O realismo é materialista, empírico, fatalista, cético, pessimista, sensacionalista, atribuindo todo conhecimento a sensação. As ciências podem atribuir o dualismo a fatos como a Natureza, o Acaso, a Sorte, a Coincidência. Estes deuses da ciência reduzem tudo a causas físicas. O reducionismo acredita ser nossa personalidade devida a causas cerebrais.

Estas são as principais doutrinas filosóficas e numéricas com base na realidade, com base em visões de mundo. Outras numerologias são com base em religiões e esoterismo. Os judeus tinham números sagrados com os números 12 e 5, por causa das 12 tribos de Israel e do pentateuco bíblico. Os cristãos têm números sagrados como 3 e 666, por causa da santíssima trindade e do número da besta. Estes e muitos outros são números de contextos locais e pessoais, sem base racional e real, sem universalidade como os números 0, 1 e 2 e a ideia de infinito para o pluralismo.

 Vamos estruturar estas numerologias em uma visão holística-racionalista e sem esoterismo, sem oposições, sem ambiguidades, sem contradições dentro da realidade. Dado o seu caráter absoluto, a matemática é um bom começo para evitar equívocos dentro de um sistema filosófico. A filosofia pluralista vamos basear na teoria dos conjuntos. Para nós, os objetos matemáticos, sejam números ou pontos, podem participar de conjuntos finitos ou infinitos. A pedagogia da matemática sempre começa por seus elementos (objetos ou conteúdo) em conjuntos.

A teoria de conjuntos nos traz os principais conjuntos numéricos: naturais, inteiros, racionais, reais, complexos. Estes conjuntos têm a característica de serem infinitos. Há muitos outros conjuntos infinitos como o dos números pares, impares, primos. Podemos delimitar estas infinidades, como o conjunto de pares até 10. Em matemática, existe a figura do conjunto vazio, mas ele é, em verdade, um objeto (não um conjunto) para interagir com outros conjuntos (aqui também serão objetos). Funciona como o zero para interagir com outros números. São os objetos de um conjunto que interagem e quando há interação de conjuntos, estes são objetos do sistema. As operações entre conjuntos são interações dentro de um conjunto maior, o conjunto universo.

Os elementos dos conjuntos interagem através das operações binárias. Estas operações enquadram em nosso dualismo filosófico. As expressões e equações aritméticas ou algébricas são em forma de linhas. As operações binárias são realizadas sequencialmente da esquerda para a direita ou por ordem de prioridade: os agrupadores (como parênteses) exercem prioridade, depois os expoentes e radiciações, multiplicações e divisões, subtrações e divisões. Não existe operações simultâneas. Operações ternárias em matemática contém 3 operandos, mas são duas operações binárias sequenciais e não simultâneas. A operação unária em matemática, para nós, não chega a ser uma operação, mas sim uma questão existencial em razão do princípio negacional.

Considerando estas ressalvas, resta o dualismo matemático. Então, o pluralismo filosófico na matemática está nos conjuntos que têm elementos-objetos indo ao infinito e além. A interação entre tais objetos é dualista, enquadrando aqui o dualismo filosófico. Destas interações lógicas (operações) saem um resultado. Este resultado é único e vislumbramos a filosofia monista aqui. Também teremos ressalvas aqui. Podemos ter várias soluções, mas apenas um resultado, como nas raízes algébricas, cujas soluções dependem do grau da equação.

Forte no exposto, conjeturamos uma estrutura pluralista, dualista e monista na matemática. Em teoria de sistemas, vislumbramos a matemática como um sistema ou encadeamento de sistemas. Em essência, sistema é um todo (conjunto em math), composto de partes (objetos em math). O funcionamento do sistema envolve uma entrada, um processamento e uma saída. Ora! A entrada do sistema aritmético são os 2 operandos, o processamento é a operação lógica, a saída é o resultado. Números é um sistema, o conjunto de algarismos suas interações. O sistema decimal tem 10 algarismos, a entrada promove as interações deles, depois há o processamento da base (potencias de 10, no caso de decimal) e tem como saída um número. Números são os menores sistemas em aritmética e álgebra. Depois, temos teoremas, conjecturas, demonstrações como sistemas maiores. Igualmente, podemos vislumbrar a geometria como um sistema, um conjunto de pontos e suas interações. Um círculo é um sistema que envolve um ponto de origem e um raio que determina infinitos pontos equidistantes. A interações entre estes pontos resultam em graus e radianos.

Similarmente, veremos a estrutura pluralista-dualista-monista na linguagem. O vocabulário é um conjunto de palavras (objetos linguísticos), em tese, infinitas. As interações entre as palavras são binárias e sequenciais, obedecendo a ordem da esquerda para a direita. Não existe interações simultâneas de 3 palavras. As interações binárias vão acontecendo em sequência até o ponto final e resulta em a semântica, um significado (um monismo).

A silogismo lógico pode ser visto como um sistema. Retiramos duas premissas de um conjunto de infinitas proposições. Elas vão interagir logicamente e resultar numa conclusão. Notem que expomos sistemas metafísicos: matemática, linguagem e lógica. Podemos observar esta estrutura em toda física, biologia e sociologia. A física vai de sistemas atômicos até sistemas galáticos. A biologia vai de sistemas celulares até sistemas ecológicos. A sociologia vai de sistema familiar até o sistema estatal.

Apesar da lógica ser vista como um sistema, gostamos de vê-la como a dinâmica do sistema. Ela liga a entrada do sistema à saída do sistema. Chamamos de lógica “se-então-senão”. Na matemática, “se” escolhemos 2 operandos quaisquer, “então” a operação aritmética vai ligar esta entrada de operandos à saída do resultado. A dinâmica da lógica é melhor vista na lógica de programação. Inicialmente, os algoritmos expõem uma condição existencial “se”. Caso exista (verdadeiro ou 1), tem como efeito “então”, a execução de uma ação (verdadeiro ou 1). Caso não exista (falso ou 0), tem como efeito “senão”. Por exemplos: se eu conseguir férias, então viajarei; senão trabalharei. Se x=a e a=b, então x=b. Neste caso matemático, o senão vem implícito. A conta está errada.

Celulares e notebooks do mundo inteiro funcionam com esta estrutura. Zilhões de dados (pluralismo) estão disponíveis na rede mundial, passam pela dinâmica da lógica de programação (dualismo) e resultam em informação, ação única e determinada pela lógica (monismo). A programação vai nos fornecer uma informação de saldo em conta ou uma foto ou um áudio. O dualismo lógico nos leva a uma direção única, possibilitando uma integração do todo.

Cientistas e matemáticos buscam padrões com a matemática. Ocorre que a própria matemática tem um padrão: uma infinidade de números e pontos que passam por dualismos para chegar a UM resultado. Em aritmética, os números em interação que passam pelo dualismo das operações para se chegar a um resultado. O propósito dela é UM resultado. Percebemos uma estrutura universal: pluralismo-dualismo-monismo. Similarmente, nós conceituamos linguagem como palavras em interação que passa por dualismos para chegar a UM significado. Este pode ser uma informação, comunicação, conhecimento. Igualmente, a lógica dentro de infinitas proposições promove uma interação de conceitos que passam por dualismos para se chegar a UMA verdade.

De forma igual, o universo é programado. O dualismo é o caminho que integra o todo. Todas nossas decisões passam pelo fluxo do dualismo “se-então” e tem o “senão” como contrafluxo, mas ainda assim integrando o todo. A direção da existência é no fluxo do universo, cabendo o contrafluxo o processo de repetição.

Nosso sistema filosófico oferece um propósito em analogia com a matemática, a linguagem e a lógica. A matemática tem o propósito de um resultado. Este vem através das regras de integração dos números. Semântica é o propósito da linguagem. As regras da linguagem promovem a integração das palavras. O propósito da lógica é oferecer uma verdade. As interações dos conceitos pelas regras levam a uma integração. Interações levam a integração.  Em analogia, a vida promove interações que levam a integração.

 

 

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