sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Capítulo 1 do livro EXISTENCIALISMO METAFÍSICO, A ÚLTIMA FILOSOFIA

 

1 - Disposições Gerais

 

 

- Toca Rauuul!

- Então tá, toma: “...dois problemas se misturam, a verdade do universo, a prestação que vai vencer...”.

Este trecho da música “Eu Também Vou Reclamar” de 1976 de Raul Seixas menciona duas verdades aparentemente opostas: a verdade universal, imutável e absoluta; e a verdade particular, efêmera, relativa. Na Grécia antiga, duas escolas paradigmáticas surgiram para tentar explicar o estudo da realidade (e também do dilema raulseixista), idealismo x realismo, mas ainda sem uma resposta satisfatória para a existência do universo e da vida. De um lado o real e sensível, as contas que vão vencer, as inúmeras rotinas que aliena o ser. Doutro lado as questões eternas, existenciais e universais da filosofia e dos pensadores. As contas que vão vencer são ditas reais, são as verdades materiais imediatas, efêmeras e quase inquestionáveis. As verdades absolutas também estão presentes e sua imutabilidade é defendida pelas religiões e pela matemática. Realismo e o idealismo são as duas doutrinas filosóficas referenciais que atravessam a história do pensamento.

Estas verdades, seja da vida ou do universo, sempre foram alvo de reflexões em todas searas do conhecimento. As mitologias foram as pioneiras a enfrentar este desafio humano. Com uma narrativa sobrenatural, explicavam a existência da vida e do universo a partir de um ato de vontade, de um deus criador ou de vários deuses sendo um deles o deus criador. Estes deuses não habitavam o mundo dos homens, mas sim um mundo celestial, metafísico em interação com um mundo físico e, por isso, muitas vezes confundido com o mundo físico. Estes dois mundos viviam em constante interação e, nas narrativas dos mitos, deuses e homens possuíam os mesmos vícios e virtudes. Para a mitologia, a realidade seria um mundo físico em interação com o mundo metafísico.

Depois de milênios destas mitologias sem oposição, surge a filosofia grega que criticou as narrativas sobrenaturais das mitologias para explicar a mesma realidade. Questionava o fato dos deuses possuírem as mesmas características físicas e psicológicas das tribos que promoveram as narrativas. Os deuses eram antropomórficos e cada tribo tinha sua própria narrativa mitológica. Os primeiros filósofos, os pré-socráticos, buscavam explicações naturais e racionais para os fenômenos naturais e para a existência. Com a evolução, fenômenos como raios, trovões, chuvas já não eram produzidos pelos deuses, mas sim produzidos pela própria natureza. O sol evapora a água que sobe e condensa em nuvens. Estas produzem chuvas, trovões e raios. Agora, não são deuses da chuva, do raio e do trovão que promovem tais fenômenos, mas sim padrões seguidos pela natureza. A crítica dos filósofos aos deuses antropomórficos era plausível. Todavia as mitologias tinham algo em comum: o início como um ato de vontade de um Criador, geralmente metafísico. 

Estes primeiros filósofos eram considerados metafísicos, pois queriam saber a origem, princípios e a natureza de tudo. Nesta época, surgiram filósofos materialistas que acreditavam que a origem de tudo é material, baseados em leis naturais. Era o início da ciência empirista. Na história do empirismo, muitos negavam uma alma ou espírito que habitasse o corpo. Em oposição, os filósofos espiritualistas contestaram os materialistas. Eles defendiam uma entidade imaterial além do corpo biológico. Para estes, a realidade do universo também se referia a um mundo físico em interação com um mundo metafísico.

Em comum, as religiões também apresentam estas interações de mundos. As religiões monoteístas surgiram das religiões politeístas e pregavam a existência apenas do Deus-Criador, enquanto as politeístas pregavam, via de regra, um deus-criador entre tantos outros deuses. A igreja romana apropriou da mitologia hebraica, adotou o monoteísmo e submeteu todo o Ocidente a seus dogmas. Ela elaborou uma hierarquia transcendental composta de um Deus, seu filho Jesus, o espírito santo, demônios, santos e anjos celestiais. Celestial porque esta hierarquia estaria no céu. Entretanto, o homem lançou seu olhar para o céu com seu moderno telescópio, mas não viu deus e nem os anjos celestiais. O homem percebeu a imensidão do universo e ampliou nossa pequenez.  Agora, os anjos não são mais celestiais, mas sim metafísicos. A igreja confundiu os mundos físico e metafísico. Modernamente, as religiões monoteístas passaram a ver a realidade como o mundo físico em interação com um mundo metafísico.

Em número bem menor, algumas religiões foram baseadas em lei naturais. A história religiosa não seria só de deuses. Algumas religiões não possuem deuses, como jainismo e budismo na índia, confucionismo e taoísmo na china, estoicismo, cinismo e epicurismo gregos. Apesar da falta de criador, estes credos sustentavam que uma ordem sobre-humana governava o mundo. Vale dizer, são leis naturais e não vontades ou caprichos divinos. Havia uma espécie de teologia da Natureza, seja lá o que ela for. Ao que parece, eles colocaram Natureza no lugar de Deus. Como esta ordem é sobre-humana, mais uma vez podemos ver um mundo físico em interação com um mundo metafísico.

Fazendo coro com estas religiões, filosofias naturais e a ciência também defendem a realidade ser baseada em leis naturais. Com a observação do céu, estudiosos perceberam que o Sol era o centro do universo e não a Terra. Posteriormente, observaram que nem a Terra e nem o Sol eram o centro do Universo. Os homens da ciência começaram a questionar a mitologia hebraica, começaram a duvidar de um deus e de uma alma imortal. Hoje, a ciência dita oficial nega um mundo metafísico, nega as religiões. Até com certa razão, pois as religiões pregam dogmas baseados em seus livros sagrados que contêm mitologias duvidosas, mas inquestionáveis.

Entretanto, a ciência vai encontrar dificuldade para esclarecer a natureza destas leis e a questão da origem delas. Onde estão escritas estas leis? Quem estabeleceu estas leis? A ciência retirou o nome Deus para explicar o universo e colocou a Natureza no lugar dele para explicar o mesmo universo. Muitas vezes, a ciência usa a Natureza para rivalizar com Deus, mas o que quer que ela seja utilizou a matemática para construir boa parte do universo para uns ou todo o universo para outros pensadores. A matemática não tem vontade própria, ela é um instrumento da vontade da inteligência humana. Similarmente, não seria a matemática (doravante math) um instrumento da vontade da Natureza? A natureza não teria uma inteligência reflexa da inteligência humana? Estranhamente, a ciência dita oficial menospreza uma inteligência extra-humana e aposta no Nada-criador.

A mais elementar das ciências, a física tem seus objetos de estudo na trilogia matéria-tempo-espaço. Ela dá a todas ciências o paradigma da realidade ser algo no tempo-espaço. Mas a ciência enfrenta outro problema insolúvel e de mesma natureza, pois ela utiliza instrumentos metafísicos em seu método, sem a trindade física matéria-tempo-espaço: A math, a lógica e a linguagem. Estes são sistemas que modelam tudo. Quando ocorreu, ocorre ou vai ocorrer um fenômeno físico, a descrição deste fenômeno feito pela matemática, lógica e pela linguagem é um fenômeno metafísico independentemente do fenômeno físico em si. Quando um físico determina a posição de um planeta qualquer do sistema solar, no passado ou no futuro, em relação ao sol, isto não é fenômeno físico em si, mas a representação metafísica do fenômeno. Depois de Newton, a math praticamente moldou a ciência. A física adicionou a precisão em seu método com o instrumento matemático. Mas este instrumento é metafísico e será nossa premissa, pois despreza a física, a matéria-tempo-espaço. Ao longo da obra, advogaremos tais linguagens como instrumentos metafísicos da inteligência humana.

Nesta vibe, a ciência também se refere a um mundo físico em interação com um mundo metafísico. Apesar da ciência pregar leis naturais, tais leis ditas “abstratas”, têm natureza metafísica, não são escritas pela Natureza e depende da matemática, um instrumento metafísico, em interação com o mundo físico. A ciência e toda a realidade inevitavelmente também vão do mundo físico em direção ao metafísico. Com esta abordagem, as searas do conhecimento ciência-religião-filosofia-mitologia se referem a um mundo físico em interação com um mundo metafísico. O pensamento vai em direção ao mundo metafísico.

Agora, devemos diferenciar os mundos físico e metafísico. Obviamente o estudo da metafísica implica o conceito de física. A ciência física, a mais embrionária das ciências, estuda os pequeninos átomos até as gigantescas galáxias. Seu objeto de estudo é a matéria-tempo-espaço. Da física clássica, passando pela relatividade, pela física quântica e moderna, esta trindade foi intensamente explorada. Vale dizer, o paradigma da física é a matéria no tempo-espaço.  A realidade seria algo em movimento. Algo importa em matéria e movimento implica tempo-espaço.

Em Aristóteles, a metafísica faz oposição a física, algo além dos sentidos. Modernamente, vimos que a física é algo material percebido pelos sentidos e seu estudo  no tempo-espaço. Agora, vamos afirmar que a metafisica é algo além (meta) da matéria (física), uma inteligência que vai além desta trilogia. Quando mencionamos que algo é metafísico, menosprezamos a trindade física. Obviamente a exclusão ou diluição de um ou mais destes objetos físicos, o conhecimento muda para o metafísico.

A nível macro, o fenômeno físico em si é um tempo linear, não cíclico, não volta atrás e nem sobrevoa o presente. Nossa linguagem modela o fenômeno físico e, diferentemente da física, nossa linguagem volta no tempo e transcende o futuro com as flexões dos verbos de nosso vocabulário. Além do tempo, nossa linguagem também funciona em qualquer espaço, basta a codificação e decodificação. O conteúdo desta codificação e decodificação é imaterial, apesar do envolvimento das questões físico-biológicas da escrita, da visão, do ar e da fala. Ao longo de nossa filosofia, advogaremos que a matemática, a lógica, a linguagem humana e a vida são metafísicas, pois dispensam a trindade física.

Forte neste pensamento, a math e a linguagem são entidades metafísicas que pareiam com objetos físicos. Elas não possuem substância e dispensam o tempo-espaço. Notem que estes conceitos são elementares e até podem ser questionados com malabarismo retórico-científico, mas serão nossas premissas.  Conceituar algo é complicado num mundo de relatividade, de desconstrução, de teoria da incerteza, de céticos e de sofistas. Mas vivemos com liberdade de pensamento, com dualismos inevitáveis, paradoxos e temos que aprender a conviver com eles.

Esta ideia filosófica não se trata de forma alguma de um jogo de linguagem, mas de um simples exercício semântico a prova de questionamentos lógicos. Física trata da trindade matéria-tempo-espaço. A realidade seria algo no tempo-espaço, mas a metafísica transcende este algo no tempo-espaço. Esta visão é central em nosso sistema filosófico, o Existencialismo Metafísico (doravante EM). Esta ideia é uma síntese lógica, praticamente científico-filosófica e advogada em toda esta obra. Nossa abordagem da realidade é diferenciada, baseada na metafísica da linguagem, da matemática e da lógica. Ao invés de metafísico, a ciência, os críticos e a retórica vão dizer que aqueles instrumentos da inteligência são “abstratos”, seja lá o querem dizer com isto. Mas nossa premissa é que eles são metafísicos.

Fazendo prova na biologia, não existe um órgão da linguagem, não existe um gene da matemática, não existe um local específico onde estão os códigos da linguagem natural e artificial da matemática. A neurociência instala eletrodos na cabeça humana, porém não vêm nada além de eletricidade e mapeiam a energia cerebral. Da mesma forma, modernos aparelhos eletrônicos como ressonância magnética, tomografia, eletroencefalograma não vêm equações, palavras e nem o pensamento humano. A neurociência é uma ciência fantástica, mas superficial ainda. Uma teoria metafísica da linguagem explica melhor nossa realidade. Linguagem, comunicação, imaginação, memória, aprendizado, pensamento são habilidades cognitivas-metafísicas sem substância-tempo-espaço. Mas elas têm um aspecto pragmático conectado à realidade material.  Para se criar e até construir uma casa, precisamos inicialmente mentalizar (metafisicamente) para, em seguida, realizar materialmente. Ao ver a casa construída, então acreditam que tudo é material. O senso comum ainda está tão acostumado com a matéria e será difícil convencer do contrário.

Fazendo coro com este senso comum, a física e todas ciências também acreditam que tudo é matéria. Neurocientistas e outros estudiosos, como psicólogos e filósofos, querem saber onde está o pensamento e a ideia. O cérebro tem sua natureza física e seu lugar no tempo-espaço, mas a consciência-mente não tem substância-tempo-espaço específico. Como a ideia “abstrata” de 2 + 2 = 4 (dentro de um sistema axiomático) sem ter substância, funciona em qualquer tempo-espaço? A resposta é além do tempo-espaço. A mente também tem natureza metafísica, pois transcende a trindade física substância-tempo-espaço. Ainda assim, a ciência não vislumbra a nossa realidade metafísica, pois está ataviada ao mundo físico.

Nesta acepção, toda vez que a ciência enfrenta questões metafísicas, ela entra em rua sem saída e fala em abstração. A matemática é seu principal instrumento de trabalho, mas é um instrumento metafísico, não tem substância, funciona igualmente em qualquer tempo-espaço, mas aplica-se a toda física, química, engenharia, entre outras searas do conhecimento. A ciência também não tem uma explicação para a eficiência da math em esclarecer o mundo físico. Ou seja, a math pode ser puramente metafísica como uma equação, mas como pode esta mesma equação pode modelar o mundo material? A ciência vivencia este paradoxo e não tem uma saída material para ele.

Em comum com a ciência dita oficial, a biologia tenta explicar a vida materialmente em termos de mecanismos biológicos. Porém, a biologia não sabe o que é vida e nem como uma matéria inanimada transformou-se em animada. Como a física, a biologia acredita em forças cegas que movem a vida e o universo como o acaso, acidente e sorte. Sem considerar a metafísica, a ciência não apresenta boa resposta para a existência da vida.

A ciência ainda não tem laboratórios para investigar este mundo metafísico. Nossa consciência não é acessada pelos laboratórios. Tudo que fazem é medir sinais elétricos manifestados pelo cérebro através de aparelhos modernos. Já se falou ironicamente que nosso espírito-consciência é um fantasma que habita nosso corpo. Mas ainda, nunca acessam o que realmente sonhamos, pensamos, imaginamos, memorizamos, aprendemos, pois são searas metafísicas. Ainda, o experimentalismo científico é inviável para o estudo metafísico, mas o racionalismo enxerga claramente o “abstrato” como gostam de dizer cientistas ao se referirem ao metafísico.

Como alternativa a este materialismo científico, as religiões oferecem, historicamente, um pensamento metafísico muitas vezes confundido com o pensamento físico. Porém, apesar de pregar um mundo metafísico, o pensamento teológico ocidental é o mesmo pensamento mitológico de mais de 2 mil anos atras. Com isto, as religiões são dogmáticas, não evoluem e estagnam o conhecimento. Elas pensam a existência em termos fixos e não de evolução (biológica e espiritual) que é uma lei natural. Acabam negando a natureza. A vida vem de um ovo (esperma mais um óvulo). Vira um embrião, em seguida, feto, nascituro, criança, adolescente, adulto e um ancião. O que é isto senão evolução biológica. A evolução salta os olhos. Negar a evolução é negar a si próprio, é negar a razão, é negar a realidade.

Em sintonia com o exposto, eis um diagnóstico do conhecimento hoje. De um lado a ciência materialista, pregando forças cegas, negando o mundo metafísico, porém utilizando os instrumentos metafísicos linguagem e matemática; doutro lado, as religiões pregando um mundo metafísico e usando a fé cega para defendê-lo. No fundo, o mesmo dilema filosófico dos gregos antigos, real x ideal. Ainda existem doutrinas ditas existencialistas que buscam o sentido da vida e do universo, mas são divergentes. Enquanto o existencialismo cristão prega um criador, o existencialismo materialista-ateu nega o criador.

Como alternativa a estas doutrinas, este livro advoga a existência do mundo metafísico com base no racionalismo, o método matemático para investigar a realidade. O método axiomático-dedutivo exposto na obra de Euclides irá fundamentar nossa ideia. Vale salientar, que os axiomas auto evidentes euclidiano foi superado pelas geometrias não euclidianas com a liberdade de criação de axiomas. Vale dizer, qualquer sistema matemático (ou não) começa com a liberdade para, em seguida, vir o determinismo, a igualdade em casos de matemática.

Pensando além da Álgebra Moderna (matemática é estrutura), a matemática é um sistema, ou melhor, um encadeamento de sistemas. Sistema é um conjunto de objetos em interações lógicas. Algebricamente, é um conjunto indefinido de elementos e uma operação binária interna indefinida. Com liberdade, podemos definir os axiomas com os infinitos conjuntos e operações, mas depois desta liberdade teremos o resultado determinístico. Chamamos ideia de lógica se-então-senão. Outra ideia que enxergamos para além da álgebra moderna é que infinitos conjuntos com finitos ou infinitos elementos, que chamamos de pluralismo, passam por infinitas operações binarias, que chamamos de dualismo, para chegar a um resultado, que chamamos de monismo. Assim, a estrutura do universo é composta de um pluralismo que passa pelo dualismo para chegar a um monismo, a integração

Esta ideia sistêmica reflete na matemática (números e pontos em interações), na lógica (conceitos em interações) e na linguagem (palavras em interações). Todas estas disciplinas são metafísicas em interações com a realidade física. Isto vale para criação da linguagem, da lógica e de toda produção humana, seja tecnológica ou cultural. Se vale para tudo humano, vale para toda natureza, uma vez que somos reflexo dela. Se vale para tudo, pelo método indutivo, vale também até para uma teologia natural sem livros sagrados.

A ideia desta obra faz uma abordagem diferenciada do pensamento, polarizado pelos mundos físico e metafísico, defende este para, em seguida, elaborar um sistema filosófico. Esta abordagem é nova, mas a ideia não é, pois este dualismo vem desde a Grécia antiga e atravessa a história do pensamento com muitos nomes: physics x psyque; realismo x idealismo; matéria x espírito são os mais citados.

Nossa abordagem demonstra a transcendência para além da trindade física, matéria-tempo-espaço, e assim uma opção ao pensamento materialista científico. As ciências se ocupam com o mundo físico e multiplicam num caos especialista. Mas até a especialização busca conectar com o todo. Busca ligar o micro ao macro. O que são as defesas de teses e dissertações senão conectar o micro ao macro, a ciência à filosofia, o pensamento analítico ao pensamento sintético. Indução e dedução estão no centro do pensamento racional. Cada análise deve passar pela triagem da síntese.

Grandes filósofos sempre procuraram a unificação, a sistematização e não a fragmentação.  Baruch Spinoza buscava perceber unidade na diversidade, encontrar a síntese na qual opostos e contradições se encontram e se fundem. Jan Amos Komenský, conhecido como Comenius, dedicou grande parte de sua vida a unificação da totalidade do conhecimento humano. Seu pensamento último era a compreensão universal que uniria toda humanidade. Esta base filosófica, ele denominou Pansofia, um princípio que harmonizasse todo o saber. Grandes pensadores sempre buscaram uma chave para o conhecimento de todas as coisas, uma teoria para explicar todo o funcionamento do mundo, uma lógica que abarcasse todo o Universo.

A grande confusão do pensamento atual, seja científico, religioso, filosófico, é a falha de separação do físico e do metafisico. A ciência e sua especializações mataram a ideia dos grandes saberes integrados. O pensamento sintético sempre atrai, pois as especializações da ciência rumam ao infinito e além. A filosofia deveria buscar um pensamento unificador que alcance a tudo e a todos. Não uma especialização para poucos. No entanto, a ciência e a tecnologia triunfaram depois da revolução industrial e a filosofia adotou o mesmo endereço da gloriosa ciência. Hodiernamente, a filosofia faz coro com a ciência e tende ao especialismo, ao hermetismo e ao ceticismo. A fragmentação da filosofia promoveu a falência de grandes sistemas filosóficos e de uma unificação.

Modernamente, a física, ciência da onda, também busca uma teoria do tudo. Ela busca uma equação para integrar todas as forças do cosmo. Tivemos até um candidato a tal façanha: Stephen Hawking, físico inglês, aquele cientista de voz mecanizada e todo deformado fisicamente. Hawking declarou a morte da filosofia, mas não chegou a nenhuma equação do tudo e nem a uma equação do nada. Matemáticos e físicos gostam de equações para explicar particularidades da natureza. Entretanto a essência do universo está em qualquer equação, por mais simples que pareça. Toda equação envolve os princípios filosóficos de liberdade no início e determinismo depois. Estes valores filosóficos, liberdade e determinismo, não têm como ser quantificados, medidos, ordenados e por isto não são vistos pelos matemáticos e físicos. A eles, junta-se a existência e formam a trindade de nosso estudo.

Mas, ainda, a ciência e a tecnologia estão vencendo a filosofia. As pessoas não desgrudam de seus celulares. Sonham com carros caros, casas grandes, grandes somas de dinheiro. Em contato com pessoas, com a mídia, principalmente a Tv, percebe-se que o sentido da vida é um consumismo exagerado e a fama. O auge da vida é ser uma celebridade, seja atleta, cantor, ou ator, consumindo marcas de altíssimos valores, ainda que estas celebridades sejam vazias de conteúdo. A moda é o culto a superfície. A superficialidade impera junto à ciência que reduz tudo a mecanismos físicos. A vida passou a ser uma máquina sem sentido.

O pensamento filosófico-científico atual é positivista. Algo para ser científico tem que ser mensurado. Em razão da física, o paradigma atual da realidade é algo no tempo-espaço; seja o mundo micro atômico ou macro como o movimento das galáxias. Reduzir a vida à física, reduzir tudo aos átomos estranha o pensamento mais profundo. A vida parece (e é) muito mais que um amontoado de átomos ou células. O ser transcende órgãos, carnes e ossos. Sempre que estudiosos e espiritualistas buscam conectar a ciência com o espiritual, a Academia corre para negar tal conexão. Casos como as teorias científicas dos princípios Antrópico e do Biocentrismo, proprietários da ciência estão sempre de plantão para negar o metafísico.

Platão, o melhor filósofo, defendeu o metafísico e dividiu a realidade em: o mundo sensível e o mundo das ideias. Ele assegurava que o mundo das ideias era o verdadeiro e eterno mundo. Seu discípulo Aristóteles também era metafísico, mas concentrou-se no mundo físico. Por causa destes filósofos, pensadores póstumos dividiram o pensamento em duas correntes filosóficas que atravessaram os tempos. De um lado, o idealismo e racionalismo de vertente platônica; doutro lado, realismo e empirismo de vertente aristotélica. Mas a ciência dominou o conhecimento no século XIX com o positivismo. O idealismo e racionalismo perderam força para o realismo e empirismo. Ao lado do pragmatismo e da tecnologia, o positivismo dissolveu o idealismo e a Metafísica. O existencialismo ateu continuou esse desserviço.

Ainda hoje, a física nega o metafísico. Fazendo oposição, o pensamento religioso prega um mundo metafísico, mas a teologia ocidental e oriental é a mesma de milhares de anos atrás e seus dogmas não permitem evolução. A filosofia virou um adjunto da ciência e também se afastou da metafísica. Dogmas científicos limitam a filosofia e ela não tem grandes lampejos. Apesar de Aristóteles também pregar um Deus, um Demiurgo (a causa primária de tudo) e um mundo metafísico, a ciência adotou dele apenas o estudo do mundo sensível.

Este ensaio filosófico tem pretensões de conexão e síntese. Adotará conceitos simples, conhecidos e sem delongas em conceitos, citações científicas e filosóficas. Também tem pretensões de busca de verdades eternas, como dizia Platão. Tem pretensões de unificação do conhecimento. Tem pretensões de buscar o “porquê” dos fenômenos, já que as ciências só podem dizer o “como” dos fenômenos. Visa uma síntese filosófica não somente com base em provas e fatos, mas também com base na razão e em argumentos científicos, filosóficos e teológicos, desde que não contraditórios. A ideia foi considerar todos os conhecimentos naquilo que são fortes, desprovidos de contradições. Naquilo que forem contraditórios descartamos pelo princípio do conjunto probatório como no método policial-judicial.

Nosso sistema filosófico, Existencialismo Metafísico, é um genuíno sistema filosófico brasileiro e, para além, uma filosofia inovadora sem igual desde Platão. Ele busca uma síntese sobre as várias searas de pensamentos. É uma sistematização de todos os sistemas de pensamento. As principais formas de conhecimento são o religioso, científico, filosófico, mitológico e artístico. O instrumento religioso para chegar ao conhecimento é a fé cega em escrituras sagradas; o científico é a experiência com base em forças cegas; a filosofia, a razão; a arte, as emoções. Cada sistema tem uma diferenciada abordagem para a mesma realidade.  Os vários sistemas de pensamento citados geram antagonismos diversos, mas o principal é o antagonismo entre a religião e a ciência. As religiões pregam um mundo espiritual, um mundo além da física, um mundo metafísico. A ciência nega este mundo. A filosofia acompanha a ciência, pois tem residência confortável nas universidades junto com a ciência. A arte também tem endereço na Academia, não tem um pensamento próprio e se diverte com os outros sistemas de pensamento.

Como qualquer sistema, o EM também tem objetos em interações lógicas que resultam numa saída, a existência metafisica. Ele tem objetos para a entrada do sistema: mitologia, religiões, filosofia, ciência, arte. As interações lógicas entre eles têm como saída a metafisica, ponto em comum sobre todos eles. É nossa premissa os sistemas de linguagem e matemática sejam considerados metafísicos. Assim, o pensamento científico também é metafísico. É nossa premissa ver a realidade do ponto vista sistêmico. Tudo é sistema. Assim, defenderemos a natureza metafísica e sistêmica da linguagem, da lógica, da matemática e da vida. Advogaremos os princípios-valores básicos da existência, da liberdade e do determinismo em toda a realidade. Por fim, defenderemos a estrutura da realidade com o monismo, dualismo e pluralismo.

Existencialismo Metafísico é só um nome filosófico, digamos pomposo, para dizer que a existência da vida e do universo é metafísica, como gosta a filosofia, ou espiritual como gostam as religiões.

 

 

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