Meta quer dizer além e juntado a física
quis significar materialmente um livro depois do outro. Ou seja, era uma ideia
de ordem espacial das obras aristotélicas. Mas este feliz acaso acabou
emprestando significado espiritual ao livro, pois o mesmo investiga o ser
transcendente, uma ontologia do ser, enquanto ser. Seu estudo investigou o
conhecimento dos princípios primeiros e da causa primeira dos seres. Ele
relaciona o ser com causalidade e aproxima de uma teologia.
Tal livro não se trata de uma unidade
sistematizada, mas sim de vários fragmentos compilados pelo organizador. Tais
fragmentos eram destinados aos alunos do Liceu, a escola de Aristóteles. Assim,
teve críticas por não ser uma unidade de pensamento, ter contradições e partes
sem autoria aristotélica. Defensores asseveram que a obra é um esforço
filosófico.
Quando ao conteúdo, Aristóteles pregou
significados para as causas dos princípios primeiros e supremos, uma filosofia
primeira, a causa de toda a realidade. Ele buscava o ser enquanto ser, a
realidade em si mesma, suas condições e princípios primeiros. Assim, sua
filosofia procurava o conhecimento universal, porque estudando o ser enquanto
ser, poderia elaborar princípios que se aplicam a todos os seres indeterminados.
Acabou advogando uma espécie de ciência teológica em contraposição as ciências
particulares.
A Metafísica de Aristóteles difere da
física, observada pelos sentidos, cujo objeto de estudo é matéria no
tempo-espaço, algo em movimento. Ela seria algo além (meta) da física. São duas
realidades. A Filosofia Primeira defendia uma teologia no início e por isto
deveria ser a primeira a ser estudada, uma espécie de filosofia teológica. A
primeira causa da existência em Aristóteles é Deus, um princípio absoluto de
todo movimento, um ser imaterial, uma substância suprassensível. Ele move todas
as outras coisas como causa inicial. Enfim, seria o motor inicial, um Deus, mas
um Deus sem qualquer relação com alguma religião. Seria apenas um ser que
Aristóteles considerou fundamental para explicar o cosmos. Todo movimento da
física seria posterior e em consequência do primeiro movimento de Deus.
Platão foi mestre de Aristóteles e também
pregou um mundo metafísico, além do mundo físico. Ele dividiu a realidade entre
o mundo sensível e o mundo das ideias. Enquanto o mundo sensível era o mundo
físico efêmero, o mundo das ideias era metafísico das verdades eternas.
As reflexões de Platão inspiraram muitos
estudiosos entre os séculos III ao VI, quando surgiram os denominados
neoplatônicos. Eles continuaram com as ideias metafísicas com um toque de
crenças religiosas da época. Os
neoplatônicos acreditavam que o “meta” expressava a própria natureza do objeto
desta ciência. Ela não seria física, mas estava além do plano físico. Seu
objeto seria transcendente ao mundo.
Outra metafísica relevante para mencionar
é a de Descartes. Na célebre comparação que ele emprega no prefácio de sua obra
dos Princípios de Filosofia, de 1647, a filosofia é comparada com
uma árvore cujas “raízes são a metafísica, o tronco é a física, e os ramos que
saem do tronco são as demais ciências”. Devemos ressaltar que na época de
Descartes, a Filosofia compreendia todo conhecimento racional, inclusive as
ciências. Fazendo eco com Ari, Descartes também tinha a ideia da metafísica ser
um conhecimento primeiro, a raiz de todos os outros conhecimentos, um princípio
existencial.
Apesar destes célebres pensadores, até
hoje não se tem um bom conceito para metafísica. Algumas filosofias modernas
sobre metafísica são difíceis de digerir, como a de Heiddeger. Então,
permita-nos oferecer uma boa e simples definição. Devemos começar pelo radical
física para depois acrescentar o prefixo meta. A ciência física é a mais
fundamental de todas as ciências (o tronco da árvore para Descartes), pois
estuda as formações das grandiosas galáxias até os minúsculos átomos, a base da
matéria. O objeto de estudo da ciência física é a trilogia
matéria-tempo-espaço. Da física clássica, passando pela relatividade, à moderna
física quântica tal trindade permanece. Outros estudos da física têm esta
essência. Por exemplo, o calor é vibração de moléculas, ou seja, algo no
tempo-espaço. Ao se deslocarem no tempo-espaço, o contato das moléculas promove
atrito e a temperatura eleva.
Nesta toada, o Sistema Internacional de
Unidades tem 7 unidades de medidas básicas, as grandezas fundamentais: metro
(m) é a unidade de distância; segundo (s) é a unidade de tempo; quilograma (Kg)
é a unidade de massa; Kelvim (K) é a unidade de temperatura; ampere (A) é a
unidade de eletron, mol (mol) é a unidade da química para expressar massas
microscópicas; candela (cd) é a unidade de medida de fonte luminosas. Da mesma
forma, a trindade física permanece como ampere que mede deslocamento de
elétrons, mol que mede a massa. Estas grandezas básicas da física geram outras
grandezas físicas, sendo a mais comum a velocidade que é o deslocamento de algo
no tempo-espaço.
Então, é válido chamar de metafísico algo
que elimine, minimize ou dilua tal trilogia. Nossa definição de metafísica é
literal e dispensa grandes interpretações. O prefixo “meta” quer dizer além e
ao se juntar com o radical “física” dá a ideia de algo além da física. Vale
dizer, alguma coisa (inteligência) além da matéria-tempo-espaço. Com esta
ideia, enquadramos a matemática, a lógica e a linguagem como instrumentos
metafísicos. Claro que devemos retirar o suporte físico-biológico, diferenciar o
significante (com base Saussure, o plano formal) do significado, plano do
conteúdo de natureza metafísica. Enquanto a física funciona linearmente no
tempo-espaço, a matemática-linguagem-lógica transcende o tempo-espaço com
saltos. Explico: ao arremessar uma pedra, o fenômeno em si, bem longe desta
representação escrita, desloca linearmente no tempo-espaço, ou seja, a pedra
sai de um ponto zero e cobre toda uma trajetória em linha, de forma
ininterrupta, para chegar num ponto final. Como diria Kant, o objeto em si move
sem interferência de nossa trindade metafísica. Com a
matemática-linguagem-lógica podemos diluir, eliminar o tempo-espaço, antecipar
o ponto final antes do arremesso ou podemos voltar ao ponto inicial, depois de
já arremessada.
Forte nesta ideia, a matemática, a
linguagem e a lógica têm esta natureza metafísica. Vale salientar, o conteúdo
das três é metafísico, mas o suporte formal tem aspecto físico-biológico. A
fala envolve aspectos biológicos, como o sistema vocal, depois os aspectos
físicos envolvem o som deslocando em ondas até o aparelho auditivo, novamente
biológico. A escrita envolve aspectos materiais como a tinta no papel, físicos
como o deslocamento da luz e biológicos como o sistema visual. Quanto ao
conteúdo, é totalmente metafísico, como as ideias, significados, narrativas, um
mundo interior que tem base na mente, igualmente metafísica. Ao longo de nossa
filosofia, defenderemos que nossa existência é metafísica. Por isto, a
denominação Existencialismo Metafísico.
Com alicerce neste pensamento, a
matemática funciona igualmente no presente, no passado e no futuro. Também
funciona igualmente em nosso planeta e em qualquer galáxia do universo. Também
funciona não só em nossas 3 dimensões, mas também em dimensões menores (2,1,0)
e maiores, 4 ou mais. Como ela é desprovida de matéria, não compartilha com a
trindade da física (tempo-espaço-matéria). Vale dizer, não se sabe sua natureza.
A questão filosófica da natureza da matemática vem desde a Grécia antiga e a
polêmica permanece até hoje. Platão asseverava que ela não tinha tempo-espaço e
residia no mundo das ideias, um mundo metafísico. Porém ainda, nem se quer
sabem se objetos matemáticos existem. Cientistas e matemáticos usam a palavra
abstração para referirem a natureza metafísica da matemática. Eles também
misturam matemática e ciência que têm naturezas diferentes. Enquanto uma é
empirista, a outra é racionalista.
Igualmente “abstrata”, a linguagem tem
natureza metafísica. Vamos supor que uma pessoa viu um acidente. No dia
seguinte, a lembrança do acidente ainda é muito viva na cabeça desta pessoa.
Ela poderia relatar para outra pessoa: ontem, eu estava na avenida Tiradentes,
quando no cruzamento com a avenida Amazonas, um carro Mitsubishi veio em alta
velocidade e acertou de frente com um moto boy. Na sequência, chegou a polícia
e uma ambulância. Este relato e pensamento existe apenas na mente do narrador.
Como diria Kant, a coisa em si ou o fenômeno em si do acidente como um todo é
algo diferente, distante e impossível de ser experenciado. Evidentemente, esta
narrativa tem aspectos físicos e biológicos. O aparelho vocal produz apenas
sons e o sistema auditivo capta tais sons, mas a mente dá significados
metafísicos para os sons. De forma igual, esta narrativa escrita tem aspecto
material e visual, mas também têm significado além da física, capturado somente
pela mente, igualmente metafísica.
Da mesma forma, a lógica é algo desprovido
de matéria-tempo-espaço. Ela não é necessariamente algo experenciado pela
ciência. Lógica (como sistema) estuda as inferências válidas a partir das
proposições-premissas. Auxilia a passagem das premissas para a conclusão.
Lógica é o caminho para a verdade. Não podemos determinar o verdadeiro e falso
pelo uso da lógica (formal) e isto não é o propósito da lógica. A lógica não trabalha com axiomas (verdade
auto evidentes), mas proposições que têm valores lógicos verdadeiro ou falso
(V, F), para chegar a conclusões válidas. Lógica não entra no mérito, mas lança
as bases da verdade (não-contradição V e F ao mesmo tempo; 3º excluído - apenas
V e F, sem outra opção). Em síntese, lógica trabalha com proposições,
semanticamente verdadeiras ou falsas, operações lógicas, e resulta em verdade
ou falsidade. Lógica não depende do tempo-espaço.
A História da humanidade também vem
diluindo o tempo-espaço.
Até a domesticação do cavalo há cerca de 6
mil anos, o homem era limitado no tempo-espaço pela sua própria força-energia.
O cavalo foi domesticado na Ásia, local onde se falava proto-hindu-europeu. Com
a velocidade e resistência do cavalo, o homem deslocava rapidamente por grandes
distâncias. Vale dizer, o cavalo encurtou o tempo-espaço do homem. Por esta
razão, o cavalo ajudou a disseminar esta língua-mãe que se espalhou por outros
continentes. Hoje, todos os continentes falam línguas oriundas desta língua
mãe. Além de disseminar cultura, o cavalo ajudou o homem a diluir tempo-espaço
do homem.
Por 6 mil anos o homem ficou limitado a
velocidade do cavalo até a chegada da revolução industrial e do trem. Este
atravessa continentes movendo-se dia e noite sem a necessidade de descanso. A
seguir, o carro e o avião aperfeiçoaram, o mundo ficou globalizado e diminuiu
expressivamente o tempo-espaço do homem. Hoje, estamos fisicamente a um dia de
qualquer lugar do planeta. Um avião e um helicóptero fretado nos deixa em menos
de um dia em qualquer lugar do planeta. Depois, o celular e a videoconferência
nos deixaram instantaneamente em qualquer lugar do planeta com imagens e som
navegando pelas ondas eletromagnéticas. O mundo ficou pequeno, o homem foi a
lua e, agora, quer ir a marte.
A matemática pura ajudou ainda mais a
diluir o espaço.
O mundo parece ser tridimensional. Com uma
regra podemos medir comprimento, largura e altura de tudo. A geometria que nos
ensinam nas escolas fundamentais é uma geometria tridimensional de mais de 2
mil anos atrás. Várias geometrias surgiram recentemente e elas não têm
problemas com dimensões infinitas. Na física, Einstein inovou com a 4ª
dimensão. O tempo seria outra dimensão, além das 3 dimensões espaciais. As
coordenadas espaciais uniriam com tempo (x,y,z,t), formando um contínuo
tetradimensional tempo-espaço.
Esta ideia de dimensões mais altas,
chamada de hiperespaço ou de n-dimensões, é simples matematicamente. Basta ir
acrescentando coordenadas ao sistema cartesiano. O plano cartesiano tem 2
dimensões (x,y) e medem áreas. Matemáticos acrescentaram uma dimensão ao
sistema cartesiano (x,y,z) e podiam medir volumes. Bastaram acrescentar mais
uma coordenada (dimensão) e inovaram metafisicamente com hipercubo, uma 4ª
dimensão. A álgebra aceitou de boa esta ideia. Bastava elevar a 4ª potência ao
tradicional “x” do quadrado e do cubo. Assim, as dimensões são as potências de
x: rumo ao infinito e além. Da mesma forma,
obtemos a hiperesfera. Um círculo plano em duas dimensões tem uma equação
= 1; uma esfera em três
dimensões tem uma equação
= 1; a hiperesfera tem
quatro dimensões com equação
= 1. Não podemos ver o
cubo e a esfera tetradimensional, mas imaginar ou criar uma representação.
Estas ideias são da matemática pura, ainda sem aplicação. Mas como somos
reflexos da natureza, ela certamente existe aplicada em uma realidade, digamos,
paralela.
É difícil entender esta pureza matemática,
pois ainda estamos presos ao mundo material. Por falta de uma referência
material, o pensamento moderno nega que existam objetos matemáticos e
linguísticos. Mas são estes objetos metafísicos que pareiam a realidade física,
permitindo seu entendimento. Tais objetos em interações são sistemas
metafísicos que representam sistemas do mundo físico. Apesar de negarem a
existência dos objetos matemáticos e linguísticos, a própria física padece com
a questão existencial de seus objetos.
Hodiernamente, a própria física vem
diluindo seus conceitos de matéria-tempo-espaço. No nível subatômico, a
santíssima trindade física sofre com a moderna física quântica. A matéria ficou
extremamente reduzida. Em um átomo, a eletrosfera de seu núcleo atômico é 100
mil vezes menor que sua massa. Ou seja, a matéria é quase vazia. Por isto, a
matéria é intangível, ou seja, não pegamos a matéria, mas sim apenas sentimos a
vibração da eletrosfera. A matéria também é invisível, pois ela depende da luz
para vê-la. Se apagar a luz, ela não é vista. Ainda, esta pouca matéria tem uma dualidade
existencial partícula-onda. A depender da observação, as partículas subatômicas
podem ser partícula (com massa) ou onda (sem massa). A física clássica de
Newton tinha o tempo-espaço como algo absoluto e a velocidade relativa.
Einstein relativizou o tempo-espaço e colocou a velocidade da luz como a
absoluta. A física quântica relativizou a matéria. O elétron pode estar em 2
locais ao mesmo ou em nenhum lugar. Na física quântica, inexiste a linearidade
do deslocamento de partículas subatômicas.
O tempo parece algo real e ele só vai para
frente. Para a física, ele começou com a entropia, uma propriedade da
termodinâmica, usada para medir o grau de desordem de um sistema. Quanto maior
a entropia, maior o grau de desordem. A entropia sempre tende a aumentar e não
diminuir. Um estado físico organizado seria um estado improvável. Um copo com
água derramado seria após e consequência de um copo cheio, nunca o contrário.
Tudo no universo tende para o estado desorganizado e caótico. Assim, o tempo
seria nossa percepção do aumento de entropia no universo. Nós criamos maneiras
de medir a velocidade da entropia de algo com horas, minutos e segundos para.
O tempo seria uma ilusão? O tempo parece
um fenômeno óbvio. Passado, presente e futuro seriam algo evidente e
incontestável. Para administrar o tempo, o homem o dividiu em unidades de
medidas. Dias, meses, anos, horas, minutos, segundos, décimos de segundos,
centésimos de segundos, milésimos de segundos e poderíamos subdividir os
segundos infinitamente, conforme a matemática contínua que regula o
tempo-espaço. Esta matemática vai eliminar ou pelo menos diluir o presente.
Antes de você terminar de falar a palavra presente, ela já é passado. O
presente seria um instante infinitesimal desprezível e somente haveria passado
e futuro. Este passado e futura também tem sua existência questionável. Com a
matemática e a linguagem, podemos ir no futuro e no passado em qualquer
fenômeno físico. Com instrumentos metafísicos como o cálculo e as flexões
verbais, podemos ir e vir no passado e no presente.
Em base nesta exposição, nossa filosofia
advoga a ideia de que os três instrumentos do conhecimento de natureza
metafísica (matemática, logica e linguagem) tem base igualmente metafísica: a
mente, consciência, alma, espírito ou qualquer outro nome que queriam dar esta
entidade de natureza além da física. Ainda, os cientificistas não podem acessar
as memórias, fórmulas, ideias, imaginação contidas na entidade metafísica, mas
somente mapear atividades elétricas no cérebro.
Agora, do ponto de vista de nossa
filosofia, fica fácil entender a árvore cartesiana com a metafísica como raiz e
a metafísica de Ari como a Filosofia Primeira, o primeiro conhecimento a ser
estudado. De fato, todo e qualquer conhecimento depende da matemática, da
linguagem e da lógica. Até mesmo o mundo animal precisa destes conhecimentos embrionários
e elementares para sobrevivência, conforme defendido em longo de nosso estudo.
Eles também comunicam (gênero da linguagem) entre si, contam até 3 ou 4 unidades,
utilizam a lógica se-então-senão para ter uma vida social, fazer sexo,
alimentar, ter segurança e até política.
Para nós, linguagem, lógica e matemática é
a Filosofia Primeira. Existencialismo Metafísico é a nossa Filosofia Última,
pois terá a generalização máxima do conhecimento.
Idealismo e Realismo são doutrinas
filosóficas que atravessaram a história do pensamento humano. Representam os
mundos metafísico e físico respectivamente. Iremos advogar a existência do
primeiro que manipula o segundo. Para isto, vamos investigar as questões das
questões existenciais. Quem (ou o que) eu sou? De onde vim e para onde vou?
Qual o propósito da existência? Ao final, demonstraremos a interação entre os
mundos físico e metafísico. Quem começa esta interação de mundos é a mitologia.
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