14 - Disposições Finais
O volume de informações com a tecnologia cresce exponencialmente. São zilhões de informações que deixam qualquer ser humano perdido. O jornalismo se encarrega das informações efêmeras. Muitos transformam informações em conhecimento com livros e artigos. Poucos transformam conhecimento em sabedoria. Isoladamente, as informações não têm nenhum valor. Processadas dentro de um sistema, as informações viram conhecimento específico. Generalizados os sistemas específicos, o conhecimento se torna sabedoria.
Lamentavelmente, a rotina e os boletos
consomem as pessoas. Elas trabalham o dia todo, chega em casa e tem afazeres
domésticos. Final de semana livre, vão passear no shopping para ver filme, vão
ao futebol e no pagode. Elas vivem uma vida sem reflexão e assim falta-lhe
lucidez para enxergar a realidade. O dia-a-dia do homem é alienante. Em níveis
maiores, o Brasil e o mundo vivem crises sucessivas: econômica, política,
jurídica, humanitária, de segurança, saúde e educação. Externamente, temos
problemas com terrorismo, guerras que promovem imigrações para a Europa. Esta
faz muros e separações ao invés de pontes e uniões, apesar dela ser o berço dos
direitos humanos.
Ideologias como socialismo, capitalismo,
liberalismo não resolvem de forma profunda nossas crises. Tais sistemas são
superficiais e não conseguem conciliar liberdade e igualdade. Viveremos de
crise em crise atrás de soluções superficiais. Somente mudanças profundas de nossos
sistemas de valores e de pensamento mudarão a humanidade para melhor. Somente
uma reflexão profunda sobre as questões existenciais nos trará a verdade e
solução. O mundo parece complexo e sem respostas fáceis para estes impasses.
Ainda que a teoria do tudo física fosse comprovada, ela não explicaria e nem
resolveria as crises mencionadas. Questões como a dor, a justiça, a liberdade,
a desigualdade, a propriedade, a economia, a política não têm solução do ponto
de vista físico e da unicidade de existência.
Podemos sintetizar o conhecimento hodierno
como um embate entre ciência e religião, melhor, uma guerra entre a física e a
Metafísica. A ciência negando a Metafísica e pregando forças cegas. O Nada, o
acaso, a sorte, a coincidência, os acidentes seriam forças cegas que movem a
humanidade. Para nós, isto é efeito sem causa. Por outro lado, as religiões
pregando teologias vencidas e a fé cega. O conhecimento estagnou frente ao
pensamento fragmentado científico e as teologias infantis. A existência do
Criador e da alma não tem como ser “experimentadas” em laboratório. As
religiões ainda possuem muitos adeptos, mas suas teologias tribais não
evoluíram e perderão força.
Estudar a física, ciência mais elementar e
paradigma das outras, não é garantia de sabedoria. Decorar a Bíblia não é
garantia de sabedoria. Ter bibliotecas grandes e ler vários livros não são
garantia de sabedoria. Estudar filosofia e os grandes pensadores não são
garantia de sabedoria. Estudar em universidades, fazer mestrados e doutorados
não são garantia de sabedoria. O homem imerso em uma massa biológica acredita
que a existência se trata de conquistas bens materiais e de poder. Assim, a
felicidade seria ganhar fama, dinheiro e se deleitar com um consumo desenfreado
de bens materiais. Todavia, a tendência atual de estudos afirma que ultrapassar
uma quantidade razoável de recursos de vida não aumenta a felicidade. Filósofos
do passado atribuíam a felicidade a variáveis éticos e espirituais.
Modernamente, a neurociência e psicologia creditam a felicidade, o mundo mental
e emocional à mecanismos bioquímicos. Viva o prozac! Viva a serotonina! Nossa
felicidade é manipular a bioquímica.
A quase totalidade das pessoas passam pela
existência biológica acreditando no paradigma de que a vida é algo biomecânico
no tempo-espaço. A vida é muito mais que uma máquina entre dois nadas. A
sabedoria envolve a busca existencial e o sentido da vida. O que somos e o
nosso propósito é sabedoria existencial, pois procuram entender a realidade
última do cosmo.
Diferentes abordagens existenciais pregam
posições opostas. Uma abordagem holística é mais sensata, pois a realidade é um
grande sistema. Ela vislumbra a vida em sua totalidade como algo além da
bioquímica e busca o sentido da vida. Riqueza e fama não é garantia de
felicidade com a vida sem sentido. O problema é que o sentido muda para as
pessoas e pensadores. Isto fez surgir muitas doutrinas existencialistas. O
absurdismo prega uma vida sem sentido. O existencialismo ateu afirma que nós
que temos de dar sentido a nossas vidas. A igreja medieval vendia a vida eterna
após a morte. Do ponto de vista biológico ou puramente científico, a vida não
tem sentido algum e o ser humano é resultado de processos evolutivos cegos que
atuam sem propósito ou objetivo. Nesta toada, qualquer significado para a vida
é apenas uma ilusão. EM advoga que estamos aqui para evoluir, moralmente e
intelectualmente. Para nós, o sentido da via é a integração, conectar
moralmente com o próximo e intelectualmente com a natureza.
Ao longo da obra, abreviamos várias
abordagens do universo e da vida. As narrativas mitológicas foram o primeiro
pensamento elaborado a enfrentar a questão existencial do universo e da vida.
Mitos descreviam: a criação e o fim do mundo; o surgimento do homem e dos
animais; a interação entre o mundo dos humanos e dos espíritos ou deuses. Em
síntese, a mitologia descreve um mundo metafísico em interação com um mundo
físico. As religiões continuaram este exercício metafísico com uma estrutura
espiritual em interação com os homens. Em síntese, um mundo metafísico em
interação com um mundo físico. As leis sociais, éticas e jurídicas realmente
são abstratas, não existe materialmente, mas interagem metafisicamente. A
direção da existência é do físico para o metafísico, até mesmo o estudo da
física.
A ciência física estuda padrões da matéria
no tempo-espaço. Estes objetos de estudo da física formam a trindade física,
sendo o tempo-espaço linear. A física e a matemática estão intrínsecas. Para
nossa filosofia, a eliminação ou diluição de alguns dos elementos da trindade
física passa a ser metafísica. Neste sentido, a matemática, que não tem
substância e nem tempo-espaço, é metafísica. As leis físicas não existem
materialmente na natureza, pois apenas normatizam o comportamento da matéria.
Newton levou tempo pensando para construir suas leis mecânicas que não estão
escritas pela natureza. Elas precisam de algo abstrato, como a matemática e
leis, para ter validade. Em síntese, a física promove um mundo metafísico em
interação com um mundo físico.
Igualmente a física, a biologia vai
vislumbrar padrões na natureza e elaborar leis. Oriundo da biologia, a lei da
evolução não está escrita na natureza e nem se sabe como a natureza se auto
regulamentou. A consciência humana é algo abstrato, não tem espaço físico
determinado e utiliza algo igualmente abstrato, a linguagem. Igualmente, a
linguagem não tem substância e nem tempo-espaço, porém ela interage com o mundo
material. Em síntese, a vida trata-se um mundo metafísico em interação com um
mundo físico.
Desde a revolução cognitiva, vivemos uma
realidade dual (física e metafísica). Um mundo de realidade objetiva (rios,
arvores, macacos, humanos) e um mundo de realidade falada, enumerada e outra
imaginada (deuses, empresas, nações). Esta realidade imaginada tornou-se
poderosa, pois a realidade dos rios, arvores e macacos dependem de entidades da
realidade imaginada como nações, ong’s, corporações. A nossa realidade é então
um vai e vem entre o mundo físico (macacos, arvores, rios, casa, estradas) e o
mundo metafísico (matemática, linguagem, religiões, deuses, empresas, nações).
Como a linguagem é a capacidade de descrever a realidade com palavras, nosso
conhecimento é um indo e vindo entre matéria e mente.
As várias ciências têm o pensamento
fragmentado. As várias religiões têm o pensamento mitológico e dogmático. As
artes têm o pensamento subjetivo. A humanidade precisa de um pensamento
alternativo. A filosofia deve buscar as forças racionais. O conhecimento parece
um caos e cabe a filosofia demonstrar uma ordem na existência. Cabe a filosofia
o pensamento sintético e unificador. Cabe a filosofia dar ordem ao aparente
caos. Grandes filósofos sempre procuraram a unificação, a sistematização e não
a fragmentação. Spinoza buscava perceber unidade na diversidade, encontrar a
síntese na qual opostos e contradições se encontram e se fundem. Comênio
dedicou grande parte de sua vida a unificação da totalidade do conhecimento
humano. Seu pensamento último era a compreensão universal que uniria toda
humanidade. Esta base filosófica ele denominou pansofia, um princípio
que harmonizasse todo o saber. Pensadores sempre buscaram uma chave para o
conhecimento de todas as coisas, uma teoria para explicar todo o funcionamento do
mundo, uma ciência que abarcasse todo o universo.
Do ponto de vista dinâmico da existência,
temos a inteligência frente a lógica se-então (liberdade x igualdade). De um
ponto de vista estático da existência, temos a estrutura
monismo-dualismo-pluralismo. No pluralismo, as diferenças vão apenas individualizar
as entidades dentro de um todo, sem mexer na essência. As semelhanças vão
unificar o universo. As diferenças vão individualizar o ser, biologicamente
(DNA, íris, digital), socialmente (nome e número), juridicamente (assinatura),
metafisicamente (intelectualmente, no caráter e na personalidade). As
semelhanças são essências e vão colocar o ser dentro de um todo (eu-coletivo),
pois todos têm a mesma origem, mesma natureza, mesma estrutura, mesmo fluxo e
mesmo propósito.
Nosso sistema filosófico, o
Existencialismo Metafísico, é uma alternativa de pensamento sintético e
unificador. Nós usamos a matemática, a
linguagem e lógica para demonstrar uma ordem metafísica, uma interação de sistemas.
A lógica, a linguagem humana e a linguagem
matemática têm a mesma natureza (metafísica), estrutura (pluralismo, dualismo,
monismo), funcionamento (se-então-senão) e propósito (integração): entidades em
interação que passam pelo dualismo para se obter um resultado. Elas são
institutos puramente metafísicos, pois não possuem a trilogia física
matéria-tempo-espaço, mas que podem parear com sistemas biofísicos. Então, nós
temos a matemática aplicada, a lógica aplicada e a linguagem aplicada. Em
síntese, um mundo físico em interação com um mundo metafísico.
Com esta abordagem, nós unificamos e
sintetizamos a realidade e o conhecimento. Apesar de ser uma abordagem simples,
pode parecer complicada em razão pensamento materialista enraizado no senso
comum e principalmente na ciência. Realmente, tudo parece material.
Necessidades básicas como comida, casa, transporte são materiais e nós
dependemos delas. Temos um corpo material que necessita de energia que vem da
matéria. Sendo assim, a matéria é essencial para a vida biológica, mas, muito
mais que um corpo biológico, somos uma entidade metafísica, uma
consciência.
A natureza mais fundamental do universo é
a metafisica, apesar da física ser a mais fundamental das ciências. Em síntese,
toda realidade se trata de um mundo metafísico em interação com um mundo
físico. A metafísica busca a estrutura profunda da realidade: a natureza da
existência, do espaço, do tempo, da causalidade, os fundamentos da realidade em
si. Para a física, a realidade é algo no tempo-espaço, passível de
testabilidade. Para o Existencialismo Metafísico, a realidade é algo fora
matéria-tempo-espaço e ainda não testável, mas inteligível. Em razão da não testabilidade, a ciência
costuma menosprezar a metafisica, porém todo suporte linguístico, matemático e
lógico da ciência é metafísico. Nosso sistema filosófico, sem falsa modéstia,
oferece um pensamento alternativo em desfavor destas forças cegas e da fé cega.
A existência vai do físico para o metafísico. Nossa abordagem diferenciada, vai
em direção de argumentos baseados em conhecimentos da matemática, da lógica e
da linguagem, mas para longe das especulações, retóricas e jogos de linguagem.
Do ponto de vista metafísico, a realidade
é simples e organizada. Temos a teoria de Deus, do amor, da harmonia, da
liberdade, da multiplicidade de existências, do determinismo rumo à integração
plena.
Do ponto de vista da unicidade de
existência, das religiões e da ciência, a realidade é complexa, irracional,
ilógica, desorganizada, caótica. Temos a
teoria da Incerteza, da Sorte, do Acaso, do Caos, da Coincidência e de
acidentes.
A realidade da humanidade é essa: as
pessoas passam pela vida sem saber o que está fazendo aqui, neste mundo físico;
voltam ao mundo metafísico, sem saber onde está, sem saber o que fazer, ou
acreditando que está no céu ou no inferno.
A visão da ciência e das religiões abre
uma lacuna cósmica. Uma única imperfeição abriria espaço para candidatos a um
cargo de um deus absoluto e perfeito. Nosso sistema filosófico reflete uma
imagem cósmica de perfeição absoluta. A vida, a liberdade, a igualdade, a
justiça são valores absolutos do ponto de vista cósmico. Inconscientemente,
vivemos num plano absoluto e perfeito. Conscientemente, vivemos num plano
relativo, de contradições e imperfeito. Cabe ao homem buscar um pensamento para
perfeição do cosmo.
Como advogado, sempre fui pautado pelas
provas e fatos. Face ao princípio da primazia da realidade, diante da
discrepância entre ciência e religião, a preferência deve ser dada ao que
ocorre no terreno dos fatos, da universalidade e da razão. Evidências empíricas
que contrariaram o todo probatório foram descartadas. Assim as contradições,
sejam religiosas ou científicas, foram descartadas. A história nos mostra uma
diversidade de mitologias em todas as épocas e lugares e um universalismo
metafísico frente à variedade de mitos. A matemática, linguagem científica,
também me direciona ao mundo metafísico. A razão e não mais a fé nos direciona
ao metafísico.
Como delegado, enquadro todas as searas do
conhecimento neste sistema. O conjunto probatório deve eliminar contradições,
mesmo sendo evidências científicas. Utilizamos a metodologia da investigação
policial para analisar a realidade. Não esclarecendo as contradições, elas são
descartadas. Ou seja, uma declaração de uma testemunha, ou mesmo uma evidência
empírica, que contradizer o conjunto probatório deve ser descartada. O que vale
é o conjunto da obra, mesmo que evidências empíricas digam o contrário. Como a
negação do mundo metafísico pela ciência, pois ele é universal, existe na
matemática e nos mitos de todos os tempos e de todos os lugares. Isto é fato
público e universal, não necessita de evidências empíricas, indícios, provas.
Forte nestas razões, fica o desafio. A
ciência convencional em base material nunca explicará o que é a vida, a
consciência e os sonhos. Ela nem mesmo nunca explicará como um instrumento
metafísico, a matemática, é tão eficaz para explicar o mundo físico. As
religiões nunca explicarão a questão da dor, do mal e da justiça. Nem mesmo
nunca conseguirão sistematizar uma criação perfeita com base na unicidade de
existência.
A humanidade precisa sair da caverna de
Platão.
Nosso pensamento requer mente aberta para
passar por um processo de desconstrução e, assim, libertarmos daquilo que
pensávamos ser a realidade. A verdade velada pela matéria terá muitos
detratores que matarão e morrerão por ela. A recorrente alegoria da caverna de
Platão dividi a realidade em sombras e luz, em mundo dos sentidos e mundo das
ideias, em o mundo físico e o mundo metafísico. O mundo das sombras, dos
sentidos ou físico seria um mundo da ilusão. Ou como diria o Rauzito, seria um
mundo do Ouro de Tolo.
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