sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Capítulo 8 do livro EXISTENCIALISMO METAFÍSICO, A ÚLTIMA FILOSOFIA

 

8 – Da Física para a Metafísica

 

 A humanidade está toda conectada, ela é uma só. A interação entre humanos é a nível do planetário. As pessoas viajam pelo mundo todo e consomem produto do mundo inteiro. São cerca de 7 bilhões de humanos, vivendo em interação. Existe poucas tribos indígenas isoladas, mas eles também sofrem interações indiretas em razão da degradação ambiental. No mundo animal, insetos como cupins, abelhas e formigas vivem em grandes grupos, mas a interação entre eles é meramente instintiva. Tais grupos vivem isolados de outros grupos, não há conexão entre grupos. Há alguns grupos de mamíferos que vivem em conjunto, mas não podem ser grandes grupos para própria sobrevivência em razão da carência de alimentação. Como o homem conseguiu esta façanha? Nós vamos advogar que esta conexão se deve a metafísica. A vida vai da física para a metafísica.

A teoria da evolução prega a origem humana vinda do macaco. Este é classificado primata, como nós. Macacos e seus próximos como chimpanzés vivem em pequenos grupos, comandados pelo macho alfa. Existe uma política para o posto de macho alfa com traços semelhantes a política humana. O macho alfa só consegue manter a harmonia social de cerca de uma dezena de seus pares ou um pouco mais. Grupos maiores geram brigas internas, quebram a ordem social e se dividem em grupos menores.

Da mesma forma que os animais, os primeiros humanos viviam em pequenos grupos, pois grupos grandes desestabilizavam a ordem social. Depois, houve outro aumento de membros de grupos em razão da revolução social. A prosa em torno da fogueira permitiu este aumento com a fofoca (conversa é metafísica) chegando a cerca de uma centena de indivíduos. Organizações maiores não eram possíveis, pois era difícil comandar, evitar brigas e rachas.

O sapiens superou este limite físico com o surgimento do animismo (mitologia, metafísica). Nossos antepassados podiam colaborar acreditando na mesma mitologia. A colaboração humana de grupos maiores se funda em mitos compartilhados que não existe fisicamente, mas só mente das pessoas. As religiões, estados, empresas, sistema jurídicos se fundam em imaginações compartilhados. O estado brasileiro, a religião católica, a empresa Fiat são produtos de nossa imaginação coletiva, uma ficção jurídica e religiosa. Estes não são um objeto físico, mas são construções sociais, realidades imaginadas e existem apenas em nossa mente.  

Em seguida, houve um limiar que historiadores e pesquisadores vão chamar a Revolução Cognitiva, mas nós vamos chamar de Revolução Metafísica. O conceito de física e nosso conceito de metafísica vai colocar a cognição (memória, comunicação, aprendizado) dentro do conceito de metafísica. Os 3 atributos citados não possuem substância e diluem o tempo físico. Tanto a memória como o aprendizado e a comunicação podem ir no futuro e no passado instantaneamente. A física trabalha com o tempo linear. Uma flecha não volta no tempo depois de atirada. 

Antes, o homem nômade era caçador-coletor e vivia em pequenos grupos isolados. Ele passou a manipular o mundo vegetal e a adestrar o mundo animal, virou sedentário o que permitiu aumento significativo de membros. Ele fundou cidades e depois nações e foi para o topo da evolução da vida. A evolução humana é exponencial. A existência das primeiras espécies humanas tem milhões de anos. A revolução industrial tem cerca de 2 séculos e vivemos em plena revolução informacional. Antes, a evolução era biológica, agora é mental, metafísica. Evolução biológica necessita de milhares de anos para uma mutação. Não existe uma explicação biológica para a revolução social. A convivência de grandes sociedades não é um imperativo biológico, mas metafísico. Historiadores como Noah, vão relacionar a cooperação em massa com mitos partilhados. A humanidade inventa histórias como mitologia, nação, empresas para evolução social. A ordem social com base em leis, ética e religiões se deve a metafísica e não a lenta evolução biológica.

O primeiro código escrito é o de Hamurabi. Ele estabelece a ordem social para fazer justiça com base em deuses. Estes apoiavam Hamurabi para ser o governante do povo. Assim, uma ordem superior governava a ordem social. Similarmente, a declaração de independência americana prega um deus americano e direitos humanos alienáveis. Da mesma forma, a lei maior do Brasil tem inspiração divina. Vejam o preâmbulo da constituição brasileira:

“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembléia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.”

A constituição brasileira afirma, sem procuração, estar sob a proteção de Deus. Ela e o código de Hamurabi estabelecem leis para preservar a ordem social, com base numa ordem maior. Assim, todos acreditam ter as leis princípios maiores. O rol de direitos defendidos no preâmbulo pode ser sintetizado apenas em 3 direitos: existência, liberdade e igualdade. Existência é o direito à vida. No Brasil, a vida é um direito absoluto. Poucos países implantam a pena de morte pelo mundo. Este direito é fácil de entender. Já os direitos a liberdade e igualdade são aparentemente fáceis de falar e escrever, mas são profundos, muitas vezes difíceis de identificar e, principalmente, difíceis de conciliar.

O cristianismo prega a existência da alma humana de origem divina e todas seriam iguais. A biologia pensa diferente em termos de evolução, liberdade e igualdade. A vida não foi criada, mas evoluída. Não existe liberdade e nem igualdade. A seleção natural vai privilegiar o mais forte ou o mais habilidoso. A biologia também nega a existência da liberdade, pois a biologia ignora a ordem social. Hoje, sabemos que a ordem social defende o mais fraco do mais forte. Fragilidades humanas como as doenças são combatidas pela saúde pública. Uma ordem social busca estabilidade com polícia, justiça e ideais políticos como igualdade e liberdade.

A revolução francesa, em 1789, defendeu uma trindade de valores ideais: liberdade, igualdade e fraternidade. Ela inspirou a declaração universal dos direitos humanos, proclamada pela assembleia da ONU em 1948. Em seu artigo primeiro, ela diz: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.” A fraternidade não chega a ser um mandamento legal, mas liberdade e igualdade são mandamentos legais. Eles são repetidos inúmeras vezes ao longo da declaração. 

Desde então, a ordem política vê a igualdade e a liberdade como valores fundamentais, mas estes valores ainda são contraditórios. A elevação do valor igualdade tende a diminuir as liberdades e vice-versa. Desde a declaração dos direitos humanos, a política busca superar esta contradição. No Brasil, a política contemporânea gira em torno da polarização Bolsonaro e Lula, representantes do capitalismo x o socialismo. Se você brasileiro não escolher um deles, a culpa é sua do país não ser melhor. As pessoas confundem ideal com pessoal e os eleitores deles acreditam que os 2 líderes são salvadores da direita e da esquerda.

A política americana vive também em torno desta contradição. Os democratas são de viés socialista e querem mais igualdade social. Porém, isto restringe a liberdade financeira de gastar como quiser, pois implica em aumento de impostos para assistência social de pobres e enfermos. Os republicanos querem liberdade para consumir seu dinheiro como quiserem, mas isto implica em desigualdade social e de renda.

Na prática, a ideologia de esquerda privilegia uma pequena elite com riqueza e iguala todos na pobreza. A ideologia de direita gera riqueza, mas gera ricos e um grande consumismo estéril. A riqueza deve ser para todos, mas apenas para a sua evolução e não para um consumismo desenfreado que levaria a destruição do planeta.

Os ideais de existência, liberdade e igualdade são metafísicos e buscam a unificação da humanidade. Eles habituaram as pessoas a pensar e viver de forma igual, seguindo padrões e regras, chamado de cultura. Esta não é produto de evolução, não é um instinto biológico, mas de uma ordem imaginada. A cultura humana compartilha o mesmo sistema geopolítico planetário. Nenhum país vive isolado e a crise de um deles pode afetar todos os outros. Não conseguimos conciliar os valores filosóficos de liberdade e igualdade. Este dilema gera conflitos e tensões em todas as culturas.

O paradigma da humanidade é ainda o paradigma de física. Para a física, a realidade é matéria-tempo-espaço, algo material no tempo espaço. Precisamos de um novo paradigma. Logo, vamos fazer uma abordagem racionalista. Nós vamos propor uma alternativa, nossa realidade é metafisica, sem matéria, sem tempo e espaço. Semelhantemente, a matemática também tem os valores fundamentais de liberdade e igualdade e tem problema existencial de seus objetos. A matemática é uma ordem metafísica e funciona de modo preciso com estes dois valores. A humanidade precisa entender a sua existência frente aos valores fundamentais liberdade e igualdade.

Há muito tempo, o homem busca explicações para a existência. Primeiro foram as narrativas mitológicas, em seguida as religiões com base em narrativas míticas. Modernamente, a ciência com base em seu método empirista tenta explicar o universo e a vida como algo no tempo-espaço. Estas searas do conhecimento promoveram um embate, mas as questões existenciais permanecem. De onde viemos e o que somos nós? O homem não quer só comida. Há milênios religiosos, filósofos, poetas e cientistas tentam responder estes enigmas da existência. No entanto, ainda não há uma resposta satisfatória.

O homem, em alguma fase de sua existência, faz as perguntas existenciais. Elas são denominadas questões existenciais por referir à vida e a sua existência.  Os mitos foram os primeiros a responder tais questionamentos. Em regra, eles buscavam explicar o mundo físico através do mundo metafísico. O mundo físico é constituído de homens e o mundo metafísico é constituído de deuses que interferem no mundo físico. 

A diversidade de mitos para explicar o mesmo mundo metafisico pode e deve ser questionada, pois os mitos é uma forma infantil de explicar a realidade metafisica. Mas, o mundo metafisico está em todas as culturas e povos. Assim, ele é universal e não deve ser negado. Os mitos de todos os povos e culturas sempre têm o mesmo conteúdo e forma narrativa. Apenas mudam os personagens e o contexto. A criação dos deuses, a criação do mundo, do homem e a relação conturbada entre homens e deuses. O mundo metafísico é universal e não deve ser negado.

As religiões apropriaram dos mitos e passaram a exercer poder sobre o mundo dos homens e do mundo metafísico. Com o tempo, a igreja transformou os deuses em santos. Estes personagens adotaram os poderes e qualidades daqueles. Os deuses pagãos eram bonitos, fortes e detinham superpoderes e influenciavam seus adoradores. Eles também inspiraram personagens bíblicos, os super-heróis da TV, das HQs, da Literatura. Também inspiraram os ídolos do esporte, música e cinema, sempre bonitos, fortes, saudáveis. Estes mitos modernos também influenciam seus fãs na moda, alimentação, lugares.

O homem tem necessidade de saber sua origem. Causa e efeito é um princípio cósmico inerente a vida e o universo. Entretanto, os pensamentos atuais e históricos não apresentam soluções, mas divisões. A física vai dizer que a nossa origem é única e o tudo veio com o Big Bang. Antes, existia o Nada. As religiões monoteístas também vão dizer que nossa origem é única, mas que viemos de Deus. Ambas pregam origem única, mas divergem quanto a causa primaria. Enquanto uma prega uma inteligência como causa primária, a outra prega o Nada e o Acaso como causas primárias. Isto gerou uma discussão filosófica-cientifica sobre a origem da vida: acidente ou design?

Nesta esteira, o conhecimento hodierno pode ser dividido entre os pensamentos físico e metafísico. O pensamento puramente físico ficou a cargo da ciência e o metafísico a cargo das religiões. Hodiernamente, a filosofia segue a ciência e se distancia da metafísica. A arte não possui um próprio conhecimento elaborado e se diverte com todos os pensamentos.

A ciência nega o pensamento metafísico. As variáveis da ciência na busca pela origem da vida são: matéria, energia, lei natural, irregularidades naturais, processo do acaso. Não se pode usar mente ou inteligência para explicar a natureza.  Este pensamento ficou conhecido como materialismo científico. A vida seria uma evolução química cega. Uma química natural seria a explicação para a vida baseada no acaso. Porém, estatisticamente não existe possibilidade de o acaso ser o instrumento criador da vida. Nem mesmo teorias biológicas como a seleção natural e auto-organização não conseguem explicar a existência.

A ciência busca descrever a natureza e daí resulta o princípio natural. Ou seja, a ciência busca verdades em processos naturais. Com isto, ela quer dizer que o sobrenatural não interfere na natureza. Neste aspecto, a ciência tem razão. Realmente, mito e religiões exageraram em narrativas de intervenções divinas diretas na vida das pessoas. Até hoje, as pessoas rezam para seu time de futebol ganhar uma partida ou um campeonato e agradecem a um deus. Uma ordem superior não poderia admitir uma intervenção cósmica na vida das pessoas, pois a existência deve ser perfeita e não precisa de reparos ou emendas.

Esta mesma ciência dividiu o conhecimento em objeto e sujeito. Sócrates centrou no sujeito, buscava o autoconhecimento, o “conheça-te a ti mesmo”. Descartes também pregava o autoconhecimento a partir do sujeito: “Penso, logo existo”.  Para eles, a filosofia deveria começar pelo sujeito. A revolução industrial, o positivismo, o pragmatismo levaram o pensamento para o objeto, para as coisas materiais e o consumismo extremo. O existencialismo ateu em nada ajudou o estudo do sujeito. O idealismo perde força para o realismo. A vida passa a ser vista como uma máquina.

Em sintonia com o materialismo, a teoria da evolução unificou mente e corpo e enfatizou a luta pela sobrevivência. Inspirou pensamentos materialistas e pragmáticos. Positivistas passaram a pregar a vida em termos biológicos e não metafísicos.  O pensamento pragmático busca resultados, utiliza objetos e tecnologia para isto. O utilitarismo avalia os bens pelos números de usos. A teoria de Darwin enfatiza a luta pela vida, o mais apto é quem sobrevive. Mecanicistas acreditam em apenas uma base mecânica e material de todo evento e descartam a mente.

Para a biologia, a vida é uma máquina biológica. Ela é comandada pelo cérebro, genes e hormônios. Não existe uma alma conectada ao corpo. Não existe um espírito por trás da matéria. Não existe a metafísica.  A vida é apenas uma máquina comandada pelo cérebro. Este é visto como usina de energia, uma máquina elétrica e química. Após o estudo de comportamentos diversos, observa-se a atividade elétrica dos neurônios. Vale dizer, estudar o cérebro pela neurologia é implantar eletrodos na cabeça humana e mapear o cérebro, conforme registre atividade elétrica em comportamentos produzidos.

Como a ciência nega o mundo metafísico, uma resposta da química para a vida poderia ser assim: somos a reunião de 55% de água, 23% de carbono, 2,6% de nitrogênio, 1,4% de cálcio e 0,8 de outros elementos. A biologia poderia responder assim: somos 10 trilhões de células e mais outros 100 trilhões de seres estranhos a nós (bactérias, vírus). A física poderia dizer: somos um grande vazio, pois a eletrosfera do átomo é 100.000 vezes maior que seu núcleo. A biofísica poderia também dizer: somos sinais elétricos que enviam informações dos sentidos ao cérebro. A astrofísica diria: somos poeiras estrelar.

Vida, para a ciência, é mais fácil identificar do que definir. Não existe uma definição de vida universalmente aceita pelos cientistas. Há apenas algumas características como reprodução, sobrevivência. Cientistas gostam de ver a vida como reações químicas. Amor seria apenas uma reação bioquímica para perpetuar genes. A biologia seria uma química viva. Entretanto, eles não sabem como é esta passagem da química para a biologia.

Para o cientificismo, a vida também estaria relacionada com eletricidade. Átomos e moléculas interagem eletricamente entre si. Forças químicas e físicas seriam responsáveis pela vida.  Esta é uma perspectiva científica e mecanicista da vida. Mas, e a consciência? A ciência também não tem uma boa resposta, mas também reduz ao materialismo. O cinema pegou carona na onda científica e deu “consciência” às maquinas e um sem fim cinematográfico: Robocop, O Exterminador do Futuro, O Homem Bicentenário, Blade Runner, Chapie, Eu Robô, entre outros.

Esta ideia do homem como máquina o desumaniza e prejudica o pensamento da humanidade. Prejudica a busca pelo bem e o afastamento do mal. Prejudica a busca do ideal. As massas acabam por buscar a fé cega. A filosofia perdeu autonomia e segue a ciência. Porém, o verdadeiro filósofo busca a identidade, o “Eu” para a vida e pergunta: onde está o “Eu”? No cérebro, alguns dirão, mas especificamente na glândula pineal. Muito se discute sobre a função desta glândula, mas ela está ligada ao sono. Descartes afirma ser tal glândula o ponto de contato entre a alma e o corpo, assim com uma função transcendente.

Somos únicos, sem igual. Cada um de nós é único. Biologicamente, somos únicos, pois nossas digitais localizadas nas pontas dos dedos são únicas, pois não existem digitais iguais. Também nossas íris de nossos olhos são únicas. A probabilidade de encontrar íris iguais em seres humanos diferentes é praticamente 0. Também temos DNA único.

Psicologicamente, somos únicos. Nem mesmos os gêmeos univitelinos ou idênticos têm a mesma personalidade. Apesar de partilharem precisamente o mesmo DNA, estudos sugerem que os gêmeos idênticos podem apresentar personalidades completamente diferentes, ainda que criados na mesma família.

Socialmente, também somos únicos. Nós temos nomes, sobrenomes apelidos que vão nos diferenciar um do outro. No entanto, acontece de encontrar nomes iguais entre pessoas diferentes, mas possuímos diversos documentos que nos identificam sem iguais e usam a matemática, números, para nos diferenciar. Carteira de identidade, registro geral, CPF, passaporte são documentos emitidos pelos governos para confirmar a identificação das pessoas. Nestes são registrados os dados pessoais, como nome, data de nascimento, sexo, filiação, impressão digital, foto e assinatura com um número de identificação que vão reconhecer o cidadão.

Além da unidade de identidade física, psicológica e social, a modernidade nos brindou com a identidade digital. O usuário eletrônico tem a liberdade de escolher um nome digital (login) e um endereço digital (e-mail). Notem que este mundo digital também é um mundo metafísico, sem substância ou matéria. O sistema binário utilizado pela eletrônica ora detecta uma corrente elétrica, ora detecta o nada para produzir palavras, números, imagens, sons, filmes, fotografias, gráficos, entre outros.

A pergunta “quem sou eu?” não chega a ser existencial, pois temos nome, endereço, número, profissão que nos identificam. A questão existencial é “o que somos nós?”

A ciência nunca terá uma resposta para o que sou eu, o que é a vida, quando começa e termina. Nunca responderão porque a matéria inorgânica se tornou-se orgânica. Nunca responderão o que é a consciência, pois estas searas não pertencem aos seus estudos e sim ao campo metafísico. Toda vez que a ciência tenta explicar materialmente o mundo metafísico, ela fica em uma sinuca de bico.

A neurobiologia tenta subordinar todas ciências e a filosofia a seu paradigma. A biologia tenta subordinar as ciências humanas e sociais a seu paradigma. A física tenta subordinar a química e todas as outras ciências a seu paradigma, pois acredita (ela também tem fé) que seu trabalho com os elementos fundamentais da matéria pode identificar padrões e prever evoluções de qualquer sistema.

Entretanto, a neurobiologia não sabe dizer o que é a consciência e não acessa seu conteúdo. A biologia não sabe dizer o que é a vida e como a matéria inorgânica tornou-se orgânica. A física não sabe explicar a natureza da matemática e nem a sua eficiência em representar a realidade material. Tais questões são da natureza metafísica e sem solução material. A abordagem científica e sua quantificação é um fantástico instrumento do conhecimento. Mas, negar outras formas de conhecimento, negar o pensamento racional, negar o mundo metafisico é ignorância.

Fazendo contraponto a ideologia da ciência, críticos chamam de cientificismo esta crença excessiva no método científico. Este neologismo é utilizado para criticar o reducionismo e excessos científicos. Ela é uma palavra pejorativa usada por filósofos e humanistas para criticar algumas ciências como a física, a biologia, a neurologia que acreditam reduzir tudo a sua ciência. Tais ciências desumanizam as pessoas ao tentar reduzir tudo a átomos, a células e a sinais elétricos do cérebro.

O objeto de estudo da ciência é o todo, a totalidade da realidade, compreender todo o universo. Mas a ciência nega o mundo metafísico. Apesar de ser, digamos, embaçado este universo metafísico, as religiões o pregaram em todos os tempos e espaços. Assim, podemos dizer que ele é universal, pois existe em todos os tempos e lugares. Ele sendo universal, não estaria a ciência negando a realidade?

A ciência, então, não estuda o todo. Por que ela não estuda o todo? Porque o método científico é voltado para o exterior do mundo e não para o interior do sujeito. A própria ciência dividiu a realidade em sujeito e objeto: aquele que conhece e aquilo que é conhecido. O objeto de estudo da ciência segue o paradigma da física, é a matéria no tempo-espaço. O método empírico científico busca o conhecimento do mundo físico e exterior, mas não do mundo interior, o mundo metafísico.

Neste sentido, a psicologia baseou equivocadamente no método científico ao estudar a psique, a alma, o “eu” ou sujeito do conhecimento. Embora Sócrates dissesse há quase 2.500 anos “conheça-te a ti mesmo”, assim com ênfase pleonástica no “eu”, a humanidade não resolveu a questão existencial. A observação do mundo exterior tem a autoridade da ciência. Todavia, o mundo interior não está nos sentidos, no sistema nervoso e nem mesmo no cérebro. Imagine um carro: ele tem vários sistemas: de freio, de aceleração, de energia, refrigeração, segurança. Mas quem comanda ele, tenha ele uma central de computador ou não, é o homem. É algo externo a ele que é apenas um instrumento. Da mesma forma, o corpo é apenas um instrumento a serviço do “eu”, do espírito ou qualquer nome que o leitor quiser dar.

Tanto a biologia quanto a física pregam forças cegas no comando do corpo e do universo. A vida não pode ser um mero acidente, uma série de acasos como quer a ciência. Nada faz sentido se não fomos planejados e com um universo sem propósito. Há um propósito cósmico de integração no universo. As perguntas existenciais ainda continuam para filósofos, cientistas, artistas e religiosos. Eles continuam tentando explicar o enigma da existência.

Na esteira das forças cegas, a ciência apresenta uma versão conhecida como “Universo Acidental” ou “Universo Absurdo”, o universo é um acidente, a vida é um acidente, e não existe um objetivo consciente por trás do que ocorre no mundo. Existimos em um cosmo sem objetivo, frutos de forças brutas e somos um evento raro e não um ato premeditado.

Porém, se estamos ou não vivendo uma grande realidade simulada é uma pergunta a qual a ciência não pode dar uma boa resposta. É possível que esta realidade material seja uma grande ilusão. Na verdade, esta é uma questão filosófica clássica. Ou seja, a Matrix é aqui. O universo menos palpável não nos é estranho. Com a linguagem, podemos nos referir a fatos, objetos ausente, passados, futuros, hipotéticos e mesmo abstratos. Com a matemática, podemos criar mentalmente antes de realizamos materialmente.

Quando falamos, estamos criando em nossa mente uma outra realidade. A realidade virtual, paralela, metafísica e ao mesmo tempo longe da real. Todos percebem o mundo biologicamente da mesma maneira. Entretanto, cada indivíduo tem um sistema particular de valores. O mundo que acreditamos viver é um simulacro do real que passa pelos filtros biológico e ideológico. Esse mundo que existe na mente do homem (universo paralelo) criado pela linguagem. Isto é o que chamamos de visão do mundo.

A ciência se diz empirista (materialista), vale dizer, para existir tem que ser possível ver, cheirar, degustar, ouvir ou tatear o objeto de estudo. Como fazer isto com as leis de newton? Como cheirar, tatear ou ouvir a matemática? Em verdade, tais leis têm que ser processadas pela mente, uma entidade metafísica. Então, tanto a matemática como as leis físicas são leis metafísicas. Nossa origem é metafísica, nossa natureza é metafísica como a linguagem e a matemática são metafísicas. 

Da mesma forma leviana, cientistas atribuem determinados fenômenos religiosos a sentimentos e sensações, como o medo, a imaginação, a alucinação mesmo sem evidências empíricas. Mas atribuir o medo e a superstição como origem de todas as religiões, em todos os tempos e espaços, seriam negar o que é universal, seria negar a realidade. O medo não pode afetar a todos, o tempo todo em todos os cantos. Este “erro” universal não será provado como origem das religiões em todos os tempos e espaços. A transcendência é inata, está em todos seres humanos e em todos os tempos e espaços. A alternância entre os mundos físico e metafísico explica a espiritualidade e não o medo.

Entretanto, o ensino religioso atual é o mesmo pensamento mitológico de milênios atrás. As teologias vencidas ainda reinam em pleno século XXI, convivendo com modernas tecnologias. Dogmas não permitem sua evolução e isto levou a ciência a ridicularizar o pensamento religioso. As infantis teologias apropriaram do metafísico, mas seu pensamento está vencido.

Primeiro, foi a filosofia a questionar tais teologias com base em narrativas mitológicas. Como havia muitas explicações míticas para este mesmo tema, estudiosos passaram a desconfiar dos mitos. Surgem os filósofos que procuravam explicações naturais para o mundo. Este era chamado de cosmo que significava mundo organizado e racional. Por isto, adicionaram o termo logos ao cosmo, resultou em cosmologia: o conhecimento racional do mundo.  O mito perde espaço para a razão.

Modernamente foi a vez da ciência desafiar os mitos. Antes do Big Bang, não existia matéria, tempo e espaço. Apenas o Nada. Para física, não existe um Criador. O universo surgiu por si mesmo. É a criação a partir do Nada. A física substantivou o pronome “nada”. A santíssima trindade desta ciência é o espaço, o tempo e a matéria. A ciência tornou-se existencial.

Há um propósito cósmico do universo. A história é a execução de um plano até agora oculto da natureza que conduz a um progresso moral e político da humanidade. A história universal tem um propósito cosmopolita, como queria o filósofo Kant. O progresso da ciência está atrelado a supremos interesses. A origem única convenceu as religiões, a ciência, a filosofia e as artes. Tudo parece ter um começo, meio e fim. A vida registra o nascimento de todos os homens. Depois, sua maioridade, casamento, divórcio. No fim, o falecimento. Cidades, países, animais, rios, mares, tudo tem uma história como início, meio e fim. Bom, muitos ainda não tiveram um “fim”, mas chegarão lá com o tempo.

A diversidade do mundo natural tem origem única que a tudo engloba. A essência da busca existencial é a convicção de que tudo está interligado. Muitos cientistas advogam uma ordem por trás do aparente caos. A ordem oculta permeia tudo. Esta busca uniria a mente de Deus com uma teoria final. Há uma teoria física que propõe uma unificação do mundo material: a Teoria de Tudo. Outra teoria se prontificou a dar suporte a teoria final: a Teoria das Supercordas, são tubos submicroscópicos de energia que vibram. Porém, mesmo que tal teoria confirme esta unificação, os impasses científico-religiosos não vão permitir um consenso. Como alternativa a este eterno confronto, nós apresentamos nossa abordagem.

O mundo metafísico sempre esteve presente nas religiões sem limite de tempo espaço. Em todos os lugares, do aborígene na Austrália as tribos indígenas da Amazônia, em todas as épocas, dos primitivos humanos aos dias de hoje, o homem sempre uniu o mundo metafísico ao mundo físico. É um fenômeno universal. A própria ciência dialoga com o metafísico, pois para descrever suas pesquisas depende da linguagem, que é metafísica. Para moldar quantitativamente suas pesquisas, utiliza a matemática, que também é metafísica. A matemática e a linguagem, sendo metafísicas, também têm uma base metafísica, a mente. 

A ciência defende a vida e o universo como produtos do acaso, do nada, da sorte, da coincidência. Não de um ato de vontade. O universo surgiu por si mesmo. É a criação a partir do nada. Cientificamente, podemos asseverar que viemos de uma explosão depois do nada. Somos uma máquina biológica. O Sol irá aquecer a Terra e vida deixará de existir. Em seguida, o universo vai perder energia e também extinguir. A vida e o universo voltarão para o Nada. Numa frase: somos uma máquina biológica entre dois nadas. Ah, a ciência existencialista oferece forças cegas em troca da fé cega religiosa!

Esta divergência entre os pensamentos religioso e científico é estéril. A matemática está em todas as ciências. Ela não possui matéria-tempo-espaço, sendo assim metafísica por excelência, mas que pode ser aplicada em toda realidade material. Igualmente, a linguagem é metafísica. Neste sentido, a ciência é o estudo de um mundo físico em interação com um mundo metafísico, igualmente as religiões.

 

 

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