Em razão do número de deuses, as religiões são frequentemente divididas em 3: monoteístas, dualistas e politeístas. As politeístas contêm inúmeros deuses e tem clara origem no animismo. O homem primitivo do passado era politeísta e convivia com entidades metafísicas diversas. Além de seus familiares mortos e também maus espíritos, existia uma infinidade de entidades que habitavam pedras, rios, mares, árvores, montanhas, entre outros. Os fenômenos da natureza, como o trovão, eram produzidos pelos deuses. Na mitologia nórdica, Thor, o deus do trovão, ficou famoso nos HQ’s e em Hollywood.
Ainda hoje, nós vemos associação entre
natureza e deuses. Nas religiões afro-brasileiras, Iemanjá é a rainha do mar.
Ela é uma entidade metafísica muitas vezes retratada pela arte afrodescendente.
Hoje é muito comum o sincretismo de religiões, uma fusão de diferentes deuses,
doutrinas e imagens. No sincretismo afro-cristão, Iemanjá corresponde à Nossa
Senhora da Conceição. Os deuses oriundos das religiões africanas, denominados
orixás, correspondem a diversos santos católicos. Aqui nós podemos perceber traços
do politeísmo dentro da religião cristã e monoteísta.
No passado, o animismo era uma crença
dominante. A tradição oral o tornou uma narrativa mitológica. Cada tribo ou clã
de caçadores-coletores tinha sua narrativa mitológica que regulava o
comportamento de seus membros. Estas leis ora eram leis sobre-humanas, ora eram
leis de convivência que permitia a ordem social. A lei que proíbe matar um
membro da tribo era uma lei natural de convivência e sobrevivência. Estava e
está em todas as tribos. Imagine à noite, um caçador-coletor em sua caverna
querendo descansar. Como ele vai dormir sem a regra de não matar para os outros
membros de sua comunidade? Igualmente, a regra de não furtar impede que outro
caçador-coletor pegue a lança daquele que está dormindo. Então, as proibições
de não matar e não furtar eram universais. Não era preciso um deus escrever
tais leis em pedras.
As leis locais valiam para os membros da
comunidade. Para outras comunidades, tais leis não tinham aplicação, mesmo
porque eles estavam em constantes conflitos com outras tribos. Matar e saquear
eram a regra entre tribos diferentes. Igualmente as leis locais, as narrativas
sobrenaturais, como a da criação do mundo, valiam apenas para os cultuadores
locais. Eles não precisavam converter pessoas caçadores-coletores de outras
tribos que tinham sua própria narrativa de criação, além de suas próprias leis.
Com a revolução agrícola, a complexidade
metafísica aumenta com a chegada de novos deuses e deusas como o deus da chuva
e a deusa da fertilidade. A complexidade metafísica aumentou novamente com o
surgimento do comércio, reinos e impérios. Reis assumem uma identidade divina,
pois grandes quantidades de pessoas precisam de uma autoridade maior. O poder
de deuses no corpo de um rei tinha autoridade metafísica para controlar todo o
reino ou império e não apenas poucas pessoas num local isolado. O mundo físico mais
uma vez se mistura ao mundo metafísico. Controlado por divindades poderosas, o
mundo mais uma vez era uma interação entre deuses e humanos.
Mesmo no politeísmo, por vezes, as
narrativas mitológicas apresentam um poder principal entre os diferentes deuses
e entidades espirituais. No politeísmo grego, Moros, deus do destino dominava
os mortais e os deuses, inclusive Zeus e Apolo. Olodumaré vive numa dimensão
metafísica, chamada de Orum, e é um deus supremo de religiões de tradição afro.
Porém, este poder central seria incorruptível, destituído de interesses e não
ouviria prece dos fiéis. Então, não adiantava construir templos para estes
deuses que eram imparciais.
Diferentemente, o monoteísmo acreditava
num poder parcial divino. As religiões monoteístas surgiram da crença dos fiéis
que o deus pessoal tinha poder absoluto. Assim, poderiam fazer parcerias com a
divindade para ganhar uma guerra ou curar uma doença. Aquenáton, faraó egípcio,
por decreto, implantou a primeira religião monoteísta no mundo. O deus Aton (do
sol) seria o único deus do Egito, mas quando Aquenátom morreu o politeísmo
voltou. Depois, o judaísmo implantou o monoteísmo que continua forte. Do panteão
de deuses cananeus, o deus guerreiro Javé vai transformar o politeísmo em
monoteísmo. O cristianismo vai cuidar da divulgação do deus judeu e difundir o
monoteísmo.
As religiões do passado eram locais e suas
leis valiam para suas comunidades. Seus deuses eram divindades locais. O
judaísmo promoveu um monoteísmo exclusivo para seu povo. Um deus para chamar de
meu. Paulo de Tarso foi o responsável pela fundação da religião Cristã.
Enquanto os judeus acreditam em um deus local que governava o privilegiado povo
judeu, Paulo doutrinou o Deus universal para todos os povos, judeus e pagãos.
Ele asseverou: “Já não há nem judeu nem grego, nem escravo nem livre, nem homem
nem mulher, pois todos vós sois um em Cristo Jesus" (Gálatas 3:28).
Esta ideia nos leva ao princípio da igualdade.
O fato de todos os homens serem filhos de Deus, ou seja, todos terem a mesma
origem gerava a igualdade. Além da igualdade, o cristianismo também nos deu a
ideia de liberdade. A Bíblia tem várias citações de liberdade em sua narrativa.
Mas a liberdade parece ser uma conquista pessoal do crente ao se livrar dos
pecados, segundo algumas citações. A mais comum é a famosa fala de Jesus “... e
conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Outras: “Andarei em verdadeira
liberdade, pois tenho buscado os teus preceitos”. Salmos 119:45; “Mas agora que
vocês foram libertados do pecado e se tornaram escravos de Deus o fruto que
colhem leva à santidade, e o seu fim é a vida eterna.” Romanos 6:22. Paulo de
Tarso ainda resolve a questão da responsabilidade em razão da liberdade: “Tudo
me é lícito, mas nem tudo me convém” 1 Coríntios 6:12.
Na Constituição Federal brasileira, na
Declaração Universal dos Direitos Humanos e em todas democracias, liberdade e
igualdade são os maiores valores jurídicos que se juntam ao direito a vida, o
direito de existir. A Bíblia e os cristãos nos presentearam ao ajudar a
disseminar tais valores jurídicos-filosóficos pelo mundo. Tais valores só
existem na mente humana, ou seja, são metafísicos. No mundo animal, uma presa
não tem o direito de existir, não tem o direito de caminhar livremente e a
salvo pelos campos e nem o direito de igualdade a um predador. Existência,
liberdade e igualdade são valores bíblicos e são os maiores valores jurídicos. O
EM vislumbra estes valores em toda matemática.
O cristianismo trouxe a ideia de uma ordem
universal, onde todos eram filhos de Deus. Neste sentido todos são iguais e
ainda possuíam o livre-arbítrio. No biblismo, Jesus tornou modelo e guia de
todos os homens. Ele foi um revolucionário moral, mas não pregou nenhuma
religião. Ele não era um revolucionário político como pensa alguns, pois ele
não pregou nenhum nacionalismo, nenhuma ideologia, nenhum conceito de
democracia. Na bíblia, quando questionado pelos judeus sobre o pagamento de
impostos para os romanos, Jesus sabiamente respondeu: a Cesar o que é de Cesar
e a Deus o que é de Deus. Para Paulo de Tarso, o deus Jesus desceu do céu para
salvar toda a humanidade do pecado original. Então, o conhecimento do
evangelho, a boa nova, precisa chegar a todos. O monoteísmo do islã veio da
vitória cristã. Para o Ocidente, o monoteísmo ocupou posição na ordem política.
Apesar desta doutrina surpreendente de
Paulo, a igreja veio depois dele e distorceu tal doutrina: a igreja foi
conivente com a escravidão, com o nazismo e o fascismo; via a mulher como ser
inferior ao homem e os índios como seres inferiores aos europeus; inovou com a
técnica da tortura para confissão de “pecados” e a universalizou para militares
e policiais do mundo inteiro; também universalizou a técnica de convocar a
população para delatar pecadores, utilizado pelos militares e policiais para a
população denunciar “comunistas”.
Além de distorcer uma doutrina
inteligente, a igreja nunca resolveu a questão do mal. O filósofo grego Epicuro
debruçou sobre a questão do mal e Deus. Se Deus criou tudo perfeito e ele é
onisciente, onipotente e onipresente, como pôde errar na criação do mal? Se ele
é onipotente por que não acaba com ele? Como pode deus estar no mal? Estes
questionamentos induziram ao chamado Paradoxo de Epicuro.
Em
religião, este dualismo do bem x mal complicou o pensamento teológico. Na
tentativa de resolver a questão do mal, a igreja criou uma força antagônica ao
Criador. Demônio, capeta, diabo, lúcifer são algumas denominações vulgares do
opositor divino. Muitas religiões têm dificuldades com o pensamento dualístico
e enxergam dualismo onde não existe. Tais doutrinas não resistem a menor crítica
em desfavor dos atributos divinos (bondade, perfeição, onisciência, onipresença
e onipotência). Se Deus pode tudo, porque não elimina o mal.
As complicações teológicas com a questão
do mal e da dor ocorrem com a maioria das igrejas ocidentais. Talvez estas
complicações tenham origem no zoroastrismo que era contemporâneo ou mesmo
anterior ao judaísmo. Doutrinas judaico-cristã como o paraíso, a ressurreição,
o juízo final e a vinda de um messias, vieram do zoroastrismo. Apesar de pregar
um certo monoteísmo, o zoroastrismo também prega um dualismo, duas divindades
sendo uma representada pelo bem e outra pelo mal.
Esta força opositora a Deus resolve a
questão do mal, porém se contrapõe ao monoteísmo que prega uma ordem universal.
O dualismo ofusca a existência de uma ordem universal. Se Deus não tem poder
central, já que tem um opositor, de onde vem as leis para estabelecer as
relações entre as duas divindades? Por que Deus não acaba com o mal?
Neste sentido, o politeísmo e o dualismo
ainda têm existência dentro das religiões ocidentais. Apesar de pregarem a
existência de um só Deus, o cristianismo ampliou com um panteão de santos
semelhantes aos deuses politeístas. Também pregam uma luta dualista e eterna
entre Deus e o Diabo. A mistura de monoteísmo, dualismo e politeísmo promove
paradoxos insolúveis. Enfim, as religiões monoteístas pregam uma ordem
universal com uma fé cega e uma desordem racional.
Em razão disto, as religiões perdem força.
No passado, as religiões e as mitologias tinham monopólio do conhecimento e
eram respeitadas. A filosofia, as artes e as ciências saíram das religiões e
disseminaram o conhecimento. Os dogmas das religiões foram alvo de críticas e
resultou em discriminação e desunião. As religiões têm hierarquias e ordens
sociais frágeis, mas sua legitimidade sobre-humana sustenta as estruturas
frágeis e, assim, garante a estabilidade. Define-se religião como sistema de
normas e valores humanos que se baseia numa ordem sobre-humana. As maiores
religiões do mundo, cristianismo e islamismo, são universais e missionárias,
mas as religiões antigas eram locais e exclusivas, acreditavam deidades locais
e não tinham interesse em converter outros.
Se comparadas ao oriente, as religiões
ocidentais tem o pensamento mais unificado e se concentram um torno de um deus
e seu filho Jesus, apesar das muitas igrejas. Estas diferenciam apenas em
detalhes. Muitos vêm interesses apenas financeiros. Pegam uma expressão bíblica
qualquer e ergue sua igreja para uma fonte de renda.
Ao contrário, o pensamento religioso
oriental tem muitas variações e muitas vezes se confunde com uma filosofia. O
hinduísmo é uma tentativa de unificar as várias religiões e deuses da cultura
da Índia.
As religiões explicam o universo e dão
sentido à vida. Uma ordem natural nos traz uma sociedade estável e prospera. As
religiões vêm a realidade com base na ordem é esta ordem reflete causa e efeito
a partir de deus inteligente e superior. Não há acasos, acidentes, sortes,
coincidências, mas sincronismos. Neste sentido, as religiões são positivas,
promovem uma inteligência superior e absoluta, promovem a ordem universal. Mas
a ideia de um absolutismo religioso descambou para dogmatizar e sacralizar
palavras, objetos, rituais e pessoas. Acabam promovendo uma desordem, apesar de
seu crédito com valores universais. Os valores de igualdade e liberdade têm sua
gênese na Grécia e depois nas religiões cristãs. Os gregos debruçaram sobre
conceitos de igualdade e a democracia. A bíblia fala muitas vezes em liberdade
como uma conquista. A igualdade é em razão da filiação divina. Apesar das
diferenças biológicas e culturais, todos merecem tratamento igual e respeito.
As leis divinas valem para todos.
Nisto, as religiões e especialmente a
cristã merecem autoridade. Doutro lado, as religiões também discriminam. O
pensamento religioso ocidental prega um monoteísmo em torno de Deus e adora
Jesus Cristo, o filho de Deus. Elas compilaram a Bíblia e a declararam sagrada.
Tal Bíblia é palavra de Deus, dizem elas. Mas se a Bíblia é palavra de Deus, o
Alcorão não o é? Cristãos e mulçumanos têm seus deuses e suas escrituras
sagrada e querem, como o povo judeu, exclusividade. Querem um deus pra chamar
de meu.
A Bíblia, numa rápida síntese, é composta
de duas partes, sendo a primeira denominada Velho Testamento traz Deus como
principal personagem. Este parte se encontra também a base do Torá, livro
sagrado da religião israelita. Neles se podem encontrar relatos da cultura,
economia, história e mitologia do povo hebreu, mas adotado pela igreja e por
todo Ocidente.
Na segunda parte, temos o Novo Testamento,
o Evangelho de Jesus, relatado por Mateus, Lucas, João e Marcos. Nele
encontramos a vida, obra e morte de Jesus. Os personagens centrais da narrativa
bíblica, Deus e Jesus, apresentam duas teologias diferentes: a teologia da
guerra e a teologia do amor. São diferentes as teologias e os judeus
descartaram a teologia de Jesus. Até hoje, eles conservam a teologia da guerra
e a aplicam em seus vizinhos árabes.
Linguisticamente, vemos a Bíblia como um
texto e todo texto tem contexto. Apesar de todo idioma tentar a unificação, a
língua varia conforme o contexto. Assim o nosso português, a título de exemplo,
varia no tempo e no espaço. Essas diferenças podem ser fonéticas, sintáticas,
lexicais, semânticas. Além destas variáveis diretas, temos outras tantas
indiretas como de gênero, socioeconômicas, etárias, de nível de instrução,
urbanas, rurais.
Padres e pastores, em seus altares,
asseveram que estão pregando a “palavra de Deus”. Apesar das palavras serem
ditas por homens, a igreja entende que tais palavras foram inspiradas por Deus.
Tais palavras seriam, assim como o Absoluto, imutáveis, eternas para todo o
sempre. Mas e se tal “verdade” não é verdade, muito menos absoluta e imutável?
O ato de pensar é o principal atributo do homem. Os dogmas ceifam este ato. Sem
este atributo, o fundamentalismo e o terrorismo têm campo fértil. Da mesma
forma, a ditadura tira o ato de pensar e produz horrores.
Mas por que as religiões arrebatam bilhões
de seguidores? Bom, todas as religiões pregam um mundo metafísico, povoado de
deuses, anjos, orixás, ancestrais, demônios, entre outros. Apesar da teologia
infantil, as religiões conectam o mundo físico e metafísico. Além disso, há
ideologia nas religiões, o poder, custe o que custar. Sem procuração divina,
muitos falam em nome de Deus, Jesus, Maomé e todo tipo de divindade. Ao
contrário das religiões, juridicamente isto é crime de falsidade ideológica.
Mas expliquemos a questão política-ideológica.
Historicamente, não se sabe se Moisés
realmente existiu. Biblicamente, Moisés e o povo hebreu viviam exilados num
estado teocrático. Vale dizer, no Egito, o faraó era um soberano ditador,
adorado como um deus. Culturalmente e contextualmente, Moisés atribuiu autoria
divina às suas leis para um povo ignorante, acostumado com o engodo egípcio.
Senão tais leis não seriam respeitadas.
Vale salientar também outra influência
política e cultural na Bíblia e no povo hebreu, outro exílio, o babilônico. O
contato com a cultura deles influenciou a escrita bíblica e semelhantemente alegaram
autoria divina do Decálogo. O famoso Código de Hamurabi também creditava origem
divina de suas leis que também foram escritas numa pedra. Estas semelhanças não
são coincidência, mas sim apropriação da cultura babilônica pelos líderes
hebreus.
Hodiernamente, a maioria dos estados é
laica, nítida separação de estado e de religião. A secularização foi um
processo lento, mas manteve, via de regra, a liberdade religiosa e o pluralismo
religioso. Porém, alguns estados aniquilaram as religiões. Sob o comando da
velha Rússia, alguns estados se tornaram ateus. O status de deus-rei foi
paulatinamente dissolvendo e dois pensamentos políticos passaram alternar na
história da humanidade: o moralismo político (de fundo idealista) que prega
fins comuns e valores como igualdade, liberdade, justiça, entre outros; e o
realismo político que foca o poder, o conflito, a corrupção e rejeita o
moralismo.
As necessidades humanas nos levam a
política. Não podemos ter tudo que queremos no mundo, então teremos lutas e
diálogos para obter bens e valores como liberdade, igualdade e justiça.
Recentemente na história, Marx inovou com o pensamento político ideológico que
prega a vitória dos trabalhadores e uma ditadura com base no valor igualdade. O
grande erro de Marx foi valorizar um direito (a igualdade) em detrimento de
outro, a liberdade. Inversamente, o capitalismo enfatiza a liberdade em
oposição a igualdade. Hoje valores como democracia, direitos humanos, economia
aberta e governo constitucional tornaram-se universais no mundo ocidental. Mas
ainda, não conseguimos conciliar os valores liberdade e igualdade.
Na contramão das democracias, ainda
existem as teocracias. Perigosamente, países de maioria mulçumana, ainda unem
política e religião, vivem ditaduras teocráticas algumas vezes sob comando de
seitas radicais e violentas. Quando a religião detém o poder político, detém
também a arte, ciência, filosofia, o direito, enfim, a vida inteira dos fiéis.
Neste caso, direitos humanos não existem e tribunais eclesiásticos aplicam
penas cruéis e a lei de talião. Não há liberdade de pensamento e nem
individualidade. Violência e religião se unem contra a liberdade.
Nesta esteira, críticos e ateus alegam que
as religiões são como fonte primária de violência e terrorismo. Todavia,
religiosos atribuem a violência à grupos isolados que têm uma visão equivocada
dos livros sagrados. De qualquer forma, a violência está nos livros sagrados do
cristianismo e islamismo, inspirados no Torá que contém violência em sua
mitologia hebraica. O deus guerreiro, violento e cruel do Velho Testamento é
inegável.
Como a Bíblia, o Alcorão contém sabedoria.
Porém, quem assume o poder religioso são líderes políticos sem compromisso com
a moral. O Islã não é apenas uma religião, pois em sua essência é uma ideologia
política. Islã significa submissão e adota um sistema de regras rígidas para a
sociedade e a vida de cada pessoa. O Islã não é compatível com a liberdade e a
democracia. O valor filosófico de igualdade existe para a grande maioria da
população, os pobres, porém nivelado por baixo. A Sharia, mistura de direito e
religião, dita todos os aspectos da vida do homem. O modo de vida mecanizado é
100 % religioso.
Maomé foi um grande líder
político-religioso. Promoveu o monoteísmo, a libertação de escravos, direitos
trabalhistas e outros direitos de igualdade. Promoveu também a guerra e junto
com ela alguns trechos belicistas no Alcorão: “matai os idolatras”. A Bíblia
também carrega também uma violência extremada. Javé é mandante de homicídios,
genocídios, pedofilia, entre outros crimes bárbaros. O Alcorão, como a Bíblia,
é produto cultural, provido de sabedoria e de violência em razão do tempo e no
espaço.
Muitos mulçumanos interpretam o Alcorão de
forma pacífica, mas são os radicais que assumem o poder político-religioso. Os
mulçumanos pacíficos acabam reprimidos pela violência ou ideologia dos
radicais. O imperialismo islâmico acaba sendo visto com certo receio pelos
ocidentais. Eles imaginam submeter todo o planeta a Sharia. O Ocidente já
conhece esta história de violência religiosa, quando a igreja Católica tinha o
poder político e mesmo depois quando tinha influência política. As Cruzadas, a
Inquisição, a imposição doutrinária aos colonizados são exemplos de abusos,
violência, tortura e todo tipo de crime contra a humanidade em nome da fé.
Felizmente para o Ocidente, ela perdeu influência do poder político.
Apesar de fragmentos de valores como vida,
liberdade e igualdade na Bíblia, a conquista de direitos humanos no Ocidente
foram graças a filósofos, juristas e políticos. A igreja nunca defendeu
abertamente estes valores e nunca ligou a mínima para direitos dos homens, pois
sempre se concentrou no poder e em seus dogmas. Para o homem, a igreja impõe
deveres e não direitos. Sem poder político, sem autoridade para impor, os
crimes eclesiásticos migraram para outros, como pedofilia e preconceito.
Como na antiguidade, a igreja atual
atribui autoridade divina aos seus clérigos. Seu sistema hierárquico passa
longe da democracia, mas bem próxima de uma ditadura militar. Sua rígida
hierarquia traz punições severas para indisciplina. Sua justiça não possui
princípios processuais democráticos, garantismos consagrados como a ampla
defesa e o contraditório. A política saiu da religião, mas a religião não saiu
da política. Todas religiões são uma espécie de teocracia. Num plano macro, certamente,
o Criador governa por meios de leis naturais. Assim, as religiões têm um fundo
de verdade. No plano micro, as religiões usam esta ideia do Criador para
exercer poder ditador. Contudo, a política menos pior é a democracia.
Na teocracia, os religiosos governam em
nome de um deus ditador, mas sem nenhuma procuração divina. Líderes teológicos,
sem nenhuma autorização divina, praticaram desmandos. No Ocidente, papas
insuflaram guerras e acumulavam fortunas; o clero mostrou ostentação,
hipocrisia e arrogância. Pior, não havia nenhuma autoridade legal para conter
tal mal.
A igreja subiu no trono em Roma, onde fora
enterrado o apóstolo Pedro, o qual, diz a igreja, fora o primeiro Papa. No
entanto, o duvidoso apóstolo Pedro negou Jesus por três vezes, segundo a
Bíblia, e nem fora o melhor dos apóstolos. Nem sequer há um evangelho oficial
dele. Seu evangelho, contraditoriamente, foi declarado apócrifo pela própria
Igreja. Mesmo assim, com este argumento, atribuíram autoridade divina ao papa e
aparece a infalibilidade papal. O papa é infalível e a Bíblia é a palavra de
Deus. Os grandes reis e sacerdotes atribuíam autoridade divina a si para dar
credibilidade a suas palavras e ações. Mas nenhum deles tinha procuração
divina. Nenhuma via. Segundo a Bíblia, aparentemente, Jesus e Moisés, tinham
uma procuração verbal de Deus. Estes não montaram nenhuma igreja, mas tentaram
a unificação do pensamento moral e divino.
Antes perseguidos pelos romanos, depois os
cristãos assumem o poder e passam de perseguidos a perseguidores. Lembra-nos um
jornalista, referindo ao PT quando assumiu o poder no Brasil: é o mesmo filme
com papeis trocados de oposição e governo. O poder político tem destas coisas.
Carl Jung via duas forças irreconciliáveis. O Amor e o Poder. Dizia: Onde reina
o amor, não há vontade de poder e onde domina o poder, falta o amor. Um é a
sombra do outro. Já John Emerich via apenas corrupção no poder. Ele disse: O
poder corrompe. O poder absoluto corrompe absolutamente.
No poder, a igreja estruturou seu tribunal
de Inquisição e caçou “bruxas” e infiéis. Sua justiça tinha como principal
prova de acusação, quiçá única, a confissão sob tortura. Bastava um cidadão não gostar do vizinho e
informar a igreja que ele era um herege para soldados prendê-lo, torturá-lo e
executá-lo na fogueira santa. Esta maléfica estratégia eclesiástica envolvia
toda a comunidade na caça aos “hereges” para torturá-los e matá-los. Tal tática
ganhou as ditaduras, como o fascismo, nazismo e comunismo. Uma instituição
forte, totalitária, imperialista, como a igreja, inspirou estados
ultranacionalistas, mobilizadores da massa vigilante das ideologias de um
estado forte. A violência justificou ideais de líderes militares. Como a
igreja, estes estados não simpatizavam com a democracia.
A estratégia criada pela igreja foi também
empregada pela ditadura militar no Brasil. Havia até a malfadada polícia
política (DOPS). Bastava alguém acusar seu vizinho chato de “comunista”, que um
eficiente soldado ou policial estava na porta para prender o “subversivo” e o
levar a tortura para sua “confissão”. Esta foi a herança negativa da igreja
para a humanidade: ditadura, imperialismo, táticas de manipulação social com
seus dogmas, justiça e julgamento com a tortura.
A
Inquisição foi fundada durante os séculos XII e XIII. No século XIX, os
tribunais da Inquisição foram suprimidos pelos estados europeus, mas foram
mantidos pelo Estado Pontifício. Em 1908, a instituição foi renomeada Sacra
Congregação do Santo Ofício. Em 1965, o Vaticano maquiou a Inquisição com outro
nome, Congregação para a Doutrina da Fé. Sua função é ainda difundir a doutrina
católica, como o mito do Decálogo, mas sem o poder político, sem o poder da
fogueira na aplicação da pena capital. O fogo simbolizava a purificação,
configurava a ideia de desobediência a Deus (pecado) e ilustrava a imagem do
inferno. Hoje se pode dizer que o inferno era a igreja.
A Inquisição tinha poder político para
autorizar, ou não, impressões de livros. Assim, ela controlava o pensamento e
proibia conteúdo considerado herege nos livros. O Index listava os livros
proibidos e considerados hereges. Também devemos aos juristas, políticos e
filósofos os direitos humanos de liberdade de expressão e de pensamento. Pela
igreja, até hoje não teríamos a liberdade de pensamento. O único livro seria a
Bíblia para o ler repetidas vezes (leia-se lavagem cerebral) sob pena da
fogueira eterna.
A igreja apropriou da Bíblia e sua
interpretação para atender interesses ideológicos. Era escrita somente em latim
até Lutero traduzi-la para o alemão. Ainda, continuou rezada em latim até os
anos 60, quando o Papa Paulo VI promulgou uma nova liturgia. O papa Ratzinger
teve o descalabro de voltar com a liturgia antiga. Antes do 01 pedir pra sair,
ele a exerceu de forma extraordinária.
A ideia da “palavra de deus” baseia na
falácia de argumento de autoridade. A Bíblia, interpretada pelas autoridades
eclesiásticas, tem validade total e atropela todos outros argumentos racionais
ou científicos. Não vale para a igreja, então, técnicas de dedução, indução,
lógica, história, classificação, experimentação, comparação, analogia, causa e
efeito, estatísticas para chegar à verdade. A igreja mantém seu poder como dono
da “palavra de deus”. Sempre houve um monólogo religioso e não um diálogo
quanto a Bíblia e Deus.
A igreja nega a realidade, nega uma
relação dialógica e não permite questionar sua autoridade e sua ideia sobre
Deus. Numa democracia, você ouve objeções, debate ideias, apresenta ideias
contrárias e refuta outras, mas não é permitido pela igreja ou pelas religiões.
Religiosos descartam a lógica e repetem apenas a retórica de sua autoridade.
Isto implica emoções e valores ideológicos de forma escamoteada, revista de
aparência lógica.
O argumento da autoridade não permite os
fiéis pensar por si. Pastores e padres vêm com ideia pronta, sem possibilidade
de reflexão, e deixa os fiéis sem vida própria. Linguisticamente, as escrituras
sagradas seriam resultado da codificação divina, decodificadas pelo interprete
divino. Aos fiéis, cabem passivamente aceitar a interpretação, sem reflexão e
sem consciência. É um monólogo. Isto na
contramão da sociolinguística que tem uma concepção de língua como interação
social. A comunicação funciona como um diálogo, em que os envolvidos constroem
o sentido do texto.
Em busca de ideologias por trás das falas,
o pensador francês, Michel Pêcheux, propôs de um novo objeto de estudo chamado
discurso. Na visão crítica, ideologia busca poder nas relações sociais. Todos
têm um papel social, fruto do poder. A ideologia é velada e sutil, utiliza a
linguagem para se sustentar e perpetuar no poder. Ele invoca o “entremeio” de
ciências para o estudo do discurso, no caso, a Linguística, Psicanálise e do
marxismo.
A princípio, Michel fez o estudo pensando
na política. Mas este estudo também pode ser aplicado nas religiões, pois elas
têm política e ideologia em suas entranhas. Em Linguística, o pensamento do
estruturalismo enfatiza o código na comunicação, no caso, os religiosos usam a
Bíblia. Os sujeitos da comunicação, padres e pastores, são mecanizados pelo
sistema, como meros decodificadores do texto sagrado.
Análise do Discurso considera construções
ideológicas presentes num texto ou fala, dentro de um contexto
histórico-social. O padre ou pastor reflete uma visão de mundo determinada pelo
sistema eclesiástico. Significa que o discurso não é um produto individual. A
interpretação da Bíblia implica um sistema religioso com determinada identidade
religiosa, social e histórica.
Tal estudo dialoga com o marxismo, adotando
o materialismo histórico de Karl Marx. Para este, eram as condições materiais
de vida numa sociedade que determinavam nosso pensamento e nossa consciência.
Para Karl, tais condições eram decisivas também para evolução da história. As
instituições políticas e religiosas, chamados de superestrutura, são reflexos
da base materiais. As condições materiais de uma sociedade sustentam todos os
pensamentos e ideias de uma sociedade, dominadas por uma elite. Marx dividi a
sociedade em classes dominantes e classes dominadas. A luta de classes move a
história e sua evolução.
Agora, com um dedo em Freud, a Análise do
Discurso adota a teoria do inconsciente da psicanálise e afirma que o discurso
ideológico é produzido inconscientemente. Da mesma forma que existe uma
ideologia por trás das classes sociais, também no discurso há uma ideologia por
trás, ainda que inconscientemente.
A Análise do Discurso do Religioso, então,
promove o encontro das três disciplinas. O texto sagrado supervalorizado
relativiza o sujeito do discurso (Linguística), que defende uma ideologia
eclesiástica inconscientemente (Psicanálise), produto do materialismo histórico
(marxismo).
As palavras são ideológicas, têm força e
poder. Vamos citar exemplos político e religioso. Politicamente, a depender da
ideologia de um jornalista, ele poderá titular sua reportagem “MST invade” (tom
criminoso) ou “MST ocupa” (tom social). Pastores e padres chamarão a Bíblia de
“sagrada”, de “palavra de Deus”. Um filósofo, jornalista ou historiador pode a chamar
de palavra dos homens. Aqueles têm necessidade profissional ou de poder para sacralizar
seu livro.
A ideologia utiliza recursos retóricos
como as metáforas, hipérboles, ironias e os sentidos das palavras. Além destes
recursos, a igreja tem 3 estratégias para fisgar e extorquir os fiéis: pelo
medo, pela ambição e pela culpa. Pelo medo, ela prega as punições eternas,
castigos e infernos. Pela ambição, ela mente que as doações serem retribuídas
em dobro aos fiéis. Pela culpa, ela submete seus fiéis a um processo de
responsabilidade pelo pecado original. Todos nascem pecadores e devem submeter
a igreja. Uma teologia infantil da gênese bíblica culpa Eva, e as mulheres, do
pecado original. Dogma inquestionável que os fiéis acatam sem o mínimo de
reflexão. Como culpar alguém por erro de outro? Em direito, toda pena é
personalíssima, ou seja, apenas a pessoa do transgressor é quem paga.
Os cidadãos aceitam passivamente o
discurso religioso, sem debate ou questionamento. O senso comum sustenta
inconscientemente as ideologias eclesiásticas. Eles acolhem o poder religioso
como certo, natural e de aceitação geral. Quanto menos evidente a ideologia,
mas eficaz ela é.
O discurso ideológico tem estratégias como
a legitimação. Ela estabelece como legítima e justa as relações de poder, as
assimetrias sociais: pobre e rico, governante e governado, clérigos e fieis. A
universalização diz ser benéficos para todos, como o slogan: Brasil, um país de
todos. Fragmentação isolam infiéis e não partidários, apresentados como uma
ameaça ou inimigo ao bem-estar geral. Ex. as elites de Lula e o inferno para os
infiéis. Coisificação é a técnica para eternização do domínio. A ideologia oculta
e obscurece as causas reais. A eternização do poder. Estas são algumas técnicas
e falácias para legitimar a eternização do poder político e eclesiástico.
Em vez da razão, as igrejas atuam nos
sentimentos humanos, principalmente no medo, culpa e ganância. Realmente, as
religiões promovem uma espécie de terrorismo emocional para manter seu fiéis.
Sem resolver o problema do mal, o usam em um mentiroso dualismo universal, céu
e inferno. “Quem não for fiel à igreja, não dar o dízimo irá queimar
eternamente no inferno”. Esta fala aterroriza os crentes que pagam dízimos e
enriquecem as muitas igrejas. Interligado ao medo, está a mentirosa ideia do
pecado original. Esta culpa veio de duvidosos personagens bíblicos sem qualquer
ligação com o Ocidente. Adão e Eva teriam cometido tal pecado e nós teríamos herdado
tal culpa por isto. Isto é de uma injustiça sem limites. Difícil engolir este
deus que os homens criaram e muito longe de um Deus que criou os homens.
Também interligado ao medo e a culpa está
a ganância que juntos são como um silogismo. A culpa é a premissa maior. O medo
é a premissa menor. O dinheiro é a solução. Se formos culpados pelo pecado
original, temos medo de ir para o inferno, então nós devemos pagar para a
igreja e assim seremos ricos aqui na terra como no céu. A ideologia religiosa
quer poder na terra e para isto precisa de dinheiro. Dinheiro, poder e fama
estão intrínsecos. Líderes religiosos são celebridades e possuem muito, mas
muito dinheiro.
Outra crítica relevante contra a religião
é a intolerância para com as outras religiões. A verdade para um crente, não o
é para um não crente ou fiel de outra religião. Um sistema teológico exclui
todos os outros. Logo, as religiões são exclusivistas (deus e a verdade é só de
cada uma delas) e imperialistas (devem buscar fiéis de outras religiões, alguns
até com emprego de violência). Assim, nesta perspectiva, as religiões não são
universalistas, pois em verdade são sectárias.
Em razão destes paradoxos, estudiosos e
pensadores negam a religião e o mundo metafísico. Eles usam a biologia que
prega a evolução (um mundo em transformação) para contestar o criacionismo que
prega uma ordem fixa. Além deste, a ciência cita também outros paradoxos. A
origem das religiões tem muitas narrativas e pouco consenso. Freud usa uma
abordagem psicológica e assevera que tal origem vem da neurose coletiva para
contornar o mal. Abordagens político-sociais falam em um mecanismo de
alienação. Antropólogos teorizam que a alternância entre vigília levou
caçadores-coletores aos conceitos de alma e espíritos. Hodiernos biólogos
evolucionistas vão relacionar as religiões a um gene específico da
espiritualidade, mas não sabem qual.
Embora neguem a metafísica religiosa,
estudiosos modernos, ainda assim, defendem as crenças como um modo de amenizar
o medo e a dor humana. As narrativas religiosas seriam necessárias
psicologicamente. Igualmente, alguns pensadores e teólogos vêm a igreja como um
grande engodo, mas também alguns creem na necessidade desta pseudoverdade
chamada igreja. Ela funciona como um conforto emocional e espiritual. Tipo
placebo, funciona por que seus adeptos acreditam.
Apesar de buscar uma ordem divina, as
religiões e suas narrativas sagradas perderam força. No livro “A Condição
Pós-moderna”, o estudioso francês Jean-François Lyotard descreveu a atualidade
como um período pós-moderno sem crenças nas grandes narrativas. Estas seriam
metanarrativas do passado que explicariam a existência da vida e do universo.
Ele estaria pensando em narrativas como a bíblia e também filosofias como o
iluminismo e marxismo, entre outros.
Com virtudes e defeitos, os animismos, as
mitologias e as religiões pregam um mundo físico e um mundo metafisico em
interação. Todas têm sabedoria. Porém, as grandes narrativas e as religiões
perderam espaço para as ciências, devidos a seus dogmas que não permitem uma
evolução do pensamento.
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