sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Capítulo 2 do livro EXISTENCIALISMO METAFÍSICO, A ÚLTIMA FILOSOFIA

 

2 – Metafísica

 

 A origem da palavra metafísica, como quase todo conhecimento racional e filosófico, remonta a Grécia antiga. O estudo e a obra “Metafísica” de Aristóteles, na verdade, tinha outro nome: Filosofia Primeira. O termo metafísica parece ser de um organizador das obras aristotélicas que cunhou o termo para localizar a Filosofia Primeira depois de outros textos da física, de natureza sensível. 

Meta quer dizer além e juntado a física quis significar materialmente um livro depois do outro. Ou seja, era uma ideia de ordem espacial das obras aristotélicas. Mas este feliz acaso acabou emprestando significado espiritual ao livro, pois o mesmo investiga o ser transcendente, uma ontologia do ser, enquanto ser. Seu estudo investigou o conhecimento dos princípios primeiros e da causa primeira dos seres. Ele relaciona o ser com causalidade e aproxima de uma teologia.

Tal livro não se trata de uma unidade sistematizada, mas sim de vários fragmentos compilados pelo organizador. Tais fragmentos eram destinados aos alunos do Liceu, a escola de Aristóteles. Assim, teve críticas por não ser uma unidade de pensamento, ter contradições e partes sem autoria aristotélica. Defensores asseveram que a obra é um esforço filosófico.

Quando ao conteúdo, Aristóteles pregou significados para as causas dos princípios primeiros e supremos, uma filosofia primeira, a causa de toda a realidade. Ele buscava o ser enquanto ser, a realidade em si mesma, suas condições e princípios primeiros. Assim, sua filosofia procurava o conhecimento universal, porque estudando o ser enquanto ser, poderia elaborar princípios que se aplicam a todos os seres indeterminados. Acabou advogando uma espécie de ciência teológica em contraposição as ciências particulares.

A Metafísica de Aristóteles difere da física, observada pelos sentidos, cujo objeto de estudo é matéria no tempo-espaço, algo em movimento. Ela seria algo além (meta) da física. São duas realidades. A Filosofia Primeira defendia uma teologia no início e por isto deveria ser a primeira a ser estudada, uma espécie de filosofia teológica. A primeira causa da existência em Aristóteles é Deus, um princípio absoluto de todo movimento, um ser imaterial, uma substância suprassensível. Ele move todas as outras coisas como causa inicial. Enfim, seria o motor inicial, um Deus, mas um Deus sem qualquer relação com alguma religião. Seria apenas um ser que Aristóteles considerou fundamental para explicar o cosmos. Todo movimento da física seria posterior e em consequência do primeiro movimento de Deus.

Platão foi mestre de Aristóteles e também pregou um mundo metafísico, além do mundo físico. Ele dividiu a realidade entre o mundo sensível e o mundo das ideias. Enquanto o mundo sensível era o mundo físico efêmero, o mundo das ideias era metafísico das verdades eternas. 

As reflexões de Platão inspiraram muitos estudiosos entre os séculos III ao VI, quando surgiram os denominados neoplatônicos. Eles continuaram com as ideias metafísicas com um toque de crenças religiosas da época.  Os neoplatônicos acreditavam que o “meta” expressava a própria natureza do objeto desta ciência. Ela não seria física, mas estava além do plano físico. Seu objeto seria transcendente ao mundo.

Outra metafísica relevante para mencionar é a de Descartes. Na célebre comparação que ele emprega no prefácio de sua obra dos Princípios de Filosofia, de 1647, a filosofia é comparada com uma árvore cujas “raízes são a metafísica, o tronco é a física, e os ramos que saem do tronco são as demais ciências”. Devemos ressaltar que na época de Descartes, a Filosofia compreendia todo conhecimento racional, inclusive as ciências. Fazendo eco com Ari, Descartes também tinha a ideia da metafísica ser um conhecimento primeiro, a raiz de todos os outros conhecimentos, um princípio existencial.  

Apesar destes célebres pensadores, até hoje não se tem um bom conceito para metafísica. Algumas filosofias modernas sobre metafísica são difíceis de digerir, como a de Heiddeger. Então, permita-nos oferecer uma boa e simples definição. Devemos começar pelo radical física para depois acrescentar o prefixo meta. A ciência física é a mais fundamental de todas as ciências (o tronco da árvore para Descartes), pois estuda as formações das grandiosas galáxias até os minúsculos átomos, a base da matéria. O objeto de estudo da ciência física é a trilogia matéria-tempo-espaço. Da física clássica, passando pela relatividade, à moderna física quântica tal trindade permanece. Outros estudos da física têm esta essência. Por exemplo, o calor é vibração de moléculas, ou seja, algo no tempo-espaço. Ao se deslocarem no tempo-espaço, o contato das moléculas promove atrito e a temperatura eleva.

Nesta toada, o Sistema Internacional de Unidades tem 7 unidades de medidas básicas, as grandezas fundamentais: metro (m) é a unidade de distância; segundo (s) é a unidade de tempo; quilograma (Kg) é a unidade de massa; Kelvim (K) é a unidade de temperatura; ampere (A) é a unidade de eletron, mol (mol) é a unidade da química para expressar massas microscópicas; candela (cd) é a unidade de medida de fonte luminosas. Da mesma forma, a trindade física permanece como ampere que mede deslocamento de elétrons, mol que mede a massa. Estas grandezas básicas da física geram outras grandezas físicas, sendo a mais comum a velocidade que é o deslocamento de algo no tempo-espaço.

Então, é válido chamar de metafísico algo que elimine, minimize ou dilua tal trilogia. Nossa definição de metafísica é literal e dispensa grandes interpretações. O prefixo “meta” quer dizer além e ao se juntar com o radical “física” dá a ideia de algo além da física. Vale dizer, alguma coisa (inteligência) além da matéria-tempo-espaço. Com esta ideia, enquadramos a matemática, a lógica e a linguagem como instrumentos metafísicos. Claro que devemos retirar o suporte físico-biológico, diferenciar o significante (com base Saussure, o plano formal) do significado, plano do conteúdo de natureza metafísica. Enquanto a física funciona linearmente no tempo-espaço, a matemática-linguagem-lógica transcende o tempo-espaço com saltos. Explico: ao arremessar uma pedra, o fenômeno em si, bem longe desta representação escrita, desloca linearmente no tempo-espaço, ou seja, a pedra sai de um ponto zero e cobre toda uma trajetória em linha, de forma ininterrupta, para chegar num ponto final. Como diria Kant, o objeto em si move sem interferência de nossa trindade metafísica. Com a matemática-linguagem-lógica podemos diluir, eliminar o tempo-espaço, antecipar o ponto final antes do arremesso ou podemos voltar ao ponto inicial, depois de já arremessada.

Forte nesta ideia, a matemática, a linguagem e a lógica têm esta natureza metafísica. Vale salientar, o conteúdo das três é metafísico, mas o suporte formal tem aspecto físico-biológico. A fala envolve aspectos biológicos, como o sistema vocal, depois os aspectos físicos envolvem o som deslocando em ondas até o aparelho auditivo, novamente biológico. A escrita envolve aspectos materiais como a tinta no papel, físicos como o deslocamento da luz e biológicos como o sistema visual. Quanto ao conteúdo, é totalmente metafísico, como as ideias, significados, narrativas, um mundo interior que tem base na mente, igualmente metafísica. Ao longo de nossa filosofia, defenderemos que nossa existência é metafísica. Por isto, a denominação Existencialismo Metafísico.  

Com alicerce neste pensamento, a matemática funciona igualmente no presente, no passado e no futuro. Também funciona igualmente em nosso planeta e em qualquer galáxia do universo. Também funciona não só em nossas 3 dimensões, mas também em dimensões menores (2,1,0) e maiores, 4 ou mais. Como ela é desprovida de matéria, não compartilha com a trindade da física (tempo-espaço-matéria). Vale dizer, não se sabe sua natureza. A questão filosófica da natureza da matemática vem desde a Grécia antiga e a polêmica permanece até hoje. Platão asseverava que ela não tinha tempo-espaço e residia no mundo das ideias, um mundo metafísico. Porém ainda, nem se quer sabem se objetos matemáticos existem. Cientistas e matemáticos usam a palavra abstração para referirem a natureza metafísica da matemática. Eles também misturam matemática e ciência que têm naturezas diferentes. Enquanto uma é empirista, a outra é racionalista.  

Igualmente “abstrata”, a linguagem tem natureza metafísica. Vamos supor que uma pessoa viu um acidente. No dia seguinte, a lembrança do acidente ainda é muito viva na cabeça desta pessoa. Ela poderia relatar para outra pessoa: ontem, eu estava na avenida Tiradentes, quando no cruzamento com a avenida Amazonas, um carro Mitsubishi veio em alta velocidade e acertou de frente com um moto boy. Na sequência, chegou a polícia e uma ambulância. Este relato e pensamento existe apenas na mente do narrador. Como diria Kant, a coisa em si ou o fenômeno em si do acidente como um todo é algo diferente, distante e impossível de ser experenciado. Evidentemente, esta narrativa tem aspectos físicos e biológicos. O aparelho vocal produz apenas sons e o sistema auditivo capta tais sons, mas a mente dá significados metafísicos para os sons. De forma igual, esta narrativa escrita tem aspecto material e visual, mas também têm significado além da física, capturado somente pela mente, igualmente metafísica.

Da mesma forma, a lógica é algo desprovido de matéria-tempo-espaço. Ela não é necessariamente algo experenciado pela ciência. Lógica (como sistema) estuda as inferências válidas a partir das proposições-premissas. Auxilia a passagem das premissas para a conclusão. Lógica é o caminho para a verdade. Não podemos determinar o verdadeiro e falso pelo uso da lógica (formal) e isto não é o propósito da lógica.  A lógica não trabalha com axiomas (verdade auto evidentes), mas proposições que têm valores lógicos verdadeiro ou falso (V, F), para chegar a conclusões válidas. Lógica não entra no mérito, mas lança as bases da verdade (não-contradição V e F ao mesmo tempo; 3º excluído - apenas V e F, sem outra opção). Em síntese, lógica trabalha com proposições, semanticamente verdadeiras ou falsas, operações lógicas, e resulta em verdade ou falsidade. Lógica não depende do tempo-espaço.

A História da humanidade também vem diluindo o tempo-espaço.

Até a domesticação do cavalo há cerca de 6 mil anos, o homem era limitado no tempo-espaço pela sua própria força-energia. O cavalo foi domesticado na Ásia, local onde se falava proto-hindu-europeu. Com a velocidade e resistência do cavalo, o homem deslocava rapidamente por grandes distâncias. Vale dizer, o cavalo encurtou o tempo-espaço do homem. Por esta razão, o cavalo ajudou a disseminar esta língua-mãe que se espalhou por outros continentes. Hoje, todos os continentes falam línguas oriundas desta língua mãe. Além de disseminar cultura, o cavalo ajudou o homem a diluir tempo-espaço do homem.

Por 6 mil anos o homem ficou limitado a velocidade do cavalo até a chegada da revolução industrial e do trem. Este atravessa continentes movendo-se dia e noite sem a necessidade de descanso. A seguir, o carro e o avião aperfeiçoaram, o mundo ficou globalizado e diminuiu expressivamente o tempo-espaço do homem. Hoje, estamos fisicamente a um dia de qualquer lugar do planeta. Um avião e um helicóptero fretado nos deixa em menos de um dia em qualquer lugar do planeta. Depois, o celular e a videoconferência nos deixaram instantaneamente em qualquer lugar do planeta com imagens e som navegando pelas ondas eletromagnéticas. O mundo ficou pequeno, o homem foi a lua e, agora, quer ir a marte.

A matemática pura ajudou ainda mais a diluir o espaço.

O mundo parece ser tridimensional. Com uma regra podemos medir comprimento, largura e altura de tudo. A geometria que nos ensinam nas escolas fundamentais é uma geometria tridimensional de mais de 2 mil anos atrás. Várias geometrias surgiram recentemente e elas não têm problemas com dimensões infinitas. Na física, Einstein inovou com a 4ª dimensão. O tempo seria outra dimensão, além das 3 dimensões espaciais. As coordenadas espaciais uniriam com tempo (x,y,z,t), formando um contínuo tetradimensional tempo-espaço.

Esta ideia de dimensões mais altas, chamada de hiperespaço ou de n-dimensões, é simples matematicamente. Basta ir acrescentando coordenadas ao sistema cartesiano. O plano cartesiano tem 2 dimensões (x,y) e medem áreas. Matemáticos acrescentaram uma dimensão ao sistema cartesiano (x,y,z) e podiam medir volumes. Bastaram acrescentar mais uma coordenada (dimensão) e inovaram metafisicamente com hipercubo, uma 4ª dimensão. A álgebra aceitou de boa esta ideia. Bastava elevar a 4ª potência ao tradicional “x” do quadrado e do cubo. Assim, as dimensões são as potências de x:  rumo ao infinito e além. Da mesma forma, obtemos a hiperesfera. Um círculo plano em duas dimensões tem uma equação = 1; uma esfera em três dimensões tem uma equação = 1; a hiperesfera tem quatro dimensões com equação = 1. Não podemos ver o cubo e a esfera tetradimensional, mas imaginar ou criar uma representação. Estas ideias são da matemática pura, ainda sem aplicação. Mas como somos reflexos da natureza, ela certamente existe aplicada em uma realidade, digamos, paralela.

É difícil entender esta pureza matemática, pois ainda estamos presos ao mundo material. Por falta de uma referência material, o pensamento moderno nega que existam objetos matemáticos e linguísticos. Mas são estes objetos metafísicos que pareiam a realidade física, permitindo seu entendimento. Tais objetos em interações são sistemas metafísicos que representam sistemas do mundo físico. Apesar de negarem a existência dos objetos matemáticos e linguísticos, a própria física padece com a questão existencial de seus objetos.

Hodiernamente, a própria física vem diluindo seus conceitos de matéria-tempo-espaço. No nível subatômico, a santíssima trindade física sofre com a moderna física quântica. A matéria ficou extremamente reduzida. Em um átomo, a eletrosfera de seu núcleo atômico é 100 mil vezes menor que sua massa. Ou seja, a matéria é quase vazia. Por isto, a matéria é intangível, ou seja, não pegamos a matéria, mas sim apenas sentimos a vibração da eletrosfera. A matéria também é invisível, pois ela depende da luz para vê-la. Se apagar a luz, ela não é vista.  Ainda, esta pouca matéria tem uma dualidade existencial partícula-onda. A depender da observação, as partículas subatômicas podem ser partícula (com massa) ou onda (sem massa). A física clássica de Newton tinha o tempo-espaço como algo absoluto e a velocidade relativa. Einstein relativizou o tempo-espaço e colocou a velocidade da luz como a absoluta. A física quântica relativizou a matéria. O elétron pode estar em 2 locais ao mesmo ou em nenhum lugar. Na física quântica, inexiste a linearidade do deslocamento de partículas subatômicas.

O tempo parece algo real e ele só vai para frente. Para a física, ele começou com a entropia, uma propriedade da termodinâmica, usada para medir o grau de desordem de um sistema. Quanto maior a entropia, maior o grau de desordem. A entropia sempre tende a aumentar e não diminuir. Um estado físico organizado seria um estado improvável. Um copo com água derramado seria após e consequência de um copo cheio, nunca o contrário. Tudo no universo tende para o estado desorganizado e caótico. Assim, o tempo seria nossa percepção do aumento de entropia no universo. Nós criamos maneiras de medir a velocidade da entropia de algo com horas, minutos e segundos para.

O tempo seria uma ilusão? O tempo parece um fenômeno óbvio. Passado, presente e futuro seriam algo evidente e incontestável. Para administrar o tempo, o homem o dividiu em unidades de medidas. Dias, meses, anos, horas, minutos, segundos, décimos de segundos, centésimos de segundos, milésimos de segundos e poderíamos subdividir os segundos infinitamente, conforme a matemática contínua que regula o tempo-espaço. Esta matemática vai eliminar ou pelo menos diluir o presente. Antes de você terminar de falar a palavra presente, ela já é passado. O presente seria um instante infinitesimal desprezível e somente haveria passado e futuro. Este passado e futura também tem sua existência questionável. Com a matemática e a linguagem, podemos ir no futuro e no passado em qualquer fenômeno físico. Com instrumentos metafísicos como o cálculo e as flexões verbais, podemos ir e vir no passado e no presente.

Em base nesta exposição, nossa filosofia advoga a ideia de que os três instrumentos do conhecimento de natureza metafísica (matemática, logica e linguagem) tem base igualmente metafísica: a mente, consciência, alma, espírito ou qualquer outro nome que queriam dar esta entidade de natureza além da física. Ainda, os cientificistas não podem acessar as memórias, fórmulas, ideias, imaginação contidas na entidade metafísica, mas somente mapear atividades elétricas no cérebro.   

Agora, do ponto de vista de nossa filosofia, fica fácil entender a árvore cartesiana com a metafísica como raiz e a metafísica de Ari como a Filosofia Primeira, o primeiro conhecimento a ser estudado. De fato, todo e qualquer conhecimento depende da matemática, da linguagem e da lógica. Até mesmo o mundo animal precisa destes conhecimentos embrionários e elementares para sobrevivência, conforme defendido em longo de nosso estudo. Eles também comunicam (gênero da linguagem) entre si, contam até 3 ou 4 unidades, utilizam a lógica se-então-senão para ter uma vida social, fazer sexo, alimentar, ter segurança e até política.

Para nós, linguagem, lógica e matemática é a Filosofia Primeira. Existencialismo Metafísico é a nossa Filosofia Última, pois terá a generalização máxima do conhecimento.

Idealismo e Realismo são doutrinas filosóficas que atravessaram a história do pensamento humano. Representam os mundos metafísico e físico respectivamente. Iremos advogar a existência do primeiro que manipula o segundo. Para isto, vamos investigar as questões das questões existenciais. Quem (ou o que) eu sou? De onde vim e para onde vou? Qual o propósito da existência? Ao final, demonstraremos a interação entre os mundos físico e metafísico. Quem começa esta interação de mundos é a mitologia.

 

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