1 - Disposições Gerais
- Toca Rauuul!
- Então tá, toma: “...dois problemas se
misturam, a verdade do universo, a prestação que vai vencer...”.
Este trecho da música “Eu Também Vou
Reclamar” de 1976 de Raul Seixas menciona duas verdades aparentemente opostas:
a verdade universal, imutável e absoluta; e a verdade particular, efêmera,
relativa. Na Grécia antiga, duas escolas paradigmáticas surgiram para tentar
explicar o estudo da realidade (e também do dilema raulseixista), idealismo x
realismo, mas ainda sem uma resposta satisfatória para a existência do universo
e da vida. De um lado o real e sensível, as contas que vão vencer, as inúmeras
rotinas que aliena o ser. Doutro lado as questões eternas, existenciais e
universais da filosofia e dos pensadores. As contas que vão vencer são ditas
reais, são as verdades materiais imediatas, efêmeras e quase inquestionáveis.
As verdades absolutas também estão presentes e sua imutabilidade é defendida
pelas religiões e pela matemática. Realismo e o idealismo são as duas doutrinas
filosóficas referenciais que atravessam a história do pensamento.
Estas verdades, seja da vida ou do
universo, sempre foram alvo de reflexões em todas searas do conhecimento. As
mitologias foram as pioneiras a enfrentar este desafio humano. Com uma
narrativa sobrenatural, explicavam a existência da vida e do universo a partir
de um ato de vontade, de um deus criador ou de vários deuses sendo um deles o
deus criador. Estes deuses não habitavam o mundo dos homens, mas sim um mundo
celestial, metafísico em interação com um mundo físico e, por isso, muitas
vezes confundido com o mundo físico. Estes dois mundos viviam em constante
interação e, nas narrativas dos mitos, deuses e homens possuíam os mesmos
vícios e virtudes. Para a mitologia, a realidade seria um mundo físico em
interação com o mundo metafísico.
Depois de milênios destas mitologias sem
oposição, surge a filosofia grega que criticou as narrativas sobrenaturais das
mitologias para explicar a mesma realidade. Questionava o fato dos deuses
possuírem as mesmas características físicas e psicológicas das tribos que
promoveram as narrativas. Os deuses eram antropomórficos e cada tribo tinha sua
própria narrativa mitológica. Os primeiros filósofos, os pré-socráticos,
buscavam explicações naturais e racionais para os fenômenos naturais e para a
existência. Com a evolução, fenômenos como raios, trovões, chuvas já não eram
produzidos pelos deuses, mas sim produzidos pela própria natureza. O sol
evapora a água que sobe e condensa em nuvens. Estas produzem chuvas, trovões e
raios. Agora, não são deuses da chuva, do raio e do trovão que promovem tais
fenômenos, mas sim padrões seguidos pela natureza. A crítica dos filósofos aos
deuses antropomórficos era plausível. Todavia as mitologias tinham algo em
comum: o início como um ato de vontade de um Criador, geralmente
metafísico.
Estes primeiros filósofos eram
considerados metafísicos, pois queriam saber a origem, princípios e a natureza
de tudo. Nesta época, surgiram filósofos materialistas que acreditavam que a
origem de tudo é material, baseados em leis naturais. Era o início da ciência
empirista. Na história do empirismo, muitos negavam uma alma ou espírito que
habitasse o corpo. Em oposição, os filósofos espiritualistas contestaram os
materialistas. Eles defendiam uma entidade imaterial além do corpo biológico.
Para estes, a realidade do universo também se referia a um mundo físico em
interação com um mundo metafísico.
Em comum, as religiões também apresentam
estas interações de mundos. As religiões monoteístas surgiram das religiões
politeístas e pregavam a existência apenas do Deus-Criador, enquanto as
politeístas pregavam, via de regra, um deus-criador entre tantos outros deuses.
A igreja romana apropriou da mitologia hebraica, adotou o monoteísmo e submeteu
todo o Ocidente a seus dogmas. Ela elaborou uma hierarquia transcendental
composta de um Deus, seu filho Jesus, o espírito santo, demônios, santos e
anjos celestiais. Celestial porque esta hierarquia estaria no céu. Entretanto,
o homem lançou seu olhar para o céu com seu moderno telescópio, mas não viu
deus e nem os anjos celestiais. O homem percebeu a imensidão do universo e
ampliou nossa pequenez. Agora, os anjos
não são mais celestiais, mas sim metafísicos. A igreja confundiu os mundos
físico e metafísico. Modernamente, as religiões monoteístas passaram a ver a
realidade como o mundo físico em interação com um mundo metafísico.
Em número bem menor, algumas religiões
foram baseadas em lei naturais. A história religiosa não seria só de deuses.
Algumas religiões não possuem deuses, como jainismo e budismo na índia,
confucionismo e taoísmo na china, estoicismo, cinismo e epicurismo gregos.
Apesar da falta de criador, estes credos sustentavam que uma ordem sobre-humana
governava o mundo. Vale dizer, são leis naturais e não vontades ou caprichos
divinos. Havia uma espécie de teologia da Natureza, seja lá o que ela for. Ao
que parece, eles colocaram Natureza no lugar de Deus. Como esta ordem é
sobre-humana, mais uma vez podemos ver um mundo físico em interação com um
mundo metafísico.
Fazendo coro com estas religiões,
filosofias naturais e a ciência também defendem a realidade ser baseada em leis
naturais. Com a observação do céu, estudiosos perceberam que o Sol era o centro
do universo e não a Terra. Posteriormente, observaram que nem a Terra e nem o
Sol eram o centro do Universo. Os homens da ciência começaram a questionar a
mitologia hebraica, começaram a duvidar de um deus e de uma alma imortal. Hoje,
a ciência dita oficial nega um mundo metafísico, nega as religiões. Até com certa
razão, pois as religiões pregam dogmas baseados em seus livros sagrados que
contêm mitologias duvidosas, mas inquestionáveis.
Entretanto, a ciência vai encontrar
dificuldade para esclarecer a natureza destas leis e a questão da origem delas.
Onde estão escritas estas leis? Quem estabeleceu estas leis? A ciência retirou
o nome Deus para explicar o universo e colocou a Natureza no lugar dele para
explicar o mesmo universo. Muitas vezes, a ciência usa a Natureza para
rivalizar com Deus, mas o que quer que ela seja utilizou a matemática para
construir boa parte do universo para uns ou todo o universo para outros
pensadores. A matemática não tem vontade própria, ela é um instrumento da
vontade da inteligência humana. Similarmente, não seria a matemática (doravante
math) um instrumento da vontade da Natureza? A natureza não teria uma
inteligência reflexa da inteligência humana? Estranhamente, a ciência dita
oficial menospreza uma inteligência extra-humana e aposta no Nada-criador.
A mais elementar das ciências, a física
tem seus objetos de estudo na trilogia matéria-tempo-espaço. Ela dá a todas
ciências o paradigma da realidade ser algo no tempo-espaço. Mas a ciência
enfrenta outro problema insolúvel e de mesma natureza, pois ela utiliza
instrumentos metafísicos em seu método, sem a trindade física
matéria-tempo-espaço: A math, a lógica e a linguagem. Estes são sistemas que
modelam tudo. Quando ocorreu, ocorre ou vai ocorrer um fenômeno físico, a
descrição deste fenômeno feito pela matemática, lógica e pela linguagem é um
fenômeno metafísico independentemente do fenômeno físico em si. Quando um
físico determina a posição de um planeta qualquer do sistema solar, no passado
ou no futuro, em relação ao sol, isto não é fenômeno físico em si, mas a
representação metafísica do fenômeno. Depois de Newton, a math praticamente
moldou a ciência. A física adicionou a precisão em seu método com o instrumento
matemático. Mas este instrumento é metafísico e será nossa premissa, pois
despreza a física, a matéria-tempo-espaço. Ao longo da obra, advogaremos tais
linguagens como instrumentos metafísicos da inteligência humana.
Nesta vibe, a ciência também se refere a
um mundo físico em interação com um mundo metafísico. Apesar da ciência pregar
leis naturais, tais leis ditas “abstratas”, têm natureza metafísica, não são
escritas pela Natureza e depende da matemática, um instrumento metafísico, em
interação com o mundo físico. A ciência e toda a realidade inevitavelmente
também vão do mundo físico em direção ao metafísico. Com esta abordagem, as
searas do conhecimento ciência-religião-filosofia-mitologia se referem a um
mundo físico em interação com um mundo metafísico. O pensamento vai em direção
ao mundo metafísico.
Agora, devemos diferenciar os mundos
físico e metafísico. Obviamente o estudo da metafísica implica o conceito de
física. A ciência física, a mais embrionária das ciências, estuda os pequeninos
átomos até as gigantescas galáxias. Seu objeto de estudo é a matéria-tempo-espaço.
Da física clássica, passando pela relatividade, pela física quântica e moderna,
esta trindade foi intensamente explorada. Vale dizer, o paradigma da física é a
matéria no tempo-espaço. A realidade seria
algo em movimento. Algo importa em matéria e movimento implica tempo-espaço.
Em Aristóteles, a metafísica faz oposição
a física, algo além dos sentidos. Modernamente, vimos que a física é algo
material percebido pelos sentidos e seu estudo
no tempo-espaço. Agora, vamos afirmar que a metafisica é algo além
(meta) da matéria (física), uma inteligência que vai além desta trilogia.
Quando mencionamos que algo é metafísico, menosprezamos a trindade física.
Obviamente a exclusão ou diluição de um ou mais destes objetos físicos, o
conhecimento muda para o metafísico.
A nível macro, o fenômeno físico em si é
um tempo linear, não cíclico, não volta atrás e nem sobrevoa o presente. Nossa
linguagem modela o fenômeno físico e, diferentemente da física, nossa linguagem
volta no tempo e transcende o futuro com as flexões dos verbos de nosso
vocabulário. Além do tempo, nossa linguagem também funciona em qualquer espaço,
basta a codificação e decodificação. O conteúdo desta codificação e
decodificação é imaterial, apesar do envolvimento das questões
físico-biológicas da escrita, da visão, do ar e da fala. Ao longo de nossa
filosofia, advogaremos que a matemática, a lógica, a linguagem humana e a vida
são metafísicas, pois dispensam a trindade física.
Forte neste pensamento, a math e a
linguagem são entidades metafísicas que pareiam com objetos físicos. Elas não
possuem substância e dispensam o tempo-espaço. Notem que estes conceitos são
elementares e até podem ser questionados com malabarismo retórico-científico,
mas serão nossas premissas. Conceituar
algo é complicado num mundo de relatividade, de desconstrução, de teoria da
incerteza, de céticos e de sofistas. Mas vivemos com liberdade de pensamento,
com dualismos inevitáveis, paradoxos e temos que aprender a conviver com eles.
Esta ideia filosófica não se trata de
forma alguma de um jogo de linguagem, mas de um simples exercício semântico a
prova de questionamentos lógicos. Física trata da trindade
matéria-tempo-espaço. A realidade seria algo no tempo-espaço, mas a metafísica transcende
este algo no tempo-espaço. Esta visão é central em nosso sistema filosófico, o
Existencialismo Metafísico (doravante EM). Esta ideia é uma síntese lógica,
praticamente científico-filosófica e advogada em toda esta obra. Nossa
abordagem da realidade é diferenciada, baseada na metafísica da linguagem, da
matemática e da lógica. Ao invés de metafísico, a ciência, os críticos e a
retórica vão dizer que aqueles instrumentos da inteligência são “abstratos”,
seja lá o querem dizer com isto. Mas nossa premissa é que eles são metafísicos.
Fazendo
coro com este senso comum, a física e todas ciências também acreditam que tudo
é matéria. Neurocientistas e outros estudiosos, como
psicólogos e filósofos, querem saber onde está o pensamento e a ideia. O
cérebro tem sua natureza física e seu lugar no tempo-espaço, mas a
consciência-mente não tem substância-tempo-espaço específico. Como a ideia
“abstrata” de 2 + 2 = 4 (dentro de um sistema axiomático) sem ter substância,
funciona em qualquer tempo-espaço? A resposta é além do tempo-espaço. A mente
também tem natureza metafísica, pois transcende a trindade física
substância-tempo-espaço. Ainda assim, a ciência não vislumbra a nossa realidade
metafísica, pois está ataviada ao mundo físico.
Nesta acepção, toda vez que a ciência
enfrenta questões metafísicas, ela entra em rua sem saída e fala em abstração.
A matemática é seu principal instrumento de trabalho, mas é um instrumento
metafísico, não tem substância, funciona igualmente em qualquer tempo-espaço,
mas aplica-se a toda física, química, engenharia, entre outras searas do
conhecimento. A ciência também não tem uma explicação para a eficiência da math
em esclarecer o mundo físico. Ou seja, a math pode ser puramente metafísica
como uma equação, mas como pode esta mesma equação pode modelar o mundo
material? A ciência vivencia este paradoxo e não tem uma saída material para
ele.
Em comum com a ciência dita oficial, a
biologia tenta explicar a vida materialmente em termos de mecanismos
biológicos. Porém, a biologia não sabe o que é vida e nem como uma matéria
inanimada transformou-se em animada. Como a física, a biologia acredita em
forças cegas que movem a vida e o universo como o acaso, acidente e sorte. Sem
considerar a metafísica, a ciência não apresenta boa resposta para a existência
da vida.
A ciência ainda não tem laboratórios para
investigar este mundo metafísico. Nossa consciência não é acessada pelos
laboratórios. Tudo que fazem é medir sinais elétricos manifestados pelo cérebro
através de aparelhos modernos. Já se falou ironicamente que nosso espírito-consciência
é um fantasma que habita nosso corpo. Mas ainda, nunca acessam o que realmente
sonhamos, pensamos, imaginamos, memorizamos, aprendemos, pois são searas
metafísicas. Ainda, o experimentalismo científico é inviável para o estudo metafísico,
mas o racionalismo enxerga claramente o “abstrato” como gostam de dizer
cientistas ao se referirem ao metafísico.
Como alternativa a este materialismo
científico, as religiões oferecem, historicamente, um pensamento metafísico
muitas vezes confundido com o pensamento físico. Porém, apesar de pregar um
mundo metafísico, o pensamento teológico ocidental é o mesmo pensamento
mitológico de mais de 2 mil anos atras. Com isto, as religiões são dogmáticas,
não evoluem e estagnam o conhecimento. Elas pensam a existência em termos fixos
e não de evolução (biológica e espiritual) que é uma lei natural. Acabam
negando a natureza. A vida vem de um ovo (esperma mais um óvulo). Vira um
embrião, em seguida, feto, nascituro, criança, adolescente, adulto e um ancião.
O que é isto senão evolução biológica. A evolução salta os olhos. Negar a
evolução é negar a si próprio, é negar a razão, é negar a realidade.
Em sintonia com o exposto, eis um
diagnóstico do conhecimento hoje. De um lado a ciência materialista, pregando
forças cegas, negando o mundo metafísico, porém utilizando os instrumentos
metafísicos linguagem e matemática; doutro lado, as religiões pregando um mundo
metafísico e usando a fé cega para defendê-lo. No fundo, o mesmo dilema
filosófico dos gregos antigos, real x ideal. Ainda existem doutrinas ditas
existencialistas que buscam o sentido da vida e do universo, mas são
divergentes. Enquanto o existencialismo cristão prega um criador, o
existencialismo materialista-ateu nega o criador.
Como alternativa a estas doutrinas, este
livro advoga a existência do mundo metafísico com base no racionalismo, o
método matemático para investigar a realidade. O método axiomático-dedutivo
exposto na obra de Euclides irá fundamentar nossa ideia. Vale salientar, que os
axiomas auto evidentes euclidiano foi superado pelas geometrias não euclidianas
com a liberdade de criação de axiomas. Vale dizer, qualquer sistema matemático
(ou não) começa com a liberdade para, em seguida, vir o determinismo, a igualdade
em casos de matemática.
Pensando além da Álgebra Moderna
(matemática é estrutura), a matemática é um sistema, ou melhor, um encadeamento
de sistemas. Sistema é um conjunto de objetos em interações lógicas.
Algebricamente, é um conjunto indefinido de elementos e uma operação binária
interna indefinida. Com liberdade, podemos definir os axiomas com os infinitos
conjuntos e operações, mas depois desta liberdade teremos o resultado
determinístico. Chamamos ideia de lógica se-então-senão. Outra ideia que
enxergamos para além da álgebra moderna é que infinitos conjuntos com finitos
ou infinitos elementos, que chamamos de pluralismo, passam por infinitas
operações binarias, que chamamos de dualismo, para chegar a um resultado, que
chamamos de monismo. Assim, a estrutura do universo é composta de um pluralismo
que passa pelo dualismo para chegar a um monismo, a integração
Esta ideia sistêmica reflete na matemática
(números e pontos em interações), na lógica (conceitos em interações) e na
linguagem (palavras em interações). Todas estas disciplinas são metafísicas em
interações com a realidade física. Isto vale para criação da linguagem, da
lógica e de toda produção humana, seja tecnológica ou cultural. Se vale para
tudo humano, vale para toda natureza, uma vez que somos reflexo dela. Se vale
para tudo, pelo método indutivo, vale também até para uma teologia natural sem
livros sagrados.
A ideia desta obra faz uma abordagem
diferenciada do pensamento, polarizado pelos mundos físico e metafísico,
defende este para, em seguida, elaborar um sistema filosófico. Esta abordagem é
nova, mas a ideia não é, pois este dualismo vem desde a Grécia antiga e
atravessa a história do pensamento com muitos nomes: physics x psyque; realismo
x idealismo; matéria x espírito são os mais citados.
Nossa abordagem demonstra a transcendência
para além da trindade física, matéria-tempo-espaço, e assim uma opção ao
pensamento materialista científico. As ciências se ocupam com o mundo físico e
multiplicam num caos especialista. Mas até a especialização busca conectar com
o todo. Busca ligar o micro ao macro. O que são as defesas de teses e
dissertações senão conectar o micro ao macro, a ciência à filosofia, o
pensamento analítico ao pensamento sintético. Indução e dedução estão no centro
do pensamento racional. Cada análise deve passar pela triagem da síntese.
Grandes filósofos sempre procuraram a
unificação, a sistematização e não a fragmentação. Baruch Spinoza buscava perceber unidade na
diversidade, encontrar a síntese na qual opostos e contradições se encontram e
se fundem. Jan Amos Komenský, conhecido como Comenius, dedicou grande parte de
sua vida a unificação da totalidade do conhecimento humano. Seu pensamento
último era a compreensão universal que uniria toda humanidade. Esta base
filosófica, ele denominou Pansofia, um princípio que harmonizasse todo o saber.
Grandes pensadores sempre buscaram uma chave para o conhecimento de todas as
coisas, uma teoria para explicar todo o funcionamento do mundo, uma lógica que
abarcasse todo o Universo.
A grande confusão do pensamento atual,
seja científico, religioso, filosófico, é a falha de separação do físico e do
metafisico. A ciência e sua especializações mataram a ideia dos grandes saberes
integrados. O pensamento sintético sempre atrai, pois as especializações da
ciência rumam ao infinito e além. A
filosofia deveria buscar um pensamento unificador que alcance a tudo e a todos.
Não uma especialização para poucos. No entanto, a ciência e a tecnologia
triunfaram depois da revolução industrial e a filosofia adotou o mesmo endereço
da gloriosa ciência. Hodiernamente, a filosofia faz coro com a ciência e tende
ao especialismo, ao hermetismo e ao ceticismo. A fragmentação da filosofia
promoveu a falência de grandes sistemas filosóficos e de uma unificação.
Modernamente, a física, ciência da onda, também
busca uma teoria do tudo. Ela busca uma equação para integrar todas as forças
do cosmo. Tivemos até um candidato a tal façanha: Stephen Hawking, físico
inglês, aquele cientista de voz mecanizada e todo deformado fisicamente.
Hawking declarou a morte da filosofia, mas não chegou a nenhuma equação do tudo
e nem a uma equação do nada. Matemáticos e físicos gostam de equações para
explicar particularidades da natureza. Entretanto a essência do universo está
em qualquer equação, por mais simples que pareça. Toda equação envolve os
princípios filosóficos de liberdade no início e determinismo depois. Estes
valores filosóficos, liberdade e determinismo, não têm como ser quantificados,
medidos, ordenados e por isto não são vistos pelos matemáticos e físicos. A
eles, junta-se a existência e formam a trindade de nosso estudo.
Mas, ainda, a ciência e a tecnologia estão
vencendo a filosofia. As pessoas não desgrudam de seus celulares. Sonham com
carros caros, casas grandes, grandes somas de dinheiro. Em contato com pessoas,
com a mídia, principalmente a Tv, percebe-se que o sentido da vida é um
consumismo exagerado e a fama. O auge da vida é ser uma celebridade, seja
atleta, cantor, ou ator, consumindo marcas de altíssimos valores, ainda que
estas celebridades sejam vazias de conteúdo. A moda é o culto a superfície. A
superficialidade impera junto à ciência que reduz tudo a mecanismos físicos. A
vida passou a ser uma máquina sem sentido.
O pensamento filosófico-científico atual é
positivista. Algo para ser científico tem que ser mensurado. Em razão da
física, o paradigma atual da realidade é algo no tempo-espaço; seja o mundo
micro atômico ou macro como o movimento das galáxias. Reduzir a vida à física,
reduzir tudo aos átomos estranha o pensamento mais profundo. A vida parece (e
é) muito mais que um amontoado de átomos ou células. O ser transcende órgãos,
carnes e ossos. Sempre que estudiosos e espiritualistas buscam conectar a
ciência com o espiritual, a Academia corre para negar tal conexão. Casos como
as teorias científicas dos princípios Antrópico e do Biocentrismo,
proprietários da ciência estão sempre de plantão para negar o metafísico.
Platão, o melhor filósofo, defendeu o
metafísico e dividiu a realidade em: o mundo sensível e o mundo das ideias. Ele
assegurava que o mundo das ideias era o verdadeiro e eterno mundo. Seu
discípulo Aristóteles também era metafísico, mas concentrou-se no mundo físico.
Por causa destes filósofos, pensadores póstumos dividiram o pensamento em duas
correntes filosóficas que atravessaram os tempos. De um lado, o idealismo e
racionalismo de vertente platônica; doutro lado, realismo e empirismo de
vertente aristotélica. Mas a ciência dominou o conhecimento no século XIX com o
positivismo. O idealismo e racionalismo perderam força para o realismo e
empirismo. Ao lado do pragmatismo e da tecnologia, o positivismo dissolveu o
idealismo e a Metafísica. O existencialismo ateu continuou esse desserviço.
Ainda hoje, a física nega o metafísico.
Fazendo oposição, o pensamento religioso prega um mundo metafísico, mas a
teologia ocidental e oriental é a mesma de milhares de anos atrás e seus dogmas
não permitem evolução. A filosofia virou um adjunto da ciência e também se
afastou da metafísica. Dogmas científicos limitam a filosofia e ela não tem
grandes lampejos. Apesar de Aristóteles também pregar um Deus, um Demiurgo (a
causa primária de tudo) e um mundo metafísico, a ciência adotou dele apenas o
estudo do mundo sensível.
Este ensaio filosófico tem pretensões de
conexão e síntese. Adotará conceitos simples, conhecidos e sem delongas em
conceitos, citações científicas e filosóficas. Também tem pretensões de busca
de verdades eternas, como dizia Platão. Tem pretensões de unificação do
conhecimento. Tem pretensões de buscar o “porquê” dos fenômenos, já que as
ciências só podem dizer o “como” dos fenômenos. Visa uma síntese filosófica não
somente com base em provas e fatos, mas também com base na razão e em
argumentos científicos, filosóficos e teológicos, desde que não contraditórios.
A ideia foi considerar todos os conhecimentos naquilo que são fortes,
desprovidos de contradições. Naquilo que forem contraditórios descartamos pelo
princípio do conjunto probatório como no método policial-judicial.
Nosso sistema filosófico, Existencialismo
Metafísico, é um genuíno sistema filosófico brasileiro e, para além, uma
filosofia inovadora sem igual desde Platão. Ele busca uma síntese sobre as
várias searas de pensamentos. É uma sistematização de todos os sistemas de
pensamento. As principais formas de conhecimento são o religioso, científico,
filosófico, mitológico e artístico. O instrumento religioso para chegar ao
conhecimento é a fé cega em escrituras sagradas; o científico é a experiência
com base em forças cegas; a filosofia, a razão; a arte, as emoções. Cada
sistema tem uma diferenciada abordagem para a mesma realidade. Os vários sistemas de pensamento citados
geram antagonismos diversos, mas o principal é o antagonismo entre a religião e
a ciência. As religiões pregam um mundo espiritual, um mundo além da física, um
mundo metafísico. A ciência nega este mundo. A filosofia acompanha a ciência,
pois tem residência confortável nas universidades junto com a ciência. A arte
também tem endereço na Academia, não tem um pensamento próprio e se diverte com
os outros sistemas de pensamento.
Como qualquer sistema, o EM também tem
objetos em interações lógicas que resultam numa saída, a existência metafisica.
Ele tem objetos para a entrada do sistema: mitologia, religiões, filosofia,
ciência, arte. As interações lógicas entre eles têm como saída a metafisica,
ponto em comum sobre todos eles. É nossa premissa os sistemas de linguagem e
matemática sejam considerados metafísicos. Assim, o pensamento científico
também é metafísico. É nossa premissa ver a realidade do ponto vista sistêmico.
Tudo é sistema. Assim, defenderemos a natureza metafísica e sistêmica da
linguagem, da lógica, da matemática e da vida. Advogaremos os
princípios-valores básicos da existência, da liberdade e do determinismo em
toda a realidade. Por fim, defenderemos a estrutura da realidade com o monismo,
dualismo e pluralismo.
Existencialismo Metafísico é só um nome
filosófico, digamos pomposo, para dizer que a existência da vida e do universo
é metafísica, como gosta a filosofia, ou espiritual como gostam as religiões.
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